No primeiro turno, o candidato esquerdista, Jean Luc Mélenchon, conseguiu 22% dos votos; ele não apoia nenhum postulante à presidência, mas pede que não votem na extrema direita
O candidato à reeleição presidencial da França, Emmanuel Macron, agrada os eleitores de centro e, na última eleição, em 2017, acabou sendo voto útil dos eleitores de esquerda, um eleitorado importante neste cenário de acirramento entre ele e sua opositora, Marine Le Pen. Isso porque, no primeiro turno, o candidato considerado de extrema esquerda, Jean Luc Mélenchon, conseguiu 22% dos votos contra 23,1% da candidata ao segundo turno. Apesar de Mélenchon não apoiar Macron, ele chegou a pedir que seus eleitores não votassem de jeito nenhum em Le Pen. Para o especialista em direito internacional das Faculdades Metropolitanas Unidas, Manuel Furriela, mesmo com a desaprovação da esquerda a Le Pen, desta vez Macron terá mais dificuldade para herdar esses votos.
“Os eleitores tiveram um desencanto em relação a Macron, ele teve um efeito muito benéfico à candidatura dele, tanto é que saiu vitorioso na eleição passada, mas houve muito desencanto em relação à gestão dele naqueles grupos mais de centro, centro-esquerda, que acreditavam em propostas mais de perfil social e que acabaram, ao contrário do que Macron havia dito, acabaram não acontecendo”, comentou Furriela. A desaprovação da esquerda a Macron se deve ao fato do presidente francês ter aumentado a idade mínima de aposentadoria, com o objetivo de equilibrar as contas do país, e aumentado os encargos em cima dos combustíveis, com a intenção de desincentivar o uso e forçar uma redução para cumprir sua agenda ambiental. A última situação levou o país aos protestos dos coletes amarelos. Além disso, a pandemia do coronavírus e, mais recentemente, a guerra na Ucrânia fizeram a inflação subir e reduzir o poder de compra dos franceses. Tais acontecimentos inflaram as chances de Le Pen e desidrataram o discurso social de Macron.
Segundo Manoel Furriela, um eventual governo de Le Pen poderia fortalecer a autonomia da França. “Com o governo da França da Le Pen, será um governo muito mais independente, muito mais próximo daquilo que a gente tem observado na Grã-Bretanha, mesmo a França continuando na União Europeia, e menos de grupo, e menos de conjunto. Então as decisões coletivas que a França toma sempre na gestão de Macron, discutindo com os outros colegas europeus, principalmente com a Alemanha, vai ficar um pouco mais afastada”, analisa.
Esta é a segunda vez que Macron e Le Pen se enfrentam em um segundo turno eleitoral. Nas últimas eleições da França, em 2017, Le Pen conseguiu se aproximar de Macron, com uma diferença de apenas 3% de votos no primeiro turno, mas teve pouca adesão no segundo. Macron venceu com 66,1% contra 33,9% de Le Pen. Apesar da dianteira de Macron, pelas pesquisas recentes as coisas podem ser diferentes desta vez. Nome forte da direita, Le Pen, agora de forma mais moderada, levanta pautas conservadoras e apresenta alternativas mais protecionistas à população do país.
Grande crítica da União Europeia, ela abaixou o tom no argumento que pregava uma saída imediata do grupo pela França, mas manteve o discurso incisivo contra a propagação do islamismo no país. Desde 2017, quando perdeu as eleições, Marine Le Pen vem adotando um discurso mais brando com ênfase em ajuda social ao trabalhador. Isso porque ela quis desvincular a sua imagem e a de seu partido, o Reagrupamento Nacional, de uma direita extremista. Em 2015, ela chegou o próprio pai e criador do partido da sigla, porque ele deu uma declaração dizendo que as câmaras de gás nazistas eram apenas um detalhe na história. Com medidas populistas e em prol dos trabalhadores, como a revogação da atual reforma previdenciária de Macron, Le Pen fez ressurgir uma direita forte, que faz frente à atual gestão do presidente.
Com Le Pen, a posição da França em relação à guerra na Ucrânia também se modificaria. Isso porque ela possui proximidade o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e poderia buscar novas alianças. “Vai haver uma proximidade e provavelmente vai se amenizar o discurso contra a Rússia. Então vai haver um distanciamento em relação à União Europeia e uma posição um pouco diferente em relação a guerra da Ucrânia, trazendo uma posição um pouquinho mais próxima da Rússia, de diálogo, e não uma posição assertiva ou tão combativa à Rússia quanto Macron tem liderado”, observa Furriela.
Em seus últimos discursos, ainda tentando conquistar o eleitorado mais flexível, os candidatos subiram o tom e se abusaram de propagar ódio. Le Pen disse que Macron tem uma falha de caráter, que insiste em brutalizar sua imagem e de seus eleitores e que ele quer a divisão do país. Emanuel Macron declarou que pode fazer um discurso sem que ele tenha ódio a oponentes políticos ou a uma parte do país.
*Com informações do repórter Victor Hugo Salina
Fonte: Jovem Pan News
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