A Lucid vai construir sua terceira fábrica — a primeira fora dos EUA — na Cidade Econômica Rei Abdullah (Kaec, na sigla em inglês), uma megacidade construída no deserto pelo governo da Arábia Saudita com capacidade para acomodar duas milhões de pessoas. A localidade fica 100 quilômetros ao norte da cidade de Jedá, uma das principais do país.
Com o acordo, confirmado na quarta-feira (18), a Lucid planeja acumular US$ 3,4 bilhões (em torno de R$ 16,5 bilhões) em incentivos nos próximos 15 anos para construir e operar uma fábrica de última geração no deserto da Arábia. A unidade será capaz de produzir 155 mil veículos elétricos por ano e atenderá inicialmente apenas o mercado local. Posteriormente, os carros serão exportados para outros mercados.
A fábrica se encontra no que é considerado o “vale industrial” da Kaec, próxima do porto da cidade — o principal corredor comercial do Mar Vermelho, responsável por movimentar mais de um terço dos volumes de contêineres na região oeste da Arábia Saudita. A sede regional da Lucid no Oriente Médio, em Riad, funciona desde o ano passado.
O envolvimento da Lucid com os muçulmanos vem desde 2018, quando a empresa da Califórnia — criada por um ex-investidor da Tesla — fez um acordo de financiamento com o PIF (Fundo de Investimento Público, na sigla em inglês) da Arábia Saudita em troca de uma fábrica no lugar. A planta foi confirmada em fevereiro e agora as duas partes fizeram um evento cerimonial de assinatura para oficializar a construção da planta.
No mês passado, o ministério das finanças da Arábia Saudita concluiu um acordo com a Lucid para comprar 50 mil veículos nos próximos dez anos. O preço será definido pelo menor valor do varejo padrão para o mercado árabe, além de custos de logística, importação e homologação. Em uma primeira fase, a montadora produzirá de 1 mil a 2 mil veículos anuais, com a perspectiva de subir para entre 4 mil e 7 mil até 2025.
Contexto humanitário ruim
A Lucid nomeou a unidade da Arábia Saudita como “AMP-2” (Planta de Manufatura Avançada nº 2, na tradução do acrônimo em português). Inicialmente, a operação vai remontar veículos pré-fabricados nas instalações da empresa — a “AMP-1” — em Casa Grande, no Arizona (EUA). Com o tempo, ela deve começar a produzir os veículos. As entregas no Oriente Médio também serão feitas com o apoio da fábrica do Arizona.
No pano de fundo para os planos econômicos da Lucid, no entanto, o contexto humanitário na Arábia Saudita não é o mais favorável. Em outubro de 2018, poucos meses após a empresa americana anunciar sua intenção de construir uma fábrica no país, o jornalista Ahmad Khashoggi foi esquartejado e morto no consulado saudita em Istambul, na Turquia. O herdeiro do trono saudita, o príncipe Mohammed bin Salman, é acusado de ter ordenado seu assassinato.
Neste sentido, é pouco justificável a instalação de uma fábrica na Arábia. Empresas transnacionais, em geral, querem estabelecer filiais em locais onde a segurança jurídica é garantida. A fuga de capital externo da Rússia por conta do conflito com a Ucrânia é uma prova de como uma aposta em um lugar instável pode dar errado.
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Fonte: Olhar Digital
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