Desde que os primeiros satélites Starlink foram lançados, em 2019, a SpaceX já colocou mais de 2,3 mil deles em órbita baixa da Terra, com planos de chegar a 42 mil equipamentos, formando uma gigantesca megaconstelação para cobrir uma extensa rede de internet banda larga em todo o mundo. Para a China, no entanto, as intenções da empresa de Elon Musk têm propósitos escusos, que podem representar uma “ameaça à segurança nacional” do país.

Com mais de 2,3 mil satélites implantados e em funcionamento na órbita baixa da Terra, a Starlink é vista pela China como uma “ameaça à segurança nacional”. Imagem: AleksandrMorrisovic/Shutterstock

Por essa razão, pesquisadores militares chineses buscam uma maneira de acabar com a Starlink, seja desativando o sistema ou, até mesmo, destruindo os satélites. Um artigo publicado na revista China’s Modern Defense Technology descreve as preocupações e algumas propostas de ação.

Segundo o documento, a constelação Starlink tem potenciais capacidades militares, que os autores afirmam que poderiam ser usadas para rastrear mísseis hipersônicos, aumentar drasticamente as velocidades de transmissão de dados de drones dos EUA e jatos de caças furtivos ou mesmo se chocar propositalmente com satélites chineses. 

“Uma combinação de métodos de hard kill e soft kill deve ser adotada para fazer com que alguns satélites Starlink percam suas funções e destruam o sistema operacional da constelação”, disse Ren Yuanzhen, pesquisador do Instituto de Rastreamento e Telecomunicações de Pequim, que faz parte da Força de Apoio Estratégico dos militares chineses. 

Traduzidos como “morte dura” e “morte suave”, os termos se referem a duas categorias de armas espaciais, com o hard sendo armas que atingem fisicamente seus alvos (como mísseis) e o soft relacionado a dispositivos de interferência e armas a laser.

EUA dizem que a China tem variedade de métodos para desativar satélites

De acordo com o Departamento de Defesa dos EUA, a China já tem vários métodos para desativar satélites, como bloqueadores de micro-ondas que podem interromper as comunicações ou queimar componentes elétricos, além de equipamentos a laser de resolução milimétrica que podem cegar os sensores, armas cibernéticas para invadir redes de transmissão, e mísseis antissatélite de longo alcance (ASAT).

No entanto, os autores do artigo chinês dizem que essas medidas, que são eficazes contra satélites avulsos, não serão suficientes para destruir os da Starlink. “A constelação Starlink constitui um sistema descentralizado. O confronto não é sobre satélites individuais, mas sobre todo o sistema”, escreveram os pesquisadores, acrescentando que um ataque ao sistema Starlink exigiria “algumas medidas de baixo custo e alta eficiência”.

Segundo o site Space.com, o documento não deixa claro o suficiente quais seriam exatamente essas medidas. Basicamente, os pesquisadores propõem que a China construa seus próprios satélites espiões para vigiar a Starlink, encontre maneiras novas e aprimoradas de hackear sistemas e desenvolva métodos mais eficientes para derrubar vários satélites em uma rede descentralizada. Isso poderia vir por meio da implantação de lasers, armas de micro-ondas ou satélites menores que poderiam ser usados para incendiar satélites da Starlink. 

Paralelamente, a China também está procurando competir diretamente com a empresa de Elon Musk lançando sua própria rede de satélites: a Xing Wang, ou Starnet, que também visa fornecer acesso global à internet.

Um relatório recentemente divulgado pelo Departamento de Defesa norte-americano diz que a China mais do que dobrou seu número de satélites de inteligência, vigilância e reconhecimento (ISR) desde 2019, passando de 124 para 250. 

No início de 2022, o número total de satélites da China, incluindo os não-ISR, era de 499, o que coloca o país em segundo lugar no ranking das nações com mais satélites em órbita. Em primeiro, obviamente, estão os EUA, com 2.944 (considerando os da Starlink).