Quinta-feira, Janeiro 23, 2025
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Saint-Étienne: Hegemonia e queda do clube que teve recorde igualado pelo PSG

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O futebol moderno tem coisas difíceis de entender. A estranha melancolia em Paris ao comemorar o título francês, ainda em luto pela queda na Liga dos Campeões, ofuscou a transformação do Paris Saint-Germain no maior campeão da história do país, com 10 troféus. Um recorde que era exclusivo e ostentado com orgulho por um hoje modesto Saint-Étienne, de tempos em que ser campeão nacional era uma grande conquista.

Há uma década atrás se contassem aos torcedores do PSG que o clube receberia o seu 10º troféu do Francês com um ar blasé, e até com vaias e críticas, não seria fácil de acreditar. O clube detinha apenas duas conquistas, nas décadas de 80 e 90. O recorde do Saint-Étienne parecia muito distante. Mas o futebol é feito de ciclos, e os “Verdes” conhecem bem isso, com uma história de ascensão inesperada e meteórica, e de sucessivas quedas e renascimentos.

Do profissionalismo ao primeiro título

Não há muita lógica na história do Saint-Étienne. Fundado em 1919 por funcionários do Grupo Casino, empresa de varejo que hoje controla o Pão de Açucar e o Assaí no Brasil, o clube se profissionalizou em 1933 e foi promovido à primeira divisão em 1938. Apesar da boa estreia na elite, com um quarto lugar, a ascensão foi interrompida pela Segunda Guerra Mundial.

Sediada na pequena cidade de Saint-Étienne, hoje com cerca de 170 mil habitantes, o sucesso não era o destino mais provável para o clube. Mas os Verdes seguiram surpreendendo no retorno pós-guerra, terminando com o vice-campeonato em 1945/46.

Pouco mais de 20 anos depois de se profissionalizar, o Saint-Étienne chega pela primeira vez ao topo da França em 1956/57. Mas o sucesso ainda parecia apenas obra do acaso e o clube estava longe de ser a maior potência da França. Tanto que não se manteve no topo por muito tempo, conhecendo inclusive o seu primeiro rebaixamento, em 1962, embora curiosamente conquistando a Copa da França pela primeira vez no mesmo ano.

Retorno triunfal e hegemonia com toque de ‘futebol champanhe’

O Saint-Étienne elevou o termo “gangorra” a outra dimensão no futebol em seu retorno à elite em 1963/64. Foi o retorno também do técnico Jean Snella, campeão em 57. E que retorno: logo com título, o segundo da história da equipe.

Snella foi o responsável por dar o pontapé inicial da fase áurea do Saint-Étienne e seguiu no clube até 1966/67, se despedindo com o terceiro título já tendo em mãos um time com investimentos crescentes, fruto em grande parte do trabalho do empresário Roger Rocher, presidente desde 1961 e um dos principais responsáveis pela ascensão e posterior queda do clube.

Em 67, Snella é substituído por Albert Batteux, um astro entre os técnicos e conhecido pelo seu sucesso no Stade de Reims entre 1950 e 1963, levando o clube inclusive a duas finals da Europa – dois vices para o Real Madrid. O estilo revolucionário de Batteux chegou a ganhar o epíteto de “futebol champanhe” e o alçou a seleção francesa entre 1955 e 1960.

Batteux não era um técnico convencional. Na época, o vigor físico era o mote em boa parte dos clubes da França, mas para o multicampeão com o Reims o que importava era colocar o físico em funçao da técnica. Os goleiros deveriam evitar chutões, seus jogadores buscavam armar o jogo com passes curtos, de pé em pé, em um futebol envolvente e ofensivo. 

A chegada de uma nova promessa do Mali, Salif Keita, era um símbolo do futebol defendido por Batteux. Juventude e talento, com dribles e técnica apurada. Keita foi o craque nos anos seguintes. O resultado foi rápido, com a primeira “dobradinha” do Saint-Étienne logo na primeira temporada do técnico.

O Saint-Étienne se transformou na maior potência do país, com sobras. Foi tetracampeão (três títulos com Batteux) francês, com direito a duas “dobradinhas”.

Europa, Platini e o 10º título

Batteux se despediu depois de duas temporadas sem título, mas os alicerces do sucesso estavam armados. Robert Herbin, multicampeão como jogador no Saint-Étienne, deixou os campos para assumir o posto em 1972/73.

O sucesso para o jovem treinador não veio na primeira temporada. Mas o trabalho foi recompensado com duas “dobradinhas” em sequência nos dois anos posteriores. O time ainda conquistou o tricampeonato francês em 1976, um ano que acabaria por ser especial por outro motivo.

Com uma campanha impecável na Copa dos Campeões Europeus (atual Liga dos Campeões), o Saint-Étienne eliminou KB, da Dinamarca, Rangers, da Escócia, Dínamo de Kiev, da União Soviética, e PSV, da Holanda. Na decisão, o rival foi o poderoso Bayern de Munique de Maier, Beckenbauer, Müller, Rummenigge e companhia. O jogo foi duro, e o time francês teve diversas oportunidades para vencer, mas acabou sucumbindo graças a um gol de Franz Roth no segundo tempo.

O Saint-Étienne se despediu de sua era de ouro em 1981 com seu 10º título. Em campo, nada menos do que Michel Platini, que se tornaria o maior astro do futebol francês, mas carregando apenas esse título nacional no currículo.

A queda do gigante

A derrocada do Saint-Étienne começou ainda em 1981, e com um personagem que ajudou o clube a chegar no topo como protagonista. Roger Rocher, presidente do clube desde 1961, se viu envolvido em escândalos financeiros e “caixa dois”, com supostos desvios de renda da Copa dos Campeões para pagamentos ilícitos a jogadores.

Rocher foi forçado a abandonar o Saint-Étienne em 1982. A disputa pelo poder rachou o clube, e a crise extra-campo logo se refletiu em resultados. A Era de Ouro tinha chegado ao fim. Dois anos depois, o clube amargava o regresso para a segunda divisão.

Roger Rocher acabaria por ser condenado e cumpriria pena por quatro meses em 1991. Morreria seis anos depois, com o Saint-Étienne como sombra do passado glorioso que viu em vida, e na segunda divisão.

O Saint-Étienne voltaria a elite em 1999, mas logo voltaria a se ver envolvo em escândalos, agora com um protagonista brasileiro: o clube teria usado passaportes falsos para inscrever Alex Dias. No fim, o time perdeu pontos no tribunal e foi novamente rebaixado em 2001.

Em 2004, o Saint-Étienne mais uma vez chegou a elite, e vem se mantendo, com certa dificuldade nos últimos anos, na primeira divisão. Longe de sua glória, o clube da pequena cidade do centro-leste francês viu seu recorde de títulos ser alcançado pelo milionário da capital Paris Saint-Germain.

1977/78

1977/78

1967/68, 1968/69, 1969/70

1967/68

1968/69

1969/70

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1967/68, 1969/70

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1969/70

1967, 1968, 1969

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Fonte: Ogol

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