Real digital: quais são os desafios da CBDC para os bancos e consumidores?
Nos próximos anos, o Brasil entrará no que os especialistas chamam de ‘nova era do dinheiro’. A chegada do Real digital sob os cuidados do Banco Central (BC) prevista para 2024 e o cenário de mudança nas finanças dos brasileiros fizeram parte do painel da conferência Open Finance nesta quinta-feira (24).
O evento contou com a presença de três especialistas no setor financeiro: Bruno Loiola, Chief Growth Officer da Pluggy, Luiz Nugnes, Open Finance Innovation da TecBan e Paloma Sevilha, Head of Business da Bitrust Custody.
Na prática, o brasileiro terá a sua própria moeda digital no formato de CBCD (sigla em inglês para Central Bank Digital Currency, ou moeda digital do banco central). Como o nome indica, se trata de uma versão virtual da moeda de um país usada para fazer tudo o que o dinheiro normal faz, como compras, reserva financeira e diversos outros fins.
Aproveitando que as criptomoedas estão em alta, outra proposta da moeda, que será emitida a princípio pelo próprio Banco Central, é oferecer mais segurança aos usuários, sem correr os riscos de investir em ativos mais voláteis como o Bitcoin, por exemplo.
Bruno abriu o evento indicando que alguns países já adotaram com sucesso o dinheiro em formato digital, talvez o principal exemplo atual seja a China com o yuan digital, uma das moedas mais utilizadas ao longo das olimpíadas de inverno do país pelos atletas e turistas.
Para o especialista, o BC ainda está na fase de estudos sobre diferentes formas de adotar o Real digital no varejo e atacado, por exemplo.
No varejo, a ideia é que a moeda funcione como uma extensão do dinheiro tradicional, com a única diferença que será distribuído em formato digital. Vale ressaltar ainda que ainda não foi definido se outras instituições além do BC poderão emitir a CBDC ou não.
Paloma, da Bitrust, também ressaltou que em meio ao “mundo cripto” que vivemos hoje, a ideia do uso da tecnologia e dos ativos digitais como dinheiro é algo que deve ganhar formatos cada vez mais práticos para o grande público com o passar do tempo.
Enquanto Luiz, da Tecban, aponta que os bancos tradicionais já começam a olhar as moedas digitais com outros olhos. Fatos que somados devem auxiliar no desenrolar do processo de criação e adoção da CBDC brasileira.
No painel, os especialistas aproveitaram para separar três conceitos que podem bagunçar a cabeça dos mais leigos.
A princípio, as criptomoedas são moedas digitais com emissão e transações controladas baseadas em tecnologias de criptografia, daí o nome. Esses ativos funcionam por meios de redes como a blockchain e sua principal desvantagem frente às stablecoins e uma CBDC é a volatilidade, algo que é notícia constante aqui no Olhar Digital.
Já as stablecoins, são moedas digitais cuja emissão é regulada e seu valor é lastreado com uma determinada moeda fiduciária de um país, como o dólar americano ou o real. Sua vantagem é o valor ser sempre pareado com o de moedas conhecidas no mercado, resolvendo a questão da volatilidade acentuada citada antes.
Por fim, a CBDC, moedas virtuais emitidas por banco centrais, trazem as vantagens das stablecoins e como contam com o suporte do BC, sua aceitação por parte das pessoas também é mais fácil que as demais.
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Para os especialistas, o ponto intermediário entre a CBDC e o público é um dos pontos de discussão mais importantes do momento. Qual será o papel da Casa da Moeda neste novo modelo de negócio financeiro? Nada disso ainda foi definido.
Bruno aponta que a ideia do BC é “pensar em desintermediação”, ou seja, em menos instituições no meio do caminho. “Esta é uma oportunidade dos bancos assumirem outro papel na sociedade com o dinheiro sem papel”, avaliou.
Quem vai determinar se as transações serão feitas em redes públicas, como ocorre com o Bitcoin, é o Banco Central. A expectativa é que o BC supervisione as operações para conter a prática de crimes como fraude e lavagem de dinheiro.
É possível ainda que sejam adotados limites para transações anônimas, por exemplo, sugeriu Paloma. O tema deve ser decidido nos próximos meses, o que se sabe até aqui é que o BC pretende regular o processo e a distribuição da CBDC.
No fim, como ainda faltam cerca de dois anos para a novidade literalmente sair do papel, ainda é cedo para cravar os impactos nos diversos casos de uso do Real digital, finalizam os especialistas.
Por fim, sobre pagamentos offline, a norma é que o dinheiro físico continue cumprindo o seu papel na sociedade. Os membros do painel concordaram que em um país de dimensões continentais como o Brasil, ainda levará tempo até que cidades pequenas se adéquem ao uso da CBDC, já que em alguns locais ainda não é comum nem a presença das famosas maquininhas de cartão.
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Fonte: Olhar Digital
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