Para encontrar respostas sobre a origem da vida, os cientistas não olham apenas para o que acontece dentro da Terra, mas também fora dela. Aliás, é assim que, por exemplo, a idade do mundo é medida, não apenas analisando materiais extraídos do solo do nosso planeta, mas também de asteroides que caem ou passam por ele.
Diversos estudos já indicaram que a vida na Terra pode ter tido uma contribuição muito importante dos meteoritos e asteroides que caíram aqui há milhões de anos. Já que os materiais deixados podem ter sido fundamentais na formação dos seres vivos. Pensando nisso, uma pesquisa brasileira simulou o impacto de um meteorito no nosso planeta para entender a estrutura das moléculas após a queda e se haveria ou não a geração de proteínas.
Para alcançar o feito, pesquisadores da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (FCA-Unicamp) contaram com a ajuda de cientistas da Kyushu University, no Japão. A instituição japonesa tem histórico na área e foi responsável pela análise do meteorito Ryugu, encontrado na Terra em dezembro de 2020, como foi noticiado pelo Olhar Digital recentemente.
Meteoritos e a origem da vida
A simulação do impacto dos meteoritos na Terra foi feita em pequena escala utilizando uma técnica inédita. Os cientistas pegaram uma pequena quantidade de aminoácido glicina e submeteram à mostra em um HTC (método de altíssima pressão e torção na tradução para o português).
O resultado foi surpreendente: a glicina não gerou uma proteína sob as condições testadas, mas explodiu com tal força que chegou a danificar parte do equipamento utilizado na simulação, sendo parcialmente decomposta em etanol e outros subprodutos ainda não identificados. Ou seja, ela não gerou proteínas.
“O resultado foi uma novidade, porque normalmente estamos preocupados com a reação inversa, de formação de glicina, não com sua degradação e geração de subprodutos. Os dados podem explicar a presença de etanol em alguns ambientes no meio astrofísico”, explica Douglas Galante, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e colaborador da pesquisa à FAPESP.
As próximas fases do estudo envolvem investigar as reações do aminoácido misturado com outros componentes como minerais e metais. “A amostra de glicina que usamos era um tipo de pó compacto em formato de botão, semelhante ao sal de cozinha. Depois da explosão, ela virou um material muito duro”, completa Ricardo Floriano, coordenador da pesquisa.
Apesar de não ter gerado a reação esperada, o resultado pode indicar uma reação capaz de ter contribuído para a origem da vida. “Muitas perguntas podem ser feitas agora, a partir deste experimento – são novas fronteiras de estudo. Estamos lidando com a astrobiologia e as explicações para a origem da vida na Terra, do ponto de vista científico e acadêmico, ainda estão em aberto. Considero que contribuímos com duas peças do quebra-cabeça”, finaliza o professor Augusto Luchessi, um dos líderes do estudo.
Fonte: Olhar Digital
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