Lançado no natal de 2022, o Telescópio Espacial James Webb (JWST) não só já está devidamente instalado em sua morada no espaço, no Segundo Ponto de Lagrange (L2) entre a Terra e o Sol, a 1,5 milhão de quilômetros (km) daqui, como também já está em vias de começar suas observações científicas.
No ano passado, o tão aguardado observatório de luz infravermelha que promete revolucionar a astronomia esteve envolvido em uma polêmica referente ao seu nome, já que ele faz referência a uma figura controversa da história da agência espacial norte-americana e dos EUA.
Para quem não se lembra ou não teve conhecimento do assunto, noticiado pelo Olhar Digital em outubro, mesmo após apelo da opinião pública, de diversos astrônomos e até de funcionários para que o nome do telescópio fosse trocado, a NASA decidiu manter a homenagem ao seu ex-administrador James Webb. Pesam sobre ele acusações de ter cometido crime de homofobia.
No entanto, parece que a decisão ainda pode ser revertida, mesmo com o telescópio já em funcionamento, na fase final de seu período de comissionamento, prontinho para começar a trabalhar.
Segundo o site Space.com, a NASA ainda não terminou suas investigações sobre a carreira do ex-gestor, que foi o segundo administrador da agência. Entre 1961 e 1968, ele supervisionou o programa Apollo que pousou humanos na Lua e defendeu a agenda científica da NASA, sendo essa a motivação citada em 2002, quando o então administrador Sean O’Keefe decidiu nomear o que estava sendo chamado de Telescópio Espacial de Próxima Geração em homenagem a Webb.
Os pedidos para que o projeto fosse renomeado foram inúmeros, baseados em avaliações de que, durante o tempo de Webb no governo federal, ele alimentou a discriminação contra pessoas LGBTQIA+, em uma operação que foi apelidada de Pânico Lavanda. Ele também é acusado de ter permitido que a segurança da agência espacial americana interrogasse funcionários no passado por serem homossexuais.
Diante dos protestos, a NASA abriu uma investigação e, ao anunciar a decisão de manter o nome, o atual administrador da agência, Bill Nelson, foi acusado de ter sido superficial nas justificativas, o que, até hoje, não foi aceito pelos críticos.
“A declaração do administrador foi que, naquela época, não havia nenhuma evidência que nos levasse a mudar o nome”, disse Paul Hertz, chefe da divisão de astrofísica da NASA, em uma reunião do Comitê Consultivo de Astrofísica na quarta-feira (30). “A pesquisa não foi concluída, e nós não pretendemos insinuar que tenha sido”.
Hertz também reconheceu que a controvérsia complicou a excitação dos cientistas pelas observações que o telescópio de alta potência fornecerá. “Eu sei que a decisão que a NASA tomou é dolorosa para alguns, e parece errada para muitos de nós”, disse ele.
Brian Odom, historiador-chefe interino da NASA, que também estava na reunião, vai neste mês até a Biblioteca Presidencial Harry S. Truman, que fica em Independence, no estado americano do Missouri, para analisar documentos da época de Webb como subsecretário de Estado de Truman, de 1949 a 1952, época que ocorreu o Pânico Lavanda. Essa operação foi uma perseguição de funcionários federais LGBTQIA+ que resultou em milhares de pessoas sendo demitidas ou forçadas a renunciar, de acordo com um artigo publicado pela Administração de Arquivos e Registros Nacionais.
“A liderança da NASA levou muito a sério a investigação sobre se o Telescópio Espacial James Webb deve ou não ser renomeado”, disse Hertz. “Reconhecemos que durante décadas a discriminação contra funcionários federais LGBTQIA+ não foi meramente tolerada, foi vergonhosamente promovida por políticas federais”.
Em questão está o papel de Webb nessas políticas. “Vou lá mergulhar nos registros”, disse Odom, tentando “recriar o contexto” dessas ações. “Quando Webb chega ao Departamento de Estado, qual é a atividade que já começou nesta sala? Qual é a reação do Webb a isso? Nós o vemos reagindo a isso? Há evidências em que Webb diz: ‘O que você está fazendo é correto’, [ou] ‘O que você está fazendo é errado’?”.
Além da viagem de pesquisa de Odom, a agência contratou um empreiteiro externo para passar por registros semelhantes mantidos pela Administração de Arquivos e Registros Nacionais. “O empreiteiro já esteve na instalação várias vezes e ainda está trabalhando, e Odom pode visitar também”, disse ele. “Há registros lá que realmente queremos entrar, e é por isso que estamos passando muito tempo lá”.
Ambas as instalações foram fechadas para pesquisadores em setembro devido à pandemia de Covid-19, mas já foram reabertas.
A reunião de quarta-feira ocorreu poucos dias depois que quase 400 páginas de documentos internos da NASA vieram a público. Os documentos, obtidos através de uma solicitação de registros públicos pela Nature, incluíam principalmente e-mails de e para funcionários, oferecendo uma visão das conversas que se desenrolavam sobre o legado de Webb.
Hertz e Odom enfatizaram que os resultados da pesquisa serão públicos, em contraste com as ações da agência em setembro passado, quando a NASA se recusou a compartilhar quaisquer documentos históricos consultados durante sua investigação sobre Webb.
“Vamos garantir que as pessoas saibam as evidências que tivemos na nossa frente enquanto fazemos essa investigação”, disse Odom. “Esse é o plano para agora; tem sido o meu plano desde o início para fazer isso”.
Ele sugeriu que, até o final de abril, espera ter uma noção clara dos registros de arquivamento para saber se eles se encaixam na posição que a agência manteve até agora. Quando as evidências serão compartilhadas publicamente dependerá do que precisamente os pesquisadores encontrarem. “Se descobrirmos novas evidências, isso realmente muda a linha do tempo”, disse ele.
Hertz enfatizou que a autoridade para reter ou revisar o nome do Telescópio Espacial James Webb permanece exclusivamente de Nelson. “A nomeação do telescópio é prerrogativa do administrador”, disse ele ao comitê.
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Fonte: Olhar Digital
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