Uma pesquisa realizada por pesquisadores do Instituto de Ciência Biomédicas (ICB) e do Instituto de Química (IQ) da Universidade de São Paulo (USP) apontou que existem riscos altos de surgirem novas variantes mais perigosas da Covid-19 nos próximos meses.
“A principal conclusão a que chegamos é que não devemos deixar o vírus circular, pois não sabemos como serão as variantes nos próximos meses”, ressalta a professora do ICB-USP e autora do estudo, Cristiane Guzzo, à revista Galileu.
“Estamos em uma situação confortável para os próximos meses, quando a imunidade induzida pelas doses de reforço das vacinas e pela grande disseminação da variante ômicron ainda estará alta. Mas, depois, a tendência é que as pessoas comecem a se infectar novamente e ficaremos sujeitos ao surgimento de variantes ainda mais contagiosas e fortes do que as já conhecidas, o que diminui a eficácia das vacinas. Como não temos meios de prever a evolução da pandemia e o comportamento das novas variantes, todo o cuidado ainda é necessário para evitar a circulação do vírus”, aponta.
Guzzo relata que é um grande erro decretar que a pandemia de Covid-19 não se trata mais de uma emergência sanitária, como fez o Ministério da Saúde na última semana.
Os pesquisadores revisaram mais de 150 artigos sobre o SARS-CoV-2 e analisaram aspectos do patógeno, como capacidade de evasão do sistema imune, potencial de mutação, transmissibilidade e até mesmo a eficácia das vacinas.
“Identificamos que 9,5% das mutações produzidas pelas variantes estão localizadas na região N Terminal [NTD] da proteína. Isso mostra que essas mutações não estão diretamente associadas à interação com o receptor humano ACE2, mas afetam principalmente a capacidade dos anticorpos reconhecerem o vírus”, contou a autora.
Foi possível concluir que o coronavírus é mais mutável do que se imaginava. Notou-se que a região que provoca a interação entre a proteína spike e o receptor ACE2 apresentou 7,7% de mutações, o que faz o número de infecções aumentarem.
“A maioria das vacinas busca estimular a produção de anticorpos que inibam a interação entre a proteína spike e o receptor ACE2, de forma a diminuir a infecção viral. Uma das formas pelas quais o patógeno consegue burlar essa inibição é modificando a região de interação com a célula humana”, explica.
Transmissão mais rápida
O estudo brasileiro afirma ainda que as pessoas infectadas pela Covid-19 estão começando a transmitir a doença cada vez mais cedo com a chegada de novas variantes do SARS-CoV-2.
“Vimos que 74% das transmissões pela delta foram feitas por assintomáticos. As pessoas infectadas pela cepa original começavam a transmitir o vírus um dia antes do início dos sintomas. Já no caso da delta isso passou a acontecer com dois dias de antecedência. São detalhes que mostram que o vírus está ampliando sua capacidade de se esconder em nosso organismo”, diz Guzzo.
Já assistiu aos novos vídeos no YouTube do Olhar Digital? Inscreva-se no canal!
Fonte: Olhar Digital
Comentários