Batman: Ranking do pior ao melhor filme do herói
Agora que The Batman finalmente chegou aos cinemas, os fãs podem voltar ao seu passatempo favorito e comparar filmes de épocas e contextos diferentes na tentativa de definir qual é a melhor encarnação do herói de todos os tempos no cinema.
Essa era uma discussão que sempre dividiu o público e que apenas se acirrou com a estreia do novo filme. Afinal, praticamente todo mundo duvidou do potencial de Robert Pattinson como o Homem-Morcego e ele entregou uma versão muito diferente e interessante do personagem, mas sem abrir mão da fidelidade com os quadrinhos.
Só que essa é apenas uma peça dentro desse quebra-cabeça. E como fica o resto? Agora que Matt Reeves entregou sua interpretação do herói, qual o melhor filme do Batman? E qual a melhor história envolvendo o Cavaleiro das Trevas de Gotham? O ranking do Canaltech lista os filmes do herói, do pior ao melhor.
Falar mal de Batman & Robin já é um consenso entre os fãs do herói. E não só porque essa é a famigerada versão do personagem estrelada por George Clooney em que o uniforme tem mamilos ou que há a icônica cena do batcartão de crédito, mas porque o longa é tão ruim que praticamente enterrou as adaptações de quadrinhos por um tempo.
A ideia do diretor Joel Schumacher era até simpática: fazer uma homenagem ao clássico seriado dos anos 1960 e carregar uma boa dose de humor e inocência à trama. O problema é que a proposta não se sustenta na prática e todo esse bom humor se perde no ridículo.
O Senhor Frio vivido por Arnold Schwarzenegger é lamentável, a Hera Venenosa de Uma Thurman é um desperdício e há até um Bane que seria cômico se não fosse trágico. De quebra, há um monte de soluções bastante infantis que não fazem jus à série clássica e tampouco conseguem entregar o mínimo de diversão.
Se Batman & Robin era uma tragédia anunciada foi porque Batman Eternamente já mostrava o quanto essa abordagem mais boba não funciona para o personagem nos cinemas. O primeiro filme de Joel Schumacher à frente do Homem-Morcego já tinha dado sinais bem claros de que o diretor tinha uma visão pouco ortodoxa do Cavaleiro das Trevas.
Isso fica bem óbvio nos vilões. Não bastou trazer Jim Carrey para viver o Charada, foi preciso colocar uma lycra verde limão e deixar o ator famoso por sua comédia corporal solto para fazer caras e bocas como se isso fizesse algum sentido. É algo que fica tão fora do tom que até o Duas-Caras de Tommy Lee Jones acaba sendo descaracterizado e virando algo pastelão.
A influência da série de 1966 é mais uma vez bem presente por aqui, principalmente ao trazer o Robin para ser esse ajudante-mirim — embora seja um marmanjo na casa dos 30 anos.
Depois de seis anos, Batman vs. Superman: A Origem da Justiça ainda é um filme que divide a opinião dos fãs. Há quem defenda o longa e o legado de Zack Snyder na DC, enquanto há uma boa parcela dos fãs que até hoje reclama do que foi feito no filme.
A verdade é que o primeiro encontro entre os dois maiores heróis de todos os tempos realmente ficou bem abaixo do que poderia ser — muito por causa de uma tentativa de construção de mundo apressada e que fez com que o universo e seus personagens ficassem todos desconjuntados. Exemplo disso é que temos um Batman que não é nada heróico, mas cuja tentativa de fazê-lo ser alguém amargurado também não funciona.
Visualmente, o uniforme de Ben Affleck é muito bom e difere do aspecto militar que os outros atores adotam. Contudo, toda a trama é muito fraquinha, trazendo um herói que sempre foi conhecido por sua inteligência ser enganado por um plano bobo de um Lex Luthor infantilóide.
Isso que nem vamos entrar no mérito da cena da Martha, que virou piada a partir de então.
O fechamento da trilogia de Christopher Nolan é o filme mais fraco de toda a sua passagem pelo universo do Homem-Morcego, mas ainda tem seus méritos.
Bane (Tom Hardy) se revela um vilão bastante interessante e que consegue se opor muito bem ao herói, assim como a própria história de Talia Al Ghul (Marion Cotillard) tem seus pontos altos. E vamos combinar que temos uma Mulher-Gato de peso com Anne Hathaway.
O grande ponto aqui é que temos uma ameaça que realmente é capaz de neutralizar o Batman. Temos um protagonista que se torna impotente e incapaz de responder à altura, mostrando o quanto ele é humano, falho e limitado — uma percepção que faz com que ele tenha a evolução necessária não só para derrotar os vilões, mas para ressignificar o que é ser o Batman.
O grande problema de O Cavaleiro das Trevas Ressurge é que nenhuma das soluções pensadas é bem trabalhada e o longa termina com tudo sendo jogado às pressas, de explicações e reviravoltas até direção e interpretação. A impressão que fica é que tanto Nolan quanto o elenco ficaram de saco cheio no final e todo mundo fez o trabalho de má vontade para voltar logo para casa. A morte de Talia é o maior exemplo disso.
O segundo Batman dirigido por Tim Burton também é o filme que mais tem a cara do cineasta. Toda a estética gótica que ele tinha colocado em seu primeiro longa se torna ainda mais evidente por aqui e temos experimentações que fazem de Batman: O Retorno um filme que flerta muito com o terror.
Não é nada que dê sustos, mas são takes e cenas bem mais sombrias do que a gente espera de um filme de herói, com direito a um Pinguim (Danny DeVito) bastante grotesco, mortes medonhas e uma Gotham de dar medo.
Ainda assim, todo o clima heróico e fantasioso que marcava os filmes de gibi no início dos anos 1990 está presente. Não por acaso, Batman: O Retorno tem algumas cenas que são icônicas até hoje, como a introdução da Mulher-Gato e os pinguins que moravam no esgoto da cidade para fazer companhia ao vilão. A cena do velório, inclusive, segue memorável.
Apesar de Christopher Nolan ter virado as costas para os quadrinhos em sua adaptação do Batman, não há como negar que ele acertou muito a mão em Batman Begins. Seguindo o seu estilo extremamente didático de apresentar a história, ele mostra toda a origem do herói e como ele se transformou nesse maluco vestido de morcego.
A versão de Christian Bale não é a mais carismática dos cinemas, mas funciona muito bem como esse bilionário obcecado em se tornar um ninja para vingar a morte de seus pais. E todas as justificativas dadas para mostrar como o uniforme foi criado, a construção do Batmóvel e de toda a tecnologia é algo que faz muito sentido e que se encaixa muito bem depois de um período fantasioso demais para o personagem.
Além disso, Batman Begins se destaca por trazer dois vilões até então inéditos e que funcionam demais na proposta. De um lado, o Espantalho finalmente ganha os holofotes que merece; do outro, um Ra’s Al’Ghul que costura todas as explicações desse Batman mais realista.
Por incrível que pareça, a animação de LEGO inspirada no Batman é uma das melhores coisas já feitas para o personagem no cinema. Com um jeito totalmente sarcástico e exagerado, o longa explora toda a psiquê perturbada do personagem e sua relação com seus vilões de forma que nenhum outro filme conseguiu fazer antes.
É claro que o tom de comédia predomina por aqui, mas ela funciona muito melhor do que em Batman & Robin, por exemplo. Isso porque, ao mesmo tempo em que faz piada com o jeito meio babaca do Batman na hora de tratar o jovem Robin, isso é muito bem contextualizado para mostrar por que o herói é desse jeito.
Além disso, toda a sua dinâmica com o Coringa é algo que funciona muito bem por levantar a questão sobre o fato de os dois serem igualmente loucos e que a insanidade de um atrai o outro.
Há quem torça o nariz para o Batman de 1989, mas a verdade é que o filme de Tim Burton é realmente um clássico. E não apenas por ter aberto as portas para mais adaptações de quadrinhos diante de seu sucesso estrondoso, mas por ter definido toda uma nova estética de super-heróis que foi para além do cinema.
Essa abordagem mais gótica e sombria fez os quadrinhos adotarem esse estilo e, consequentemente, as animações e outras produções trilharam o mesmo caminho. Basicamente, é o primeiro Batman que nos trouxe até aqui — e vai nos levar ao futuro, já que todos esses elementos vão ser referenciados também em The Flash. Isso sem falar que temos um Coringa maravilhosamente vivido por Jack Nicholson.
Esse é um filme tão marcante que praticamente tudo o que foi apresentado se tornou icônico. O Batmóvel enorme que mais parece uma banheira surge aqui, assim como o uniforme com o símbolo amarelo no peito — que segue sendo uma das coisas mais charmosas envolvendo o herói até hoje.
Aliás, a ideia de transformar o traje em um uniforme surge em Batman muito por causa de Michael Keaton. Com 1,75m, o ator era considerado baixo para viver o Homem-Morcego e a solução encontrada foi fazer um traje que o deixasse mais alto e desse essa impressão de imponência.
O problema é que, para isso, o pescoço da roupa era rígido e ele não conseguia olhar para os lados, o que forçava o ator a girar o corpo todo — uma movimentação que também passou a ser replicada posteriormente.
O Cavaleiro das Trevas é até hoje lembrado e elogiado por uma razão bem específica: o Coringa. Vindo do mundo das comédias românticas, Heath Ledger foi duramente criticado quando foi escalado para viver o vilão, mas entregou uma interpretação tão insana e visceral que todo mundo ficou sem palavras quando o viu na tela. E a tragédia que o acompanhou apenas deixou tudo isso ainda mais pesado.
Só que Batman: O Cavaleiro das Trevas vai para muito além de seu vilão. Toda a história do palhaço tentando provar que Gotham é tão louca quanto ele e que basta um único momento de tensão para que o juízo se perca é algo que ainda tem um impacto muito forte e que, de certa forma, influencia o Charada de The Batman.
Isso fica claro principalmente na figura de Harvey Dent (Aaron Eckhart), o valoroso promotor que perde tudo por causa do criminoso e acaba provando a teoria de que até a mais pura alma pode se corromper diante da loucura. E é muito bem ver como o longa usa isso para espelhar Gotham e o próprio Batman.
Dizer que The Batman é o melhor filme do personagem não é apenas empolgação de quem acabou de sair do cinema. O filme de Matt Reeves é realmente tudo isso o que vem sendo dito, entregando tanto uma excelente adaptação de quadrinhos quanto um filme realmente cabeçudo e com muito valor cinematográfico.
Tanto que é realmente muito difícil achar pontos negativos na estrutura. Seu enredo funciona, os atores estão ótimos, a discussão apresentada é incrível, a trilha sonora é marcante e toda a fotografia é de cair o queixo. Não se trata apenas de um bom filme do Batman, mas um filme incrível como um todo.
Para isso, Reeves se preocupa muito mais em fazer um filme policial que, por um acaso, tem um maluco vestido de morcego no meio de tudo. A partir disso, ele levanta toda a discussão sobre o que é ser um herói e o peso que esses símbolos têm dentro do imaginário das pessoas — principalmente aqueles que a gente não espera.
Fonte: Canaltech
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