Professor de Relações Internacionais avalia que Moscou e Kiev perderam a oportunidade de buscar um acordo viável por exigências de ambas as partes; cenário é ‘pouco promissor’ e guerra deve continuar
A invasão da Rússia à Ucrânia chega ao 100º dia nesta sexta-feira, 3, sem perspectiva de um cessar-fogo. A avaliação é que tanto Moscou quanto Kiev perderam a oportunidade, na terceira semana dos conflitos, de encontrar um acordo favorável para ambos, cenário que não deve ser possível a longo prazo. “Tanto a Rússia que não conseguiu tomar o poder rapidamente, tanto Zelensky continuou, e também percebeu que haveria uma resistência maior, quanto a Ucrânia, que teve a oportunidade de apresentar uma proposta de neutralidade em termos internacionais, o que seria a não entrada na Otan e também a não associação à Rússia”, inicia Manuel Furriela, professor de Relações Internacionais da FMU. Ele explica que o Kremlin perdeu o “timing” pelas propostas apresentadas, ao mesmo tempo que Kiev, com amplo apoio internacional e promessas de recursos, acabou fazendo “exigências adicionais”, o que impediu o acordo.
“Perdeu-se o timing e a oportunidade mais próxima de composição. […] O cenário atual não é promissor, a guerra tende a continuar. E a Rússia a redesenhar outras formas de manter seus interesses”, completou Furriela, que vê a possibilidade da criação de um terceiro Estado na região atualmente comandada pelas tropas de Moscou e que representam pelo menos 20% do território ucraniano. “Não acredito que a Rússia vai perder a oportunidade de se consolidar na região da Moldávia. Então, seria a consolidação de uma região sob influência russa, seja por integração ao seu território ou de terceiro Estado criado.”
Questionado sobre o motivo das sanções, impostas pelos Estados Unidos e países europeus, principalmente, não terem funcionado, Manuel Furriela reforçou que há um impacto considerável na Rússia, com perspectivas de piora nos próximos meses, com Moscou sendo considerado um “parceiro não confiável” para contratos futuros. No entanto, os bloqueios também podem se voltar contra o Ocidente, servindo de justificativa para os erros de Vladimir Putin. “O problema das sanções podem alimentar uma verdadeira rejeição ao mundo ocidental, considerando esses responsáveis pelos seus problemas econômicos. […] Então, os problemas começaram e vão continuar, mas Putin pode utilizar como justificativa as decisões exteriores e não os seus erros de gestão”, concluiu.
Fonte: Jovem Pan News
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