Quem vê um canivete suíço hoje provavelmente imagina como o homem mais antigo fazia para conduzir certas tarefas tornadas tão mais simples graças a essa comodidade contemporânea. E a resposta é simples: eles…também tinham sua própria versão de uma ferramenta multiuso.
Segundo um novo estudo, publicado no Scientific Reports, o período conhecido como “Howiesons Poort” foi, possivelmente, a primeira revolução tecnológica e cultural da qual se tem notícia: ocorrida entre os anos 65.800 e 59.500 antes do período presente (também referido como “antes de Cristo” ou “a.C”), essa época marcou a troca de presentes em caráter cultural (ou seja, não era apenas a troca de um bem por outro) e pela adoção de ferramentas com design comum e de uso a longo prazo.
Tais ferramentas são conhecidas como “artefatos de apoio”, e uma delas, feita em pedra e portando não mais que cinco centímetros (cm) de tamanho, possivelmente era uma das mais úteis da época, devido à sua capacidade de cortar, rasgar e perfurar, sendo aplicada nos trabalhos com couro de caça, ornamentos de ossos e até afiar objetos maiores feitos em madeira.
Em outras palavras: um canivete suíço pré-histórico.
Segundo o estudo, não é a existência do artefato em si que empolgou os cientistas, mas a sua aparição em várias regiões aparentemente desconectadas. Da China antiga à Europa pré-histórica, versões similares desse objeto foram escavadas em vários sítios arqueológicos.
Isso é relevante pois mostra que, em algum momento da história, nós conseguimos criar um design perene, que atendeu a todo tipo de necessidade, independente de região: “a nossa análise morfométrica demonstra que os artefatos de apoio de Howiesons Poort foram feitos em um template similar através de longas distâncias e múltiplos biomas”, diz trecho do estudo.
Ou seja: a única forma de essas ferramentas serem tão similares é se humanos da época, em várias regiões, estivessem convivendo entre si.
“Apesar da criação desse instrumento de pedra não ser particularmente difícil, anexar essa pedra a um cabo por meio de cola e adesivos era mais complicado, o que ressalta que eles [humanos da época] estavam compartilhando e comunicando informações complexas entre si”, disse Paloma de la Peña, co-autora do estudo e assistente sênior de pesquisa do Instituto de Pesquisa Arqueológica McDonald, ligado à Universidade de Cambridge.
“O que também nos impressionou foi a abundância de ferramentas feitas no mesmo formato, o que coincidiu com as grandes mudanças nas condições climáticas. Nós acreditamos que isso é uma resposta social ao ambiente em plena mudança no sul da África”, ela comentou.
Para os autores do estudo, a presença distribuída do “canivete suíço pré-histórico” é prova de que, face a diversos tipos de obstáculos, o que assegurou a sobrevivência da humanidade sempre foi a nossa capacidade de se comunicar e compartilhar informações. O homem veio da África, e vinha deixando a região em busca de outros locais para viver, se alimentar e se reproduzir.
“As pessoas têm deixado a África a centenas de milhares de anos, e temos evidências da presença dos primeiros Homo Sapiens na Grécia e no Levante há cerca de 200 mil anos”, disse Amy Way, arqueóloga do Museu da Austrália e da Universidade de Sydney, e também co-autora do estudo. “Mas essas saídas antigas foram menores em relação ao grande êxodo de cerca de 60 mil ou 70 mil anos atrás, que envolveu os ancestrais de todas as pessoas modernas que vivem fora da África hoje”.
Nesse mesmo período de tempo, o ancestral do canivete suíço também começou a aparecer, o que é um indício forte de que os humanos do “grande êxodo africano”, já vinham se relacionando entre si antes da mudança de local. E continuaram passando seus conhecimentos conforme avançavam para outras terras.
Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Fonte: Olhar Digital
Comentários