Um estudo liderado por pesquisadores da Universidade da Califórnia (UC), nos EUA, mostra como os cérebros dos morcegos Rousettus aegyptiacus, uma espécie frugívora (que se alimenta de frutas), são altamente especializados para ecolocalização e fuga.
Segundo a pesquisa, publicada nesta quarta-feira (25) na revista Current Biology, determinadas áreas motoras do córtex cerebral desses animais são dedicadas à produção de sonar e ao controle das asas.
Embora representem um quarto de todas as espécies de mamíferos vivos, esta é a primeira vez que os morcegos têm o córtex motor completo mapeado, de acordo com o primeiro autor do estudo, Andrew Halley, pesquisador de pós-doutorado no Laboratório de Neurobiologia Evolutiva do Centro de Neurociências da UC Davis, chefiado pela professora Leah Krubitzer.
Usando eletrodos para estimular diferentes áreas cerebrais em morcegos anestesiados, os cientistas buscaram determinar os movimentos dos músculos e dos membros produzidos a partir da estimulação. Enquanto teorias clássicas da organização do córtex motor defendem que os músculos individuais estão representados no córtex motor, o novo estudo encontrou evidências de movimentos complexos em diversas regiões do corpo.
A espécie analisada é incomum entre os morcegos porque sonoriza usando sua língua, em vez de sua laringe, como faz a maioria dos morcegos ecolocantes. Os morcegos frugívoros são conhecidos por terem controle motor preciso de sua língua e são capazes de mirar feixes de sonar em diferentes direções simplesmente manipulando suas línguas dentro de suas bocas, sem mover suas cabeças.
Segundo Halley, o córtex motor do animal tem uma região extraordinariamente grande que representa movimentos da língua. Mais de 40% do córtex sensorial e motor que foi estimulado produziu movimentos da língua — muito mais do que em outras espécies que foram estudadas, como primatas e roedores.
Organização cerebral de morcegos pode ajudar a entender o cérebro funcionamento do humano
Esse estudo faz parte de um projeto comparativo maior no laboratório de Krubitzer que mostrou que as regiões motoras do cérebro estão organizadas de acordo com diferenças em seus corpos e comportamentos. “Se você olhar para um macaco rhesus, uma enorme quantidade do córtex é dedicada às emoções”, disse Krubitzer.
A asa de um morcego é composta de membranas que se espalham pelos “dedos” de seu membro dianteiro e voltam para sua perna traseira e cauda. O movimento de qualquer uma dessas partes do corpo pode afetar a forma da asa e mudar o caminho de voo.
Segundo o que os pesquisadores descobriram, poucas áreas do córtex motor representavam apenas o movimento dos membros dianteiros. Em vez disso, a grande maioria do córtex representava movimentos sinérgicos de ombro e de subida traseira. Isso reflete o fato de que quando esses morcegos voam, a força para o movimento das asas vem dos músculos do ombro, enquanto os pequenos gestos necessários para voar vêm de ações coordenadas dos músculos do ombro e da perna traseira.
Enquanto os movimentos dos membros dianteiros eram geralmente associados aos dos traseiros, outras áreas do córtex produziam movimentos apenas dos músculos inferiores. Estes provavelmente estão envolvidos nos comportamentos locomotores dos morcegos, “andando” em árvores segurando galhos com seus pés.
“Olhar para a organização cerebral em uma grande variedade de mamíferos nos ajuda a entender melhor nossos próprios cérebros”, disse Krubitzer. “Quando podemos olhar através das espécies, torna-se uma abordagem realmente poderosa para fazer extrapolações para a condição humana”.
Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Fonte: Olhar Digital
Comentários