Apesar do percentual elevado de adesão à vacinação contra a Covid-19, profissionais da saúde indígena que trabalham dentro das aldeias Jaguapiru e Bororó, em Dourados, ainda têm dificuldades em alcançar todo o público alvo por causa das ‘fake news’.
A vacinação dentro da reserva, iniciada em 20 de janeiro, já alcançou 61% desse público alvo, que é para pessoas a partir de 18 anos. No entanto, boatos sobre o imunizante ainda circulam em meio a comunidade indígena.
“Temos uma excelente adesão, mas ainda existem muitas pessoas nas aldeias que se negam a receber a vacina porque estão com um pouco de medo. Preferem esperar e ver se alguém vai ter uma reação estranha ou coisa do tipo. Isso acontece principalmente por causa dessas fake news, que infelizmente ainda atrapalham a campanha”, explicou Mariana Euzébio Januário, enfermeira que faz parte da equipe de coordenação técnica do Polo Base de Saúde Indígena.
Algumas das ‘fake news’ que circulam sobre o imunizante contra a Covid-19 envolvem a já conhecida história sobre a vacina transformar pessoas em jacaré, ser uma arma biológica para exterminar a população indígena, transformar em ‘zumbi’, ser usada para implantar um chip para controle mental ou até mesmo promover mudanças de sexo.
“São histórias que correm e que acabam atrapalhando bastante, então temos feito campanhas de conscientização e contado com a ajuda de lideranças para romper essa barreira”, apontou Mariana.
O Dourados News esteve ontem (25) em alguns postos de saúde da reserva. Sérgio Araújo, de 45 anos, aguardava em um posto da aldeia Bororó para receber a segunda dose de Coronavac.
“Eu tenho medo é da doença e não da vacina. A gente vê na cidade muita gente doente e morrendo e fica com medo. É importante sim tomar”, disse o indígena kaiowá. Ele contou ainda para a reportagem que todos de sua família foram imunizados.
Na aldeia Jaguapiru, encontramos Reginaldo Ortiz, de 27 anos. Ele, que também aguardava para receber a segunda dose da vacina, contou que o filho o alertou sobre ‘virar zumbi’.
“Quando eu disse que estava vindo no posto para tomar a vacina ele disse para eu tomar cuidado para não virar zumbi. Eu dei risada. Ainda acontecem essas conversas aqui na aldeia, mas a gente tem que ter medo da doença. Não tem nada a ver essas histórias”, ressaltou Ortiz.
A prioridade para o recebimento de doses de vacina também é um fator que acabou gerando desconfiança na comunidade. Das 14.894 doses de Coronavac recebidas pela Secretaria Municipal de Saúde em 19 de janeiro, 11.600 foram destinadas à população indígena.
A estimativa é de que a cobertura vacinal nas aldeias Jaguapiru e Bororó alcance um total de 10.382 pessoas. Até ontem (25), 6.636 indígenas tinham sido vacinados, conforme dados do Polo Base de Saúde Indígena de Dourados.
Fonte: Dourados News
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