A origem de Marte é algo que ainda escapa a muitos cientistas, mas um novo estudo aponta para a possibilidade do planeta vermelho ter nascido em um momento bastante conturbado da história do espaço.
De acordo com pesquisadores da Universidade Estatal do Arizona, a presença das chamadas “rochas ignimbritas” dentro e ao redor de regiões como a Cratera Jezero e a Cratera Gusev são indícios de um forte evento explosivo nos primórdios do principal vizinho da Terra.
O time liderado por Steve Ruff, cientista da Escola de Exploração da Terra e do Espaço na universidade, usou dados coletados pelas várias missões de Marte – tanto do passado como das atuais. Nesses arquivos, a equipe encontrou agrupamentos e sedimentações rochosas ricas em olivina, um tipo de mineral formado por silicatos de magnésio e ferro (Mg, Fe)₂SiO₄, para os químicos de plantão).
Essas sedimentações, suspeita a equipe, podem ser as tais ignimbritas, um tipo de rocha ígnea e sedimentar – uma forma pomposa de dizer que são pedras que se formam após a ocorrência de eventos cataclísmicos altamente tumultuosos, como a explosão de uma caldeira vulcânica.
“Existem muitas ideias sobre a origem dos conjuntos rochosos ricos em olivina que cobrem amplas porções de uma região de Marte conhecida como Nili Fossae, que inclui a Cratera Jezero”, disse Ruff. “Esse debate vem sendo travado há quase 20 anos”.
A Cratera Jezero, você deve lembrar, é o ponto de missão do rover Perseverance, da NASA. O veículo do tamanho de um carro popular vem coletando amostras de núcleos rochosos da região no intuito de encontrar sinais de vida antiga (a cratera já foi um imenso lago e um delta de rio há bilhões de anos). Entretanto, seu estudo pode acabar nos levando também a entender melhor a origem de Marte.
Mais além, explorações anteriores – sobretudo do antigo rover Spirit, há 16 anos – indicam a presença de rochas ricas em olivina em outras regiões de Nil Fossae, algumas até afastadas da Cratera Jezero. Essa presença de rochas tão específicas nunca foi estudada de forma relacionada, mas o time da Universidade do Arizona acredita que elas se formaram de maneira similar.
Ruff explica que, ao analisar imagens tiradas pelo Spirit, ele e sua equipe identificaram as pedras com uma textura diferente das demais. Após consultar bibliotecas online, eles encontraram imagens de pedras na Terra e constataram exemplos bastante similares em regiões de alta atividade vulcânica daqui, levando-os a criar a hipótese de alguma relação entre a atividade vulcânica de Marte e a disponibilidade e exibição das rochas ricas em olivina. Ou seja: possivelmente, são ignimbritas.
“Esse foi o nosso momento ‘Eureka’”, conta o pesquisador. “Eu vi as mesmas texturas em rochas na Cratera Gusev da mesma forma que vi rochas vulcânicas específicas aqui na Terra. Imagine uma nuvem de gases quentes e cinza quase derretida no nível da superfície, fluindo pelo ambiente por dúzias de quilômetros e se acumulando em camadas que vão a centenas de metros de espessura em apenas alguns dias”.
Após semanas ou meses, as ignimbritas esfriam, exibindo padrões visuais conhecidos como “conexões de resfriamento”. Essas fraturas rochosas se formam graças à contração da cinza. Aqui na Terra, regiões que vão desde a Sicília, na Itália, até o Parque Nacional Yellowstone, nos EUA, têm essas mesmas rochas dispostas em várias áreas – cortesia de atividades vulcânicas que ocorreram há milhões de anos, no caso de Yellowstone.
Marte, por outro lado, é a casa do maior vulcão do sistema solar – Olympus Mons -, então é de se esperar que rochas vulcânicas apareçam. Apesar das ignimbritas estarem presentes apenas em regiões específicas (que a gente saiba, pelo menos: Marte é bem grande), há suspeita de outros depósitos em outras áreas – todas, porém, com indícios de formação bem antiga, no primeiro bilhão de anos do planeta vermelho.
Caso a suspeita se confirme, teremos um entendimento maior sobre a origem de Marte, o que nos ajudará em estudos geológicos que traçam a linha do tempo de formação do planeta vermelho. As informações completas estão disponíveis no jornal científico Icarus.
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Fonte: Olhar Digital
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