O Núcleo São Joaquim, chácara com área de 3 hectares localizada nas margens da Estrada da Gameleira, distante apenas três quilômetros de Campo Grande, começa a se transformar num modelo de ocupação sustentável em que todos os impactos impingidos ao meio ambiente são amenizados e transformados em benefício da natureza e onde a tecnologia é importante aliada na busca de soluções conservacionistas. O Projeto Sustentabio foi contemplado no Edital de Chamamento Público n° 001/2021 do Funles (Fundo Estadual de Defesa e Reparação de Direitos Difusos e Lesados) e vai receber R$ 149.445,45 para cumprir um extenso cronograma de ações e adquirir uma lista de equipamentos e materiais.
O Núcleo São Joaquim é a sede do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal, que já desenvolve uma série de atividades com cerca de 50 famílias associadas e residentes na região. O presidente do Centro, Bruno Barbosa Araújo, explica que com os recursos do Funles será possível estruturar e implantar na completude o projeto de sustentabilidade planejado para a chácara, que passou por um processo de profunda transformação desde que se tornou sede da entidade.
Ele conta que a área, adquirida há mais de 20 anos pela entidade, era ocupada por pasto, foi feito um trabalho de recuperação do solo e plantio de milhares de mudas de árvores de espécies nativas, intercaladas de pés de mamona, mamão, abacaxi e outras frutas. Todo o trabalho é feito de forma voluntária pelos associados; o sistema agroflorestal já traz resultados robustos para o meio ambiente e agora, com a implantação do Projeto Sustentabio, o processo de sustentabilidade será completado.
O projeto
Bruno Araújo explica ao que se propõe o Projeto Sustentabio. “Por meio de uma linha autossustentável firmada em três eixos: Florestal; Residual e Humano, o projeto vai complementar ações já existentes e implementar novas, de modo a dar aproveitamento a todo resíduo produzido no local, convertido em fertilizante para as plantas que, por sua vez, são usufruídas por todos os frequentadores do Núcleo”.
O projeto consiste na ampliação da experiência agroflorestal que transformou a área de pastagem numa exuberante floresta. Para tanto serão adquiridos maquinários como triturador, moto-poda, motosserra, além de readequar e ampliar o sistema de irrigação.
Também serão implantadas composteiras para transformar os resíduos orgânicos produzidos no local e também pelas 50 famílias que frequentam o Núcleo em adubo, que será utilizado na correção do solo do sistema agroflorestal. As composteiras terão capacidade para receber 7,2 toneladas de resíduos a cada 60 dias, período máximo que demorará para serem transformados em adubo. “O sistema é formado por gaiolas que comportam 0,8 m³ de resíduo orgânico bruto cada, com irrigação automática. Este modelo já foi implantado em outras localidades e apresentou bom resultado no enriquecimento do solo”, afirma.
Outra tecnologia importante que será implantada no Recanto com recursos do projeto é o Tanque de Evapotranspiração (TEVAP), um sistema natural de tratamento dos efluentes líquidos oriundos das instalações sanitárias. Trata-se de um tanque com 45 metros quadrados de área escavado na terra a uma profundidade de 1,2 metro. Essa estrutura é toda revestida em alvenaria e impermeabilizada. Em seguida recebe uma tubulação feita com pneus, onde serão armazenados os dejetos vindos dos sanitários. O fundo do tanque recebe uma camada de entulho de construção em pedaços maiores, em seguida outra camada pedaços menores, após uma camada de brita, areia e por fim, tudo é encoberto por terra. Na superfície são plantadas espécies como bananeira ou taioba, de raízes curtas e com alta capacidade de absorção de água.
O espaço interno dos pneus é a câmara de digestão dos resíduos, onde atuam bactérias orgânicas promovendo as quatro fases da digestão anaeróbia (hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese). Desse processo resultam dois subprodutos: um gasoso e outro líquido. O gasoso segue para o solo e em sua maior parte será degradado por bactérias metanotróficas, enquanto o líquido ascende à superfície para alimentar as plantas.
Por fim, será implantado também um sistema de geração de energia solar para atender a demanda de todo Núcleo. “Dessa forma se complementam os três eixos do projeto, da atividade agroflorestal e de gestão de resíduos com uso de energia limpa”, completa Araújo. O projeto tem prazo de 12 meses para ser implantado. A ideia é transformar o Núcleo em sala de aula prática de educação ambiental e modelo para quem pretenda implantar essas tecnologias em sua propriedade.
Funles
O Funles recebe recursos de decisões judiciais como compensação por danos causados ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, à ordem urbanística ou a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Seu Conselho Gestor é integrado por representantes da Semagro, Seinfra, Segov, Sedhast, MPE, OAB, Instituto de Capoeira Cordão de Ouro, Instituto da Mulher Negra do Pantanal, Fundação Neotrópica Brasil, e a Presidência exercida pelo secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar, Jaime Verruck.
Desde que foi reativado, em 2015, o Funles lançou três editais contemplando 40 projetos com R$ 5.593.718,11 para ações em diferentes áreas. Além disso, o Conselho Gestor aprovou a destinação de recursos para outros dois projetos importantes: R$ 258 mil para elaboração do projeto da restauração do Castelinho de Ponta Porã, prédio histórico que já foi sede do antigo Território de Ponta Porã e da Polícia Militar; e R$ 500 mil construção da Escola Municipal de Educação Integral Polo São Lourenço, no Pantanal do Paiaguás, em Corumbá.
Nesse último edital, lançado no fim do ano passado, foram contempladas 25 entidades da sociedade civil para custear projetos nas áreas ambiental, artística, histórica, estética, turística e paisagística; em apoio a direitos de grupos raciais, étnicos e religiosos, e de outros direitos difusos e coletivos. O valor total disponibilizado nesse último edital foi de R$ 3,1 milhões. Todos os projetos são acompanhados por servidores da Semagro e é exigida rigorosa prestação de contas.
João Prestes, Semagro
Fotos: Divulgação
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