Há 3,5 bilhões de anos, apareciam os primeiros sinais de vida no planeta – consistindo de pouco mais do que um “lençol” bacteriano que cobria nossas águas e levaria vários outros bilhões de anos para chegar à terra firme. Cientistas estão, agora, buscando amostras de núcleos rochosos que podem conter o que eles entendem como a primeira forma de vida da Terra.
A região escolhida fica nas montanhas Barberton Makhonjwa, na África do Sul. Aqui, ocorreu a primeira das chamadas “Corridas do Ouro”. Entretanto, a área também abriga o que especialistas chamam de “Grupo Moodies”, uma formação de rochas que – eles suspeitam – tem aproximados 3,2 bilhões de anos e armazenam em seus núcleos amostras da mais antiga vida do planeta.
“É mesmo muita sorte que ainda tenhamos lugares antigos como esse”, disse Tanja Bosak, especialista em geobiologia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), não relacionada ao projeto. Segundo ela, é verdade que sinais mais velhos da primeira forma de vida foram achados em outros locais da Terra – como Austrália, Groenlândia e na própria África do Sul.
No entanto, todos esses eram resquícios encontrados no fundo do mar, e é a primeira vez que uma possível amostra é identificada em terra firme, o que pode ser um indício de preservação pré-histórica nunca antes obtida. “Isso nos ajudará a compreender um período nada entendido da história da Terra”, ela comentou.
Na época em que o Grupo Moodies se formou, a Terra era algo totalmente diferente do que conhecemos hoje: para começar, nossa atmosfera era densamente carregada de metano e dióxido de carbono – mas quase nada de oxigênio. Massas continentais – “terra firme”, se você preferir – já existiam, mas estar nelas era complicado pois as movimentações tectônicas que deram origem aos nossos continentes ainda estavam acontecendo (“Vaalbara“, o teoricamente primeiro supercontinente, ainda era jovem nesse período).
Nesta mesma época, no entanto, formações como o Moodies atravessavam oceanos, com algumas poucas subindo à superfície – levando consigo tudo o que pudessem arrastar. De acordo com Christoph Heubeck, o geólogo que lidera a expedição na África do Sul, esse processo favoreceu o nascimento da vida. O especialista já penetrou 200 metros (m) de terra, recolhendo sete amostras que são, de forma resumida, uma versão fóssil do lodo primordial da Terra – pense nos “slimes” que eram moda entre crianças e adolescentes há alguns anos, só que incrivelmente duros por serem 3,2 bilhões de anos mais velhos. A oitava perfuração deve ocorrer mês que vem.
Heubeck acredita que esses “seres” sejam uma forma de vida anterior às chamadas “cianobactérias”, os micróbios que fizeram da nossa atmosfera o objeto rico em oxigênio que conhecemos hoje (na história, isso ficou conhecido como “Grande Oxidação”). O especialista imagina que eles viviam de algum tipo específico de metabolização de ferro, embora essa afirmação tenha controvérsias na comunidade científica: seres desse tipo não sobreviveriam muito bem ao ambiente iluminado da luz do Sol.
Ainda assim, evidências de formações que necessitam de oxigênio para existir já foram encontradas e datadas de antes da Grande Oxidação. Ou seja, há razão para suspeitarmos que ou esses seres surgiram de forma gradual, evoluindo e morrendo até a Terra encontrar o equilíbrio onde está hoje, ou o evento que oxigenou a atmosfera pode ter começado bem antes do que imaginávamos.
Essa dúvida pode ser respondida com esse estudo: se a equipe de Heubeck encontrar sinais de capacidade de produção de oxigênio dentro de alguma das amostras que ele retirou da África do Sul, então ele poderá ter encontrado o “elo perdido” que faltava em outras amostras da primeira forma de vida da Terra.
Heubeck e equipe devem começar os estudos ainda em 2022.
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Fonte: Olhar Digital
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