O bilionário Elon Musk já começou a chamar para o debate quem está duvidando de seu projeto de valorização da liberdade de expressão à frente do Twitter. Em recente postagem, o dono da Tesla, que tem 85,5 milhões de seguidores na rede social, escreveu: “A reação extrema daqueles que temem a liberdade de expressão diz tudo”. 

Inclusive, segundo especialistas na área de Tecnologia da Informação (TI), existe um grande hiato sobre como o homem mais rico do mundo trabalhará com os dados fornecidos pelo Twitter. 

Para o CEO da BigDataCorp e mestre em Informática, Thoran Rodrigues, o valor do Twitter, assim como outras empresas de tecnologia, está nos seus dados: dados de usuários, conteúdo postado, dados dos anunciantes, dados operacionais. 

“A grande questão, portanto, é: o que vai ser feito com esses dados? O Twitter é hoje uma das redes sociais mais “abertas”. É talvez a principal fonte de conteúdo para estudos, tanto acadêmicos quanto privados, da opinião e do sentimento das pessoas com relação ao que está acontecendo no mundo de maneira geral. Além da questão do que vai acontecer com essas informações (se elas vão se manter públicas ou não), o quanto de poder uma empresa privada pode exercer com essa informação em mãos? O que acontece se a empresa resolver usar esses dados para manipular a opinião pública – a favor de alguma das outras empresas de Musk, por exemplo? Sem transparência, como vamos saber se isso está acontecendo?”, analisa Rodrigues, que também tem MBA em Gestão de Negócios pela PUC-RJ.

Marginalização do Twitter 

De acordo com Thoran, ainda é prematuro afirmar se a tal liberdade de expressão defendida por Elon Musk será realmente priorizada e o que exatamente ele quer dizer com isso. 

“Liberar qualquer pessoa para falar qualquer coisa, sem nenhum tipo de moderação ou controle do conteúdo, pode rapidamente resultar em uma marginalização da rede, destruindo o valor da empresa para o mercado”, diz o mestre em Informática. 

Thoran Rodrigues, especialista em TI
Mestre em Informática, Thoran Rodrigues revela que a condução do Twitter por poucas pessoas pode ser uma concentração de poder, com diversos riscos à sociedade. Imagem: Arquivo Pessoal

Inclusive, o fato de se transformar em uma empresa privada faz do Twitter um local de maior visibilidade no que diz respeito à moderação dos conteúdos, situação que ainda não tem como prever. 

“Hoje existe uma pressão de mercado para manter essas políticas de moderação mais transparentes, mas na medida que as ações da empresa não estão mais na mão do mercado em geral, essa pressão desaparece, e essas práticas podem ser mais opacas”, alerta o especialista.  

“O grande problema da redução da moderação do conteúdo é que arrisca-se “marginalizar” a plataforma, ou seja, virar um espaço onde o discurso é dominado por conteúdo ofensivo e falso, sendo promovido e amplificado por contas falsas, apenas disseminando a desinformação. Na medida em que isso acontece, a plataforma naturalmente perderá usuários e relevância no cenário internacional”. 

Ponto sem nó 

Engana-se quem pensa que Musk comprou o Twitter pelo fato do homem mais rico do mundo não concordar com a política do microblog. Na visão de Thoran, “isso é uma ilusão”.  

“É o mesmo que achar que ele montou a Tesla porque queria salvar o mundo com carros elétricos. A decisão de compra foi motivada por fatores de negócios, que vão da desvalorização das ações até as oportunidades de crescimento rápido que existem no mercado”, afirmou. 

Algoritmos em código aberto sob aplausos 

Um dos aspectos positivos da compra do Twitter por Elon Musk é a proposta de transformar todos os algoritmos da plataforma em código-aberto. 

“Isso tem dois impactos grandes. O primeiro é abrir a porta para a construção de uma comunidade de desenvolvedores externos, que não são funcionários do Twitter, que estejam trabalhando na evolução desses algoritmos. Existe muito potencial de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia de base em cima desses algoritmos.

O segundo é o potencial impacto desses algoritmos em outros produtos, empresas e áreas do universo de tecnologia. Os problemas que o Twitter resolve – moderação de conteúdo, autenticação de usuários, análise de sentimento, detecção de fake news, etc. – são universais, aparecendo nos mais diferentes setores do mercado. Os algoritmos, uma vez abertos, poderiam ser utilizados de forma muito mais ampla, beneficiando a sociedade como um todo”, conclui Thoran.

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