Sempre que nos aproximamos de chuvas de meteoros ou, quando ocorre um grande bólido, circula na internet uma imagem muito popular, que relaciona a cor do meteoro à sua composição química. Mas será que isso é verdade?

Imagem que tenta relacionar a cor do meteoro à sua composição química
Imagem que tenta relacionar a cor do meteoro à sua composição química. Fonte: Reprodução/Facebook

Antes de qualquer coisa é bom lembrar que o meteoro é apenas o fenômeno luminoso gerado pela passagem atmosférica de um fragmento de rocha espacial. Logo quando se fala da composição do meteoro, o correto seria falar composição do meteoroide, ou seja, da rocha espacial.

Entenda no vídeo do Olhar Digital News:

Mesmo assim, a afirmação de que a cor do meteoro depende da composição do seu meteoroide é, na verdade, um mito.

Para compreendermos porque, é importante lembrarmos também que a luz é uma onda eletromagnética, e que as cores são definidas pelo comprimento de onda da luz, ou pela soma de vários feixes de diferentes comprimentos.

Relação entre a frequência da luz e o comprimento de onda
Relação entre a frequência da luz e o comprimento de onda. Com uma frequência maior (violeta) se têm um comprimento de onda menor, com uma frequência menor (vermelho) se têm um comprimento de onda maior. Fonte: LucasVB/wikimedia.org

A luz branca, por exemplo, é a soma de todas as cores visíveis. E quando iluminamos algo com uma luz branca, dependendo da composição da sua superfície, ela é capaz de absorver certos comprimentos de onda e refletir outros. Isso significa que a cor de tudo que você enxerga é definida pela capacidade de cada material refletir diferentes comprimentos de onda.

Da mesma forma, quando excitamos os átomos de determinada substância, eles emitem luz, e cada elemento químico vai emitir num comprimento de onda diferente. Por isso, a cor do fogo do palito de fósforo é diferente da chama do fogão. Então, por que a cor do meteoro não depende da composição do meteoróide?

Teste de chamas com cores diferentes elementos (verde: cobre, rosa: lítio e amarelo: sódio)
Teste de chamas com cores diferentes elementos (verde: cobre, rosa: lítio e amarelo: sódio). Fonte: Herge/wikimedia.org

Bom, primeiramente porque um meteoroide pode conter uma imensa variedade de materiais com diferentes concentrações. Dificilmente há uma preponderância de um único elemento químico o que faria com que sua vaporização emitisse uma cor única que pudesse ser distinguida pela visão humana. Para a maioria deles, essa mistura de materiais faria com que o meteoro emitisse simplesmente luz branca. Mas de onde vem então a cor de um meteoro?

Predominantemente da atmosfera. Isso porque a passagem de um meteoroide pela nossa atmosfera ocorre em velocidades muito elevadas. Com isso, a rocha espacial acaba comprimindo e aquecendo os gases atmosféricos a sua frente, formando uma bolha de plasma, que é o gás aquecido e ionizado. Para um meteoroide de apenas 1 grama, a bolha formada pode chegar a 100 metros de diâmetro. E é justamente essa bolha de plasma que emite a maior parte da luz visível de um meteoro.

Não é à toa que, normalmente, as cores de um meteoro são vermelho, verde, azul e branco (soma das outras cores), que são também as mesmas observadas nas auroras polares. Essas cores são as emitidas principalmente pelo oxigênio atômico, pelo nitrogênio molecular e pelo nitrogênio molecular ionizado, gases predominantes nas camadas atmosféricas onde ocorrem as auroras e os meteoros.

Auroras boreais vistas na Noruega
Auroras boreais vistas na Noruega. Créditos: Arctic light/Frank Olsen

Em resumo, a cor do meteoro vai depender basicamente da camada atmosférica por onde ele está passando. Nas camadas mais altas, acima dos 70 km, os meteoros são comumente esverdeados ou azulados. Abaixo disso, começam a ficar mais avermelhados.

A parte boa é que, ainda assim, é possível determinar a composição de um meteoroide através da análise do meteoro. Para isso, é necessário decompor a luz do meteoro extraindo seu espectro.

Isso pode ser feito com um prisma, uma grade de difração ou até mesmo com um CD descascado. Se colocado em frente a uma câmera de monitoramento, as minúsculas fendas do CD funcionam como um prisma, difratando a luz do meteoro e revelando os diversos comprimentos de onda que a compõem.

Meteoro registrado em uma câmera com grade de difração e análise do espectro gerado que concluiu tratar-se de um meteoroide ferroso
Meteoro registrado em uma câmera com grade de difração (esquerda) e análise do espectro gerado (direita), que concluiu tratar-se de um meteoróide ferroso. Créditos: Daniela Mourão/Rubens Damiglê/UNESP/BRAMON

Com a luz decomposta, basta subtrair o espectro conhecido da atmosfera, e o que sobra é o espectro da luz emitida pelo meteoroide. A partir dele podemos determinar os principais elementos presentes na rocha espacial, mesmo que ela tenha sido completamente vaporizada pela atmosfera. Como é linda a Ciência, não é?

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