Está programado para a próxima sexta-feira (8), às 12h17 pelo horário de Brasília, o lançamento da primeira missão totalmente privada à Estação Espacial Internacional (ISS), sem a presença de nenhum oficial da ativa de qualquer agência espacial federal. Um foguete Falcon 9, da SpaceX, levará quatro tripulantes da Axiom Space ao laboratório orbital, na missão batizada de Ax-1.

E por que essa missão é tão importante a ponto de ser considerada um divisor de águas na história dos voos espaciais?

Primeiro, vale destacar que, ao contrário dos curtos passeios de Richard Branson, da Virgin Galactic, e Jeff Bezos, da Blue Origin, que alcançaram, no máximo, por volta de 107 km de altitude (sendo que o da Virgin não chegou nem a 100 km), o voo da Axiom vai atingir a altitude de aproximadamente 400 km necessária para atracar com a ISS.

Quem são os tripulantes da missão Ax-1?

Três clientes pagantes mais um funcionário da Axiom vão viajar a bordo da cápsula Crew Dragon Endeavour, nessa missão que tem previsão de durar 10 dias (sendo oito de estadia na ISS) e faz parte de um plano da empresa para construir sua própria estação espacial.

Da esquerda para a direita: Larry Connor, Michael López-Alegria, Mark Pathy e Eytan Stibbe, os tripulantes da missão Ax-1, da Axiom Space. Imagem: Axiom Space/Divulgação

Entre os tripulantes, estará o ex-astronauta da NASA e atual funcionário da Axiom Michael López-Alegría, como comandante, o magnata imobiliário e piloto acrobático Larry Connor, como piloto, além do empresário de música e sustentabilidade Mark Pathy e do investidor e ex-piloto da Força Aérea de Israel Eytan Stibbe, como especialistas em missão. 

Por executarem funções durante a missão, eles podem ser chamados de astronautas, ao contrário daqueles que vão exclusivamente a passeio – que são considerados somente turistas espaciais.

Enquanto a NASA está financiando alguns dos custos, os três clientes pagantes estão contribuindo com, supostamente, US$55 milhões cada (algo em torno de R$260 milhões). Eles experimentarão a sensação de flutuar em microgravidade durante a maior parte do tempo e vão encarar os mesmos perigos enfrentados por todos os astronautas, incluindo exposição à radiação, degradação muscular e potencialmente alguma perda óssea – ainda que em baixa proporção devido ao pouco tempo em órbita.

Astronautas da missão Ax-1 vão realizar experimentos científicos na ISS

Ao contrário das viagens americanas costumeiras para a ISS, o controle da missão não será feito na NASA, e sim na sede da Axiom, que também fica em Houston. Será a primeira vez que o MCC-A (Centro de Controle de Missão – Axiom) será usado para uma missão completa. Antes disso, ele já foi usado para pesquisas que analisam como os itens da ISS mudam ao longo do tempo. Isso resultou em sua validação como um local de operações de carga pela NASA.

Durante seu tempo na ISS, os astronautas da Axiom Space planejam realizar pesquisas científicas, analisando como as viagens espaciais afetarão a saúde dos futuros astronautas — incluindo efeitos na visão, dor e sono. Um dos experimentos envolve o uso de um capacete de varredura do cérebro. Também estão planejados testes sobre a cultura de alimentos no espaço.

O capacete que monitora as funções cerebrais desenvolvido pela startup Brain.Space será um dos experimentos científicos da tripulação da missão Ax-1. Imagem: Brain.Space

Axiom pretende construir sua própria estação espacial

A missão Ax-1 é o primeiro passo da Axiom Space rumo à construção da primeira estação espacial privada, o que, por si só, já é algo muito grandioso. A própria ISS teve que ser construída por partes em Terra, depois enviada para ser concluída no espaço, já que a massa total de uma estação espacial de 420 toneladas simplesmente não é viável para se lançar completa ao espaço. Para efeito de comparação, isso é o mesmo que lançar 70 telescópios espaciais James Webb de uma só vez.

Ilustração artística da estação espacial que a empresa Axiom Space, com sede em Houston, planeja construir na órbita da Terra. (Crédito da imagem: Espaço Axiom)

O plano da Axiom é construir a estação espacial a bordo da ISS, inicialmente construindo um módulo de habitação (Axiom Hub One), que está previsto para ser lançado em 2024. Uma vez operacional, esse módulo receberá outros, à medida que houver disponibilidade financeira. Para se ter uma ideia, levou mais de dez anos e 30 lançamentos para terminar a ISS.

Com a desativação da ISS prevista para algum momento após 2030, haverá a necessidade de uma estação espacial pública e internacional. No entanto, como um laboratório orbital custa muito para ser mantido, a NASA e a ESA devem pagar, pelo menos provisoriamente, uma taxa de aluguel para usar as instalações de uma estação espacial privada.

Muitas empresas privadas estarão de olho na missão Ax-1 para tomar uma decisão sobre se devem prosseguir com seus próprios programas. O sucesso significaria a possibilidade de haver um fluxo de investimentos e planos para futuros módulos de estações espaciais ou mesmo estações inteiras. 

Se esse for o caso, as agências espaciais terão que aceitar que não poderão competir com o setor privado. Em vez disso, seria inteligente focar na locação de um espaço privado para realizar suas pesquisas de acesso aberto.