São denominadas “novas” as explosões súbitas de luz ocasionadas pela liberação de energia por anãs brancas que compõem um sistema estelar binário junto com uma estrela companheira. Um estudo publicado nesta quarta-feira (15), no Research Notes of the American Astronomical Society, relata o que os astrônomos estão considerando a nova mais rápida já observada.

Ilustração mostra um sistema polar intermediário, um tipo de sistema estelar binário que originou a nova V1674 Hércules. Um fluxo de gás da estrela companheira impacta um disco de acreção antes de fluir ao longo das linhas de campo magnético para a anã branca. Imagem: Mark Garlick

Segundo o site Phys, o evento incomum chamou a atenção dos cientistas para uma estrela ainda mais incomum. À medida que a estudam, eles podem encontrar respostas não apenas para os muitos traços anômalos da nova, mas para questões maiores sobre a química do nosso sistema solar, a morte das estrelas e a evolução do universo.

Cada nova é criada por uma anã branca — o núcleo muito denso da sobra de uma estrela — e uma estrela companheira próxima. Com o tempo, a anã branca absorve matéria da vizinha e aquece esse material, causando uma reação descontrolada que libera uma explosão de energia a altíssimas velocidades. Esse processo costuma durar entre uma e duas semanas, normalmente.

V1674 Hércules é a nova mais rápida da história das observações astronômicas

No entanto, em 12 de junho de 2021, a nova denominada V1674 Hércules estourou de forma tão brilhante que era visível a olho nu. Em pouco mais de 24 horas, esse brilho desapareceu por completo, tornando esta a nova mais rápida da história das observações astronômicas.

“A nova mais rápida anterior foi uma que estudamos em 1991, V838 Hércules, que declinou em cerca de dois ou três dias”, disse Sumner Starrfield, astrofísico da Escola de Exploração da Terra e do Espaço da Universidade de Minnesota (ASU), principal autor do artigo.

Mais do que ser a mais veloz de todas, a nova V1674 Hércules tem uma característica incomum. Segundo os pesquisadores, sua luz e a energia que ela emana pulsam como o som de um sino reverberante. A cada 501 segundos, há uma oscilação que os observadores podem ver tanto em ondas de luz visível quanto em raios-X

E mais de um ano após sua explosão, a nova ainda mostra essa oscilação, que, segundo os cientistas, está acontecendo há ainda mais tempo. “O mais incomum é que essa oscilação foi vista antes da explosão, mas também ficou evidente quando a nova tinha cerca de 10 magnitudes mais brilhantes”, diz o coautor Mark Wagner, da Universidade Estadual de Ohio, que também é chefe de ciência do Observatório do Telescópio Binocular de Grande Porte que está sendo usado para observar a nova. 

Outra coisa estranha foi percebida enquanto os astrônomos monitoravam a matéria ejetada pela nova explosão. Algum tipo de vento, que pode depender das posições da anã branca e de sua estrela companheira, está moldando o fluxo de material para o espaço ao redor do sistema.

Como as anãs brancas coletam e alteram a matéria de suas estrelas companheiras, as novas temperam o espaço circundante com material novo durante suas explosões. Isso é uma parte importante do ciclo da matéria no espaço, tendo em vista que o que é ejetado nesses processos eventualmente formam novos sistemas estelares. 

Para os cientistas, tais eventos ajudaram a formar nosso sistema solar também, o que significa que o estudo desses fenômenos pode trazer respostas sobre a composição da Terra.

“Estamos sempre tentando descobrir como o sistema solar se formou e de onde vieram seus elementos químicos”, diz Starrfield. “Uma das coisas que vamos aprender com essa nova é, por exemplo, quanto lítio foi produzido por essa explosão. Estamos bastante certos agora que uma fração significativa do lítio que temos na Terra foi produzida por esse tipo de explosões”.

Além disso, explosões como a V1674 Hércules podem dizer mais sobre como as estrelas em sistemas binários evoluem até a morte, um processo que ainda não é bem compreendido. Elas também atuam como laboratórios vivos onde os cientistas podem ver a física nuclear em ação e testar conceitos teóricos.

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