Boa parte das jornadas de trabalho envolve oito horas resolvendo as demandas e uma hora destinada para fazer uma refeição. Se você termina todas as suas tarefas antes do expediente acabar, precisa continuar disponível. Assim, a chance de passar o resto do tempo não produzindo ou procrastinando é maior. O que acontece? Você fica cansado e não aumenta os resultados. Isso porque existe um limite para o cérebro e a produtividade quando não existe descanso, desencadeando frustrações, de acordo com Thais Gameiro, neurocientista e fundadora da consultoria Nêmesis.
“Quando estamos concentrados, a gente usa uma parte do cérebro chamada pré-frontal. É nela que conseguimos manter nossa atenção a detalhes e permite que a gente tome decisões”, comentou. Ela explicou que o processo demanda muita energia do nosso corpo e que “a gente até consegue se forçar a continuar trabalhando, mas no dia seguinte você vai perceber que enviou um e-mail errado, esqueceu alguma data ou não deu a atenção devida a algum detalhe importante.”
A neurocientista descreve que a nossa produtividade no trabalho envolve muitas variáveis, como o bem-estar, pois é o salário que gera segurança ao pagar todas as contas. Além do engajamento, propósito, alimentação e descanso. Tanto que Gameiro recomenda pausas quando perceber que não está mais rendendo.
“Quando estamos trabalhando focados, a gente está ativando uma rede que é chamada de TPN. Quando você está se distraindo, tomando sua água ou batendo um papo leve, você está ativando uma outra rede chamada DMN, responsável por ajudar a gente a ser mais criativo. O ócio é indispensável para a saúde. Sem descanso, a criatividade e, como consequência a inovação, são afetadas diretamente”, enfatizou.
Por mais que não exista um número ideal de horas de trabalho por dia, ele afirma que não costuma passar de seis horas diárias para a maioria das pessoas. Mas então, qual o motivo da maior parte da população se render a exaustivas jornadas de trabalho sem produtividade?
A hiperconectividade é um dos fatores que contribuiu para o aumento dos níveis de estresse entre os profissionais. Nesse contexto de trabalho e produtividade, Thaís Gameiro relembra que não deve ser considerado que o trabalho dura oito horas por dia e 40 horas por semana. Pois a hiperconectividade faz com que seja algo muito maior, colocando as pessoas 24 horas por dia durante todos os dias disponíveis para o trabalho.
“Para você conseguir fazer bem o seu trabalho, você precisa ter foco e isso exige muito da nossa fisiologia. Qualquer distração nos atrapalha, ninguém consegue fazer tudo ao mesmo tempo”, disse. Segundo ela, isso faz com que essa hiperconectividade crie um conflito no quanto nosso cérebro aguenta trabalhar com qualidade (6h), o quanto há uma obrigação a trabalhar por contrato (8h) e o tanto a que precisamos prestar atenção pelo celular (o dia inteiro).
Enquanto Luci Praun, professora do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Acre (UFAC), acrescentou que a lógica de oito horas de trabalho, oito horas de lazer e oito horas de descanso, comum para o século 19, já perdeu lugar a flexibilidade.
“Você tem que ler as centenas de grupos de WhatsApp das empresas. Eles funcionam no fim de semana, na madrugada, não tem horário. Todo mundo quer resolver tudo muito rápido, então é como se fosse uma engrenagem. Eu preciso dar conta da minha tarefa, então vou mandar uma mensagem no WhatsApp avisando que enviei um e-mail, por exemplo”, afirmou.
Para o psicólogo, Wanderley Cintra, o trabalho é crucial na formação da nossa identidade: “Por trás daquele elogio ‘você se dedica muito’ vem a expectativa de crescer. Ou seja, quanto mais eu estou entregando em menos tempo, mais rápido eu vou ser alçado a um novo cargo, mas isso nem sempre acontece”.
Wanderley conclui que uma solução é reconhecer os seus próprios limites do seu corpo. “Também saber dizer não para o que não faz parte do seu escopo de trabalho ou você simplesmente você não sabe fazer pode te ajudar a organizar as demandas, sem exagerar”, aconselhou.
Fonte: Estadão
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Fonte: Olhar Digital
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