Especialistas climáticos a serviço da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmaram que temos cerca de três anos para revertermos a alta de emissões de carbono – e menos de uma década para cortarmos esse volume em quase 100% – se quisermos viver em um futuro ambiental “aplicável”.
A drástica afirmação foi feita durante uma apresentação mostrada na última segunda-feira (4) pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Os climatólogos disseramque esses objetivos ainda são possíveis, mas que as atuais políticas de vários países estão “levando o mundo a aumentos catastróficos de temperatura”.
De acordo com Antonio Guterres, chefe da ONU para assuntos climáticos, o relatório de 2,8 mil páginas apresentado pelo IPCC lista “uma série de promessas quebradas” de diversas nações parceiras da organização. “Alguns governos e empresas estão dizendo uma coisa — mas fazendo outra. Falando em termos simples, eles estão mentindo. E os resultados serão catastróficos”, disse o diretor.
“Estamos em uma encruzilhada”, disse o chefe do IPCC, Hoesung Lee. “As decisões que tomarmos agora podem assegurar um futuro onde possamos viver normalmente. Temos as ferramentas e o conhecimento necessários para limitar o aquecimento [global]”.
A primeira ordem do relatório é cortar as emissões de dióxido de carbono até 2025. Essa estimativa estabelece o tempo máximo que temos para nos mantermos dentro dos objetivos mais humildes do Acordo Climático de Paris, assinado por 192 países e pela União Europeia. A ideia do acordo é que as emissões não cresçam mais que dois graus Celsius (2 ºC) em comparação aos níveis pré-Revolução Industrial. Nós já estamos em 1,1 ºC, mas cientistas afirmam que chegar a 1,5 ºC será um flerte com o colapso de sistemas ambientais inteiros.
Além disso, até 2030, temos que baixar os níveis de carbono em 43% e, até 2050, em 84%.
“É agora ou nunca, a fim de que possamos limitar o aquecimento global em 1,5 ºC”, disse Jim Skea, professor da Faculdade Imperial de Londres e co-líder do grupo por trás do relatório. “Sem reduções profundas e imediatas em todos os setores, isso será impossível”.
Para isso, o relatório indica uma série de ações: redução entre 60% e 70% da queima de qualquer combustível fóssil, ressaltando que as energias solar e eólica (de ventos) têm hoje estruturas com investimentos a preços iguais – se não mais baratos – que minas de carvão ou as plataformas de extração de óleo.
Mais além, o IPCC também recomenda o investimento em tecnologias que absorvam o dióxido de carbono da atmosfera, aliviando o volume que já temos dispersado lá em cima. E engana-se quem pensa que o relatório é exclusivamente dedicado a governos e empresas: o painel também ressalta ações individuais, como evitar voos de longas distâncias, adotar dietas mais voltadas ao consumo vegetal e reduzir consumo de insumos que nos façam gastar mais energia elétrica, por exemplo, entre 40% e 70% até 2050.
“Indivíduos com alto status socioeconômico contribuem de forma desproporcional às emissões atuais, mas também têm o maior potencial para a redução delas — como cidadãos, investidores, profissionais e modelos de inspiração”, diz o documento.
Até mesmo a guerra russo-ucraniana foi incluída em tom de reclamação no relatório: “parte o meu coração, como um ativista climático ucraniano, ver que estou vivendo em uma guerra onde o dinheiro de combustíveis fósseis está no centro de tudo”, disse Olha Boiko, da ONG Climate Action Network, que ajudou na criação do documento. “O dinheiro pelo qual imploramos que não fosse usado em energia suja agora voa sobre nossas cabeças em forma de bombas e mísseis”.
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Fonte: Olhar Digital
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