Um novo estudo atribui a maior parcela de culpa do aquecimento global aos países mais ricos – especialmente EUA e membros da União Europeia (UE). A conclusão veio após uma análise de 50 anos de histórico de exploração, mostrando que os dois nomes citados acima são, sozinhos, responsáveis por quase dois terços dessa exploração – da qual muito dela é em excesso.
A premissa estabelece um paradoxo interessante, categoricamente afirmando que, apesar de serem a minoria da população mundial, são os ricos que acabam alavancando um dos principais problemas enfrentados pelo mundo na atualidade.

De acordo com o estudo, foram analisados os volumes de uso de recursos naturais, um fator que, pelo consenso científico, é um dos pontos de partida para qualquer análise estatística sobre a degradação ambiental.
Os resultados mostram que, entre 1970 e 2017, cerca de 2,5 trilhões de toneladas de recursos foram extraídos e usados por nações de altos dividendos – ou seja: países ricos -, com 74% desse volume podendo ser atribuído aos EUA, UE e China, nesta ordem. Mais além, deste número, quase a metade – ou 1,1 trilhão de toneladas – foram considerados excessivos, ou seja, recursos usados em demasia e que não eram sequer necessários.
Os EUA lideram esse aspecto, com responsabilidade em 27% do consumo de recursos naturais, seguido da UE e do Reino Unido. A China ficou em 15%. Uma página interativa criada pelo time que assina a pesquisa nos permite analisar caso a caso. A página não lista todos os países por nome, mas a América Latina – onde o Brasil é localizado – é responsável por “apenas” 8%.
“Países mais ricos precisam, urgentemente, reduzir o uso de recursos agregados para níveis mais sustentáveis”, diz trecho do paper publicado no jornal científico The Lancet Planetary Health. “Em média, o uso de recursos do tipo precisa cair pelo menos 70% para se chegar ao volume aceitável”.
Jason Hickel, antropólogo econômico da Universitat Autònoma de Barcelona, na Espanha e autor primário do estudo, disse pelo Twitter que essa questão pode exigir “uma revisão do que a economia global deve ser”
The “economy” is our material relationship with each other and with the rest of the living world. We have to decide whether we want that relationship to be based on extraction and exploitation, or on reciprocity and care.
— Jason Hickel (@jasonhickel) April 10, 2022
“Nossos resultados mostram que nações super ricas têm a maior parte da responsabilidade do nosso colapso ecológico, e por isso elas têm uma dívida ambiental com o resto do mundo”, disse Hickel. “Esses países precisam assumir a liderança na tomada de reduções radicais de seus usos de recursos naturais, a fim de evitar uma degradação maior que provavelmente vai exigir abordagens inovadores de pós-crescimento e de encolhimento econômico”.
Traduzindo: a busca incessante por lucros cada vez maiores é insustentável.
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Fonte: Olhar Digital
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