Na segunda-feira (13), a Agência Espacial Europeia (ESA) liberou o terceiro lote de dados da missão Gaia, que desde 2013 vem coletando informações detalhadas sobre a Via Láctea. Nesse novo pacote, uma série de corpos celestes e eventos cósmicos foram registrados com uma precisão sem precedentes, formando o mais detalhado mapa já produzido da nossa galáxia.
Graças às informações coletadas pela sonda, o mapa tridimensional atualizado da Via Láctea contém dados de localização de 1,8 bilhões de estrelas e suas características, como composição química, temperaturas, cores, massas, idades e velocidade radial.
Além disso, o mapeamento também abrange o maior conjunto de dados já coletados sobre estrelas binárias, 156 mil asteroides, 31 luas de planetas (como Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno), 1,9 milhão de quasares e 2,9 milhões de galáxias satélites.
Embora os números sejam impressionantes, é importante salientar que esse levantamento cobre apenas 1% da quantidade total de estrelas da Via Láctea – volume suficiente, no entanto, para que os astrônomos possam modelar a estrutura da galáxia e consigam entender como se deu sua evolução.
Parte das informações foram obtidas por espectroscopia, uma técnica por meio da qual a luz das estrelas é setorizada em suas cores constituintes. Isso revelou subconjuntos especiais, como estrelas que mudam de brilho com o passar do tempo, além de eventos chamados “terremotos estelares”, vibrações que são quase como tsunamis em larga escala e que afetam a forma global das estrelas.
Segundo Eduardo Balbinot, pesquisador de pós-doutorado em astrofísica na Universidade de Groningen, na Holanda, essas estrelas variáveis podem evidenciar remanescentes de colisões antigas com aglomerados globulares espalhados pelo halo galáctico, na forma de “conchas” esféricas. A análise dessas conchas pode revelar muito sobre a anatomia dos eventos que lhes deram origem bilhões de anos atrás.
“Há muitas coisas que você pode inferir se medir a distância dessas conchas”, disse Balbinot. “Você pode reconstruir como esses eventos de acreção aconteceram em detalhes, qual foi a órbita d a galáxia satélite que caiu na Via Láctea e assim por diante”.
Passado e futuro da Via Láctea nos dados da missão Gaia
O levantamento também permitiu descobrir que os últimos bilhões de anos foram bem pacíficos para a Via Láctea, haja vista, por exemplo, que as estrelas têm nascido e morrido em uma velocidade constante, após um período turbulento na “infância” da galáxia.
No entanto, segundo os pesquisadores, parece que as coisas vão voltar a ficar difíceis no futuro. Os astrônomos já preveem a próxima colisão galáctica: a fusão com duas galáxias anãs na órbita da Via Láctea, conhecidas como Grande Nuvem de Magalhães e Pequena Nuvem de Magalhães.
“As nuvens de Magalhães entraram em órbita ao redor da Via Láctea recentemente, nos últimos bilhões de anos”, disse ao site Space.com Anthony Brown, astrônomo da Universidade de Leiden, na Holanda, e presidente do Consórcio de Processamento e Análise de Dados da missão Gaia. “Já as vemos tendo uma influência no campo de força gravitacional da Via Láctea, e se reconstruirmos o passado muito bem, poderemos ser capazes de levar tudo adiante e ver quando elas se fundirão com a Via Láctea”.
Outra previsão possível graças ao mapeamento feito com base nos dados de Gaia é o evento mais cataclísmico que está por vir: a colisão com a galáxia de Andrômeda, o grande vizinho galáctico mais próximo.
Atualmente localizada a mais de 2,5 milhões de anos-luz da Terra, Andrômeda está entre os objetos celestiais de maior atenção para a equipe da missão Gaia, que revelou que um choque entre ela e a Via Láctea é previsto para daqui a 4,5 bilhões de anos.
“Com Gaia, podemos realmente medir muito bem o movimento da galáxia de Andrômeda através da linha de visão”, disse Brown. “Isso nos dá mais definições sobre o futuro a longo prazo das duas galáxias”.
Segundo ele, na ocasião, o Sol estará perto do fim de sua vida, então é improvável que a humanidade ainda exista para testemunhar a colisão galáctica, ainda mais que a Terra já terá desaparecido por completo, queimada pela nossa estrela hospedeira.
Ainda assim, desembaraçar o passado e o futuro da galáxia é um projeto fascinante, que deve continuar por alguns anos à medida que Gaia produz cada vez mais dados.
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Fonte: Olhar Digital
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