Como o cérebro se reinicia para sair do sono profundo da anestesia?
Reiniciar um computador e o celular costuma levar um tempo. Se for uma nova atualização do sistema, o processo é ainda mais lento. Além das máquinas, em algumas circunstâncias, o cérebro humano também precisa ser reiniciado. Isso acontece, principalmente, quando a pessoa é anestesiada e acorda de um sono (ou coma) profundo.
Para entender como o cérebro se reinicia, um grupo de pesquisadores e anestesiologistas da Universidade de Michigan e da Escola de Medicina da Universidade de Washington, ambas nos Estados Unidos, investigou este processo. Os resultados do estudo foram publicados na revista científica eLife.
A principal ideia era entender se, após um período de inconsciência, o sistema nervoso seria religado de uma única uma vez ou se as áreas e funções voltariam a funcionar de forma gradual. A conclusão, segundo os autores do estudo, é que algumas áreas retomam suas atividades primeiro, como a parte frontal do cérebro.
“A anestesia é um estado de inconsciência reversível e controlada”, explicam os cientistas norte-americanos. De forma geral, permite que inúmeros procedimentos médicos sejam realizados com relativa segurança e impede que os pacientes sintam dores.
No entanto, a anestesia também pode funcionar como “uma ferramenta para os cientistas estudarem como o cérebro recupera a consciência após interrupções como sono, coma ou procedimentos médicos que exigem anestesia geral”, detalham.
“Ainda não está claro como exatamente o cérebro recupera a consciência e, menos ainda, o porquê de alguns pacientes não se recuperam normalmente após a anestesia geral ou não conseguem se recuperar de uma lesão cerebral”, alertam os autores. Parte dessas respostas começam a ser descobertas pela ciência, como o estudo aponta.
Para compreender como o cérebro reinicia suas atividades, a equipe de pesquisadores estudou os padrões de consciência emergente e da função cognitiva em 30 adultos saudáveis submetidos à anestesia geral por três horas.
Enquanto os voluntários estavam sob anestesia, a atividade cerebral era medida através de um exame de eletroencefalografia (EEG). Além disso, a atividade de sono-vigília foi medida antes e depois do experimento.
Estes participantes também passaram por uma bateria de testes cognitivos que mediam a velocidade de reação, memória e outras funções antes de receber a anestesia, logo após o retorno da consciência e depois, a cada 30 minutos.
Para comparar os resultados obtidos no pós-anestesia, a equipe de cientistas também incluiu um grupo controle de outros 30 voluntários. Eles não passaram pelo procedimento, mas tiveram a atividade cerebral acompanhada durante o estudo.
Segundo os autores, “os experimentos confirmam que a parte frontal do cérebro, que lida com o pensamento e a tomada de decisões, estava especialmente ativa na época da recuperação”, contam. Este comportamento faz sentido a partir de uma perspectiva evolutiva. Isso porque “o sono deixa os indivíduos vulneráveis. Habilidades de avaliação rápida e tomada de decisão seriam fundamentais para responder a uma ameaça ao acordar”, sugerem os pesquisadores.
Além disso, a capacidade de resolução de problemas abstratos é retomada no início do processo de retomada do cérebro. A partir das descobertas, a equipe aponta que terapias direcionadas para a parte frontal do cérebro “podem ajudar as pessoas que perdem a consciência após uma lesão cerebral ou têm dificuldade em acordar após a anestesia”. Agora, mais estudos devem investigar alternativas para auxiliar pessoas que têm distúrbios de cognição.
Fonte: eLife
Fonte: Canaltech
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