Quem gosta de acompanhar as fantásticas imagens divulgadas pela NASA na página APOD (Astronomy Picture of Day), se maravilhou, nesta quinta-feira (07) com o espetacular registro feito pelo brasileiro Gabriel Rodrigues Santos

Essa é uma daquelas fotos em que vale a pena abrir em outra aba do navegador e olhar bem de perto, prestando atenção em cada detalhe da imagem. Ela registra uma pequena área da Constelação de Sagitário, próxima ao centro da nossa galáxia, a Via Láctea. É uma das regiões mais ricas do céu noturno, que concentra uma quantidade tão grande de estrelas que, em um local escuro, pode ser percebida facilmente a olho nu, como se fosse uma pequena nuvem, conhecida como Nuvem Estelar de Sagitário ou Messier 24.

(Imagem: Gabriel Rodrigues Santos/NASA/Reprodução)

200 mil estrelas

Cada pequeno ponto luminoso nesta imagem é uma é o registro de pelo menos uma estrela (muitas delas podem ser estrelas duplas) distante cerca de 10 mil anos-luz do nosso planeta. E considerando que podem haver planetas orbitando cada uma dessas estrelas e que cada planeta também poderia ter suas luas, imagine a quantidade de mundos que podem estar contidos nessa única imagem. Imagine as possibilidades de vida em alguns desses mundos…

Foi essa curiosidade que nos levou a tentar contar as estrelas dessa imagem. Mas infelizmente, a falta de tempo e paciência impediu a finalização deste trabalho. Contamos 232 estrelas em uma área equivalente a apenas 0,11% da imagem. Mas isso serviu para nos dar uma boa ideia da quantidade de estrelas presentes na imagem: São em torno de 200 mil estrelas. Parece muito, mas é apenas uma pequena fração das cerca de 400 bilhões de estrelas da Via Láctea.

Gabriel Rodrigues Santos

Imagem: Acervo Pessoal)

Gabriel é estudante, tem 22 anos, é formado em Engenharia de Produção pela USP no ano passado, e atualmente faz um mestrado nessa mesma área, também na USP. Apesar de ser bastante jovem, já conta com 10 anos de experiência na Astrofotografia. Sua paixão começou aos 12 anos de idade, quando apontou pela primeira vez, uma câmera para o céu estrelado. 

“De lá para cá aprendi muito por causa do hobby, que junta aspectos técnicos, científicos e artísticos; e também fiz grandes amigos que compartilham da atividade”, conta Gabriel, que além da foto divulgada nesta quinta (07), já teve outras 3 astrofotografias publicadas pela NASA como Foto Astronômica do Dia.

A fórmula de uma boa foto: muita técnica, algum equipamento e nenhuma luz

Gabriel explica que para conseguir um registro como esse foi preciso o uso de técnicas específicas, dedicação, e um bom local. É muito importante estar em um local escuro, afastado dos grandes centros urbanos que geram grande poluição luminosa, o que ofusca os astros e impede o registro de objetos astronômicos mais tênues.

Essa foto foi feita em um sítio no sul de Minas Gerais, onde as condições são excelentes para astrofotografia de céu profundo (nebulosas e galáxias). Em seu local de observação, Gabriel pode desligar todas as luzes ao redor e registrar as maravilhas de um céu verdadeiramente escuro.

Para fazer essa e outras belíssimas imagens do céu, Grabriel utiliza equipamentos amadores. Um telescópio refletor de 150mm em uma montagem motorizada que acompanha o movimento aparente dos astros, e uma DSLR comum, mas que foi modificada para registrar melhor os objetos astronômicos. 

Com esse equipamento, Gabriel pode fazer várias fotos de longa exposição do objeto fotografado e, através de softwares e técnicas específicas da astrofotografia digital, é possível empilhar as fotos para gerar uma única imagem, com definição, cores e qualidade superior ao que conseguiria com uma única exposição. Essas técnicas são basicamente as mesmas utilizadas por grandes observatórios e até mesmo nas imagens do Telescópio Espacial Hubble. Mas com uma dose extra de empenho e determinação, Gabriel consegue excelentes resultados com investimentos bem mais modestos. 

Para a imagem escolhida pela NASA como Foto Astronômica do Dia, Gabriel registrou 57 fotos daquela região do céu, com 4 minutos de exposição cada, totalizando quase 4 horas (228 minutos) entre os dias 30 de julho e 10 de agosto de 2021. 

Ele conta que seu objetivo com essa imagem foi ressaltar as nuances de cores da região: as estrelas azuis (mais novas e energéticas), as estrelas amareladas da Via Láctea (mais velhas e menos energéticas), em contraste com nebulosas moleculares escuras e as tênues nebulosas de gás hidrogênio, em vermelho.

A importância da astrofotografia na difusão da ciência

Gabriel acredita que a astrofotografia é uma forma ímpar de comunicação com o público. É uma atividade que desperta a curiosidade tanto das crianças quanto dos adultos. “Muitas vezes gráficos e fórmulas matemáticas complexas, utilizados nas pesquisas científicas em astronomia, podem parecer áridos para o público leigo. Já a astrofotografia permite fomentar o interesse pela ciência e pesquisa básica de forma visual e artística”, completa o astrofotógrafo e astrônomo amador. 

Além disso, Gabriel ressalta que a astrofotografia vai além das belas imagens. “Existem trabalhos amadores em astrofotografia que estão sendo utilizados em pesquisas astronômicas profissionais. Acho que essa é uma forma incrível de amadores também contribuírem e colaborarem no avanço do conhecimento científico”, destaca. 

APOD

O APOD (sigla para Astronomy Picture of Day) é uma sessão no site da NASA em que, todos os dias, é divulgada uma foto (e algumas vezes vídeos) escolhida pelos astrônomos da agência espacial americana. Junto à foto, também é exibida uma explanação da imagem escrita pelos astrônomos. E nesta quinta (07), a foto de Gabriel foi divulgada com a seguinte explanação: 

Messier 24: Nuvem Estelar de Sagitário

Ao contrário da maioria das entradas no famoso catálogo de objetos do céu profundo de Charles Messier, M24 não é uma galáxia brilhante, nem um aglomerado de estrelas, nem uma nebulosa. É uma lacuna nas nuvens de poeira interestelar próximas e escuras que permite uma visão das estrelas distantes no braço espiral de Sagitário, da nossa galáxia Via Láctea. Quando você olha para a nuvem estelar com um binóculo ou um pequeno telescópio, você está olhando através de uma janela com mais de 300 anos-luz de largura para estrelas a cerca de 10.000 anos-luz ou mais da Terra. Às vezes chamada de Pequena Nuvem Estelar de Sagitário, as estrelas luminosas de M24 preenchem esta linda paisagem estelar. Cobrindo mais de 3 graus, o equivalente à largura de 6 Luas cheias na Constelação de Sagitário, o campo de visão telescópica inclui as manchas escuras B92 e B93 logo acima do centro, juntamente com outras nuvens de poeira e nebulosas brilhantes em direção ao centro da Via Láctea.

(Imagem: Gabriel Rodrigues Santos/NASA/Reprodução)