Uma série de documentos até então secretos e divulgados pelo Comando Espacial dos Estados Unidos (USSC) confirmam a queda de um objeto de outro sistema estelar – um meteoro – na Terra. Especificamente, em 2014, o objeto iluminou os céus de Papua Nova Guiné, na Oceania, antes de cair no mar, onde potencialmente deixou detritos.
Nas observações espaciais, “objeto de outro sistema estelar” (ou simplesmente “interestelar”) é um termo aplicado a corpos celestes de fora do nosso sistema solar. A mera aparição de um deles por nossa vizinhança no espaço já é uma raridade: publicamente, nós só tínhamos conhecimento de dois deles – o 1I/ʻOumuamua em 2017 e o 2I/Borisov em 2019, e nenhum deles chegou perto de nós.
“Eu tive o prazer de assinar um memorando junto do chefe científico do USSC, Dr. Mozer, para confirmar que um objeto interestelar previamente detectado era, de fato, vindo de outro sistema estelar, uma confirmação que auxiliou a comunidade astronômica em geral”, disse o órgão pelo Twitter, citando declaração do Tenente General John E. Shaw, das Forças Armadas dos Estados Unidos. Shaw é o comandante interino do USSC.
Por “previamente detectado”, o tuíte acima refere-se a um estudo feito sobre o objeto de outro sistema estelar em 2019, disponível no arXiv e conduzido por dois astrofísicos da Universidade de Harvard – Amir Siraj (autor primário) e Abraham “Avi” Loeb (o mesmo Loeb que chamou o ‘Oumuamua de “restos de tecnologia alienígena”).
Após a divulgação do material, Siraj falou à VICE americana sobre o fato do estudo – uma simples compilação de dados de observação – estar em “processo de revisão por pares há anos, estranhamente amarrado pelas circunstâncias incomuns e o caráter de ineditismo da descoberta, bem como os obstáculos impostos pelo envolvimento de informações e entidades confidenciais do governo americano”.
“Eu dou risada do fato de que nós temos material interestelar despejado sobre a Terra, e que sabemos onde ele está”, disse Siraj, que hoje responde como diretor de estudos de objetos interestelares no Projeto Galileu em Harvard. “Uma coisa que com certeza foi checar — e que eu já venho conversando com algumas pessoas sobre — é a possibilidade de procurarmos por quaisquer fragmentos no chão ocêanico da costa de Papua Nova Guiné”.
O cientista, porém, reconhece que isso seria bem complicado, considerando que a descida do meteoro na atmosfera o queimou, então qualquer pedacinho que tenha caído em nossa superfície (meteoritos) é provavelmente bem pequeno e difícil de ser rastreado – se é que há algum. Siraj disse que, no espaço, o meteoro não tinha mais do que “alguns poucos metros” de extensão.
Segundo ele, na ocasião do envio do estudo, os dois astrofísicos, inspirados pela descoberta do 1I/ʻOumuamua, decidiram revisar toda uma base de dados relacionados a impactos de objetos espaciais contra a Terra, mantida pela NASA. Nessa base, saltou-lhes aos olhos um choque específico – ocorrido em 8 de janeiro de 2014 próximo à Ilha Manus -, devido à sua velocidade incomum de pouco mais de 209 mil quilômetros por hora (km/h).
“Era rápido demais, então me lembro de pensar ‘Meu Deus, isso pode ser um meteoro interestelar”, disse Siraj. “Era como se ele se escondesse à vista de todos. Não foi como se nós tivéssemos que cavar muito fundo naquela base. Era mais um caso de que, como não víamos um objeto de outro sistema estelar desde 2017, ninguém tinha qualquer razão para pensar que pudessem haver meteoros de fora do sistema solar”.
Após fazer toda a análise dos dados, Siraj e Loeb escreveram o paper que foi submetido ao Astrophysical Journal Letters, uma conceituada publicação científica, mas o estudo ficou amarrado pelo fato de que algumas informações técnicas da base de dados estavam censuradas pelo Departamento de Defesa (DoD) dos EUA.
O motivo para isso foi muito mais tecnológico que científico, na verdade: alguns dos sensores usados para medir velocidades terminais de objetos vindos do espaço usam de recursos que também são aplicados pelo DoD para detectar e medir informações de mísseis inimigos e até mesmo armas nucleares. Por causa disso, há uma espécie de confidencialidade prévia em informações detectadas por esses instrumentos que impediram os dois cientistas de analisarem todas as informações de sua descoberta.
Na nova documentação liberada pelo USSC (que Siraj só ficou sabendo sobre graças a um tuíte de um cientista), o órgão afirma que a “velocidade terminal do objeto de outro sistema estelar é bem aproximada às estimativas da NASA”. Agora, Siraj está fazendo requerimentos para ver a publicação completa do estudo original, a fim de que outros cientistas do ramo possam usá-lo como base bibliográfica para pesquisas mais aprofundadas.
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Fonte: Olhar Digital
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