A Ucrânia, que já completa dois meses em guerra contra a Rússia, levará décadas para desminar todo o território, que está repleto de artefatos explosivos. De acordo com a diretora para a redução da violência armada da Handicap International, Perrine Benoist, “levará 50 anos para limpar tudo”, disse à AFP, lembrando que “ainda estamos limpando minas no Laos, Camboja e Vietnã 56 anos depois”.
O diretor da divisão de armas da Human Rights Watch, Steve Goose, acrescentou também que “as mortes e mutilações continuarão por muito tempo depois que a guerra acabar”, reafirmando que “será uma questão de anos, se não décadas, para limpar tudo”.
De acordo com a agência de notícias francesa, mais de 300.000 km2 da Ucrânia, cerca de metade do território do país, estão com artefatos explosivos. “Inclui o território de Donetsk, a região de Luhansk e a República Autônoma da Crimeia, bem como as águas do Mar Negro e do Mar de Azov”, explicou o chefe do serviço de desminagem e da segurança civil ucraniana, Oleh Bondar.
Ele ainda informou que, desde o início da guerra, os serviços de desminagem retiraram mais de 72.000 artefatos, incluindo mais de 2.000 bombas de diferentes calibres, num total de 130.000 km2. Antes do conflito, apenas 8% do país era considerado contaminado, segundo o Observatório de Minas e Bombas de Fragmentação. “O país enfrenta uma contaminação histórica”, destacou Benoist. Atualmente, os esforços para desminagem estão concentrados em Kiev, capital da Ucrânia.
Como será feita a desminagem na Ucrânia?
Muitos podem acreditar que, para o processo de desminagem é necessário alto nível de tecnologia, mas não é bem assim que funciona. A ação exige mais cautela e um combo de força e delicadeza do que qualquer outra coisa.
A princípio, são necessárias apenas ferramentas básicas, como pá, e um detector de minas, suprindo o campo da tecnologia. Após identificada, a mina é lentamente desenterrada com a pá, retirada do solo com um gancho, o detonador é removido e o dispositivo adicionado ao arsenal ucraniano. Segundo Benoist, um agravante é que geralmente as minas são instaladas em áreas urbanas, onde há maior densidade de civis, que serão vítimas por anos, além de exigir maior cautela na limpeza.
“Tivemos fraturas complexas, amputações ou mesmo queimaduras por inalação devido à toxicidade da fumaça das explosões”, relatou a diretora. “[são] um enorme fardo socioeconômico porque podem impedir as pessoas de voltar para suas casas, voltar para seus campos para colher, etc”, adicionou Goose.
O Tratado da Convenção de Proibição do Uso de Minas Antipessoais de 1997 impede o uso, armazenamento, produção e transferência dessas armas. No entanto, a Rússia não faz parte dos 164 países que assinaram o acordo.
Fonte: Olhar Digital
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