Um novo relatório confirma que 2021 foi um dos períodos mais desafiadores para a indústria automotiva, por conta da crise dos chips. Mas também traz uma conclusão extremamente preocupante: segundo o estudo, recursos de assistência de direção (às vezes chamados de “piloto automático”), como controle de cruzeiro adaptativo e permanência da faixa, vistos como avanços na área de segurança, na verdade já aumentaram os acidentes.
O estudo foi realizado pela CCC Intelligent Solutions, uma consultoria de dados para seguradoras, fabricantes de automóveis e afins. A empresa afirma que a tecnologias de assistência ao motorista acabam deixando o condutor humano desatento. “Existe a preocupação de que o controle de cruzeiro adaptativo e outros recursos tenham levado os motoristas a acreditar que estão mais seguros do que são e não prestar atenção”, disse Susanna Gotsch, diretora sênior e analista do setor da CCC.
“Com o controle de cruzeiro adaptativo, o motorista pode não prestar a devida atenção para assumir o controle do veículo com rapidez suficiente”, aponta Gotsch. Embora grande parte dessa nova tecnologia veicular seja projetada para manter os motoristas seguros em acidentes, as mortes em veículos motorizados aumentaram 18% no primeiro semestre de 2021 nos EUA, onde há um grande uso de sistemas automáticos de pilotagem.
Sem olhar para a pista
Este é o maior aumento relatado em 15 anos. “Há alguma preocupação de que haja uma espécie de homeostase de risco que algumas dessas tecnologias causam”, diz a diretora da CCC. O número de pessoas dirigindo sob efeito de uma substância e sem cinto de segurança também aumentou.
O relatório vai em linha com o que pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) registraram em um estudo publicado no ScientDirect recentemente, que analisou os efeitos da automação especificamente com o Tesla Autopilot. Nele, foi observado que os motoristas tiram os olhos da estrada por mais tempo quando o piloto automático está em operação.
Com o piloto automático desligado, apenas 4% dos olhares sem direção (ou seja, sem atenção à pista) ultrapassaram dois segundos, em relação a 22% quando o piloto automático estava funcionando. Os olhares sem direção incluem olhar para baixo ou para a área da pilha central (aquela grande tela sensível ao toque que fica chamando a atenção das pessoas dentro de um Tesla, inclusive do motorista).
A pandemia da Covid-19 atrasando atualização de técnicos
Com a tecnologia evoluindo cada vez mais rapidamente, os veículos têm em boa parte exigido mais atualizações de software (como os de assitência ao motorista). Porém, a pandemia da Covid-19 e as restrições de viagens e locomoção de técnicos para cursos e outras atividades semelhantes dificultaram atualizações e treinamentos de profissionais nesse sentido. “Ao contrário do passado, mais e mais veículos precisam de correções de software que exigem habilidades diferentes dos técnicos”, lembra Gotsch.
Outro agravante relacionado à segurança no trânsito (ou da falta dela) e à pandemia é que mais pessoas estão trabalhando em casa, então as áreas antes congestionadas no trânsito ficaram mais abertas. Por consequência, os motoristas começaram a achar que podiam acelerar mais seus veículos nesses locais, inclusive na hora do rush – causando mais acidentes do que antes (e mais graves).
Nas palavras de Susanna Gotsch, “levará provavelmente um ano ou dois para as pessoas se atualizarem e implementarem processos onde possam aproveitar a tecnologia que ajuda a facilitar o processo de pesquisa”. “Isso também exige que as concessionárias façam mudanças significativas, como ter estações de carregamento e diferentes conjuntos de habilidades para seus vendedores em termos de como eles falam sobre os recursos de seus veículos”.
Imagem: tommaso79/iStock
Fonte: Olhar Digital
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