De indígenas à africanos. Seres humanos que foram explorados, escravizados e nem tiveram o corpo velado sob o olhar dos seus familiares. Onde ficaram os restos mortais? Na Universidade de Harvard. Pelo menos é o que diz um relatório que vazou, nesta quinta-feira (2), informando que pelo menos 7 mil corpos de nativos norte-americanos e 19 de descendentes africanos possivelmente escravizados continuam no Museu Peabody de Arqueologia e Etnografia da faculdade.
Contrariando lei federal
Caso a denúncia seja comprovada, tudo indica que uma lei federal de 1990 foi desrespeitada por uma das Universidades de maior renome do mundo.
Segundo a legislação norte-americana, os restos mortais deveriam ser enviados aos familiares, mesmo que, para isso, seja necessária uma investigação para encontrar descendentes apropriados ou grupos de afinidades. Do contrário, há um nítido exemplo de racismo estrutural e institucional.
Incógnita no ar
No entanto, há muitas controvérsias na notícia. Um comitê composto por curadores de museus, professores e funcionários da faculdade preferiu se ausentar dos comentários.
O grupo tem como integrante o renomado estudioso afro-americano Henry Louis Gates Jr, que também não se manifestou sobre o assunto.
A história foi divulgada por um repórter da Crimson Education, uma consultoria fundada por ex-alunos de Harvard, que está sendo amplamente criticado.
A presidente do comitê, Evelynn M. Hammonds, divulgou uma declaração informando que “é profundamente frustrante que o Harvard Crimson tenha escolhido divulgar um relatório preliminar inicial e incompleto do Comitê de restos humanos”.
O jornalista não divulgou as fontes da informação e se recusou a responder às perguntas sobre como obteve o relatório.
Compromisso histórico
Apesar da denúncia, o comitê responsável pelo retorno de restos humanos indígenas já repatriou, nos últimos 32 anos, restos mortais de 3.000 dos 10.000 indivíduos que detinha, segundo informações oficiais.
A diretora do Peabody, Jane Pickering, pediu desculpas formalmente em janeiro de 2021 pelo ritmo lento e “por não confrontar práticas históricas de coleta e administração de todos esses restos humanos e pelo fracasso como instituição em enfrentar as questões éticas e morais que marcaram todas as situações vivenciadas pelo museu em relação ao tema”.
Apesar dos pedidos de desculpas, há vários processos em andamento contra Harvard, muitos por conta da mesma problemática, incluindo daguerreótipos de um homem escravizado e sua filha, que foi forçada a posar nua para um cientista racista em 1850.
Fatos tão evidentes que a Universidade de Harvard divulgou um relatório sobre o envolvimento de profissionais da instituição com a escravidão, compromentendo-se a reparar os danos das injustiças no valor de US$ 100 milhões.
Dinheiro que jamais apagará as marcas de um passado que ainda persiste em se repetir na atualidade em várias situações humanas.
Via: The Washington Post
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Fonte: Olhar Digital
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