Gilberto Kassab, cacique do partido, deve liberar os diretórios estaduais; Amazonas e Bahia querem Lula, enquanto Ceará opta por Ciro Gomes; no Sul do país, prevalece o apoio a Bolsonaro
Conhecido como um dos maiores articuladores da política brasileira, Gilberto Kassab viu todas as suas tentativas de lançar um candidato próprio à Presidência da República fracassarem. Ainda em 2021, o cacique do PSD já colocava na mesa as primeiras cartas para as eleições de 2022. Em outubro daquele ano, o ex-prefeito de São Paulo anunciava o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, como o pré-candidato da sigla ao Palácio do Planalto. Cinco meses depois, o senador pulou do barco. O dirigente, então, partiu para o plano B: trazer o então governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), para a sua legenda e lançá-lo como presidenciável. Depois de muitas conversas, o gaúcho decidiu por permanecer no ninho tucano, e Kassab ficou – mais uma vez – sem um representante para o seu projeto. A última cartada, também frustrada, foi a sondagem ao ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung. A pouco menos de cinco meses do pleito, Kassab tem sido cortejado, sobretudo, pelo ex-presidente Lula (PT), que sonha em ter o PSD em seu arco de alianças ainda no primeiro turno. Para tentar definir qual caminho será trilhado pela sigla, o mandatário consultou os diretórios estaduais. Levantamento feito pela Jovem Pan junto a pessedistas tenta responder ao seguinte questionamento: para onde apontará a bússola do PSD em outubro deste ano?
Segundo apurou a reportagem, dos 27 diretórios consultados, apenas 12 responderam a sondagem de Kassab. Desses, nove ainda batem na tecla de uma postulação própria. O problema é que o PSD não tem nenhum nome em vista, o que é admitido por pessoas próximas do ex-prefeito. Nesse caso, os diretórios do Rio de Janeiro, Amapá, Paraná, Rio Grande do Sul, Pará, Alagoas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Acre defendem que cada um fique livre para apoiar quem preferir. No Amazonas e na Bahia, está definido o apoio a Lula. Os cearenses, por sua vez, estão com Ciro Gomes (PDT), ex-governador do Estado. No Mato Grosso do Sul, Estado da senadora Simone Tebet, pré-candidata pelo MDB, deputados apontam a possibilidade de apoiar a terceira via — o autointitulado “centro-democrático” pretende anunciar, até o dia 18 de maio, o candidato que representará o bloco que também é formado pelo PSDB e pelo Cidadania. Outro nome que está no páreo é o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB).
No Paraná, a tendência é que o diretório apoie Jair Bolsonaro (PL). O governador Ratinho Júnior (PSD) é um dos poucos gestores estaduais alinhados ao Planalto. Em Roraima, o presidente do diretório, Haroldo Alves Campos — levando em consideração que ainda não há uma definição de quem será o suposto candidato da terceira via — deverá orientar o partido a votar no atual chefe do Executivo. Em Goiás, há uma inclinação majoritária dos integrantes em apoio a Bolsonaro, mas também há divisão dentro do Estado. Dessa forma, o diretório deve seguir a orientação de Kassab e liberar os filiados para declararem apoio a quem desejarem. Os diretórios do Amapá, Rio Grande do Sul e Sergipe dizem que a discussão ainda é embrionária. Os amapaenses só decidirão sobre o apoio na convenção. No Rio Grande do Sul, o foco é montar as nominatas. Em Sergipe, segundo disse à reportagem o deputado federal Fabio Mitidieri, há um “agrupamento muito plural”. “Há partidários que apoiam o presidente Lula, outros que apoiam o Ciro, aliados que apoiam o Bolsonaro. Uma frente muito ampla que não deve fechar questão. Eu, particularmente, apoio o presidente Lula aqui”, afirmou.
O caso de Minas Gerais, um dos maiores colégios eleitorais do país, é complexo. O ex-prefeito de Belo Horizonte e pré-candidato ao governo do Estado Alexandre Kalil (PSD) busca costurar um acordo de troca de apoio com o ex-presidente Lula (PT). Ocorre que o próprio Kalil tem colocado entraves para a aliança – o ex-presidente do Atlético-MG costuma dizer a interlocutores que espera uma formalização explícita dos petistas e não um “namoro escondido”. Do lado do PT, há a intenção de indicar o deputado federal Reginaldo Lopes, líder da sigla na Câmara dos Deputados, ao Senado Federal na chapa do pessedista. O impasse reside na intenção do partido de Kassab de consolidar uma chapa pura, ou seja, além de Kalil, a vaga para o Senado seria ocupada por Alexandre Silveira, que assumiu o mandato após o então senador Antonio Anastasia ser aprovado para o Tribunal de Contas da União (TCU), e o posto de vice-governador, com o deputado estadual Agostinho Patrus, que trocou o PV pelo PSD recentemente. De acordo com as pesquisas de intenção de voto, Kalil está atrás de Zema (Novo), que busca a reeleição e conta com o apoio de Bolsonaro. É exatamente por isso que a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, costuma dizer que Minas é um caso de mão dupla: para ser eleito presidente, Lula precisa de um desempenho em território mineiro; por outro lado, o ex-prefeito da capital precisa do ex-presidente para se tornar competitivo.
A situação em Minas é tão particular que, diante da falta de acordo entre as duas legendas, o PSD pode decidir apoiar Bolsonaro, e não Lula. O senador Alexandre Silveira está cada vez mais perto de se tornar o líder do governo federal na Casa, em um movimento bastante simbólico. Um interlocutor do parlamentar disse acompanhar “integralmente” o senador no apoio ao presidente. Segundo esta mesma fonte, 100% dos deputados federais do PSD mineiro estão com Bolsonaro, assim como quase a maioria absoluta dos prefeitos e prefeitas. Kassab já afirmou publicamente que seu partido não irá apoiar a reeleição do atual mandatário do país. Diante do quadro que se avizinha, é bem provável que ele tenha que entrar em campo para colocar sua conhecida habilidade de articulação à prova.
Fonte: Jovem Pan News
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