Astrônomo amador brasileiro participa de importante descoberta astronômica
Imagine a sensação que teve Galileu Galilei ao ver, pela primeira vez, os anéis de Saturno e as luas de Júpiter. Ou a satisfação de Johann Galle, ao observar, também pela primeira vez, o planeta Netuno, no local onde Urbain Le Verrier havia previsto que ele estaria. Possivelmente foi uma sensação muito parecida com a que teve o astrônomo amador brasileiro Maicon Germiniani. Em 2020, ele participou da descoberta de uma nebulosa ainda não catalogada. Mais do que isso, os estudos realizados nessa nebulosa mostram que ela é diferente de todas as outras conhecidas, algo que pode revolucionar nosso conhecimento sobre a evolução estelar.
Tudo começou no final de 2019, quando os astrônomos amadores Marcel Drechsler, da Alemanha e Xavier Strottner, da França, procuravam por nebulosas planetárias em imagens antigas do SuperCOSMOS Sky Survey. Em uma das imagens, Drechsler e Strottner encontraram algo que parecia uma nebulosa planetária em torno da estrela YY Hya, na Constelação da Hidra.
Como a Hidra é uma constelação melhor observada do Hemisfério Sul do planeta, Drechsler resolveu contactar Maicon Germiniani, um amigo brasileiro que poderia fazer imagens para confirmar a natureza do objeto.
Germiniani, que é astrônomo amador com grande experiência em astrofotografia, topou o desafio e conseguiu uma imagem de 22 horas de exposição daquela área do céu. As imagens captadas pelo brasileiro, não só confirmaram a existência da nebulosa, como também deram as primeiras pistas de que aquele objeto era algo incomum.
Uma nebulosa planetária é uma nuvem de plasma e gás ionizado, expulsa de uma estrela na fase final de sua vida. Esse era o tipo de objeto astronômico que esperavam encontrar ao redor da YY Hya. Entretanto, aquela nebulosa parecia ser predominantemente composta de hidrogênio, ao contrário do que é esperado em outras nebulosas planetárias.
Para estudar esse objeto incomum, uma equipe de pesquisadores foi criada e novas imagens foram coletadas através de observatórios no Chile. Os astrônomos também cruzaram suas informações com as de outras missões espaciais como o GALEX, e descobriram que a estrela YY Hya, na verdade, é um sistema binário.
Segundo o artigo publicado recentemente na Astronomy and Astrophisics, os pesquisadores afirmam que YY Hya é um sistema binário compacto, composto por uma anã laranja, com cerca de meia massa solar, e uma anã branca que deveria ter entre 3 e 4 massas solares, tendo lançado no espaço cerca de uma massa solar de matéria estelar, o que formou a nebulosa registrada ao redor do sistema.
Mas esse sistema é tão compacto que a atmosfera expandida da estrela que gerou a anã branca acabou envolvendo também sua companheira. É como se fosse uma única estrela com dois núcleos. Esse tipo de sistema é chamado de variável pré-cataclísmica ou binária pós-envelope comum. Já foram detectados outros sistemas semelhantes, mas nunca um com uma nebulosa totalmente formada à sua volta, como a que foi registrada por Germiniani.
Enquanto o diâmetro desse envelope de gás teria cerca de 100 diâmetros solares (algo equivalente à distância entre o Sol e a Terra), a nebulosa principal que envolve o sistema tem cerca de 15,6 anos-luz de diâmetro. Além disso, outros fragmentos nebulares foram encontrados a 39 anos-luz de distância, a nordeste e a sudoeste de YY Hya, sugerindo que o sistema teve um intenso fluxo bipolar de material.
É uma nebulosa muito grande, principalmente se considerada sua idade, estimada entre 520 e 600 mil anos. Os astrônomos acreditam que isso só foi possível porque YY Hya está ligeiramente acima da Via Láctea, em um ambiente de menor concentração de estrelas e de outras estruturas que poderiam interferir gravitacionalmente na evolução da nebulosa.
Maicon Germiniani tem 38 anos e é administrador na cidade de Serra Alta, em Santa Catarina. Pratica astrofotografia desde 2015, mas sua paixão pelo espaço vem desde criança, quando observava o céu sem poluição luminosa da zona rural onde nasceu.
Ele conta que se interessou pela astrofotografia a partir de imagens publicadas por astrofotógrafos em redes sociais. Aos poucos ele foi comprando equipamentos e aprendendo a fazer as imagens do céu.
A prática da astrofotografia levou Germiniani a conhecer outros astrofotógrafos no Brasil e no mundo. Um dos amigos internacionais que acabou fazendo nesse período foi o alemão Marcel Drechsler. E foi justamente através de Drechsler que Germiniani foi convidado a participar da pesquisa.
E o envolvimento do brasileiro na pesquisa foi fundamental. Com uma técnica apurada, Maicon Germiniani conseguiu uma imagem fantástica, empilhando 22 horas de exposição daquela parte do céu. Essa exposição foi essencial para percepção dessa nebulosa, que é um objeto muito tênue e que não apareceria em outras condições.
Germiniani diz que se sente orgulhoso de ter participado dessa pesquisa. “Ainda mais por ser do Brasil, onde temos todo tipo de dificuldades para se fazer esse tipo de pesquisa. A começar pela compra de equipamentos, bem caros, mas acabamos tirando do próprio bolso”, diz o astrônomo, que complementa enfatizando que participar de uma descoberta como essa faz tudo valer a pena.
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Fonte: Olhar Digital
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