Na última quarta-feira (22), o astro da NBA, empreendedor e filantropo Carmelo Anthony apresentou seu “irmão gêmeo digital” – chamado Digital Melo – no palco principal da Collision Conference, evento realizado em Toronto, no Canadá, com cobertura in loco do Olhar Digital.

Para o ex-presidente do Google Eric Schmidt, fundador da Schmidt Futures, não está muito longe o momento em que nós todos teremos nossa própria réplica digital produzida por Inteligência Artificial (IA) – um “segundo eu”, nas palavras dele – vivendo no chamado metaverso. 

De acordo com Schmidt, isso deve acontecer dentro dos próximos cinco anos. “Você terá um sistema que vai assistir você, que você poderá treinar, que poderá falar como você e que poderá representar você com algumas limitações em certas situações”.

Se a ideia de um mundo virtual habitado por avatares representando pessoas reais está realmente próxima de se concretizar, você está pronto para ter seu próprio irmão gêmeo digital? 

Para ajudar (ou atrapalhar) a sua resposta, vamos lembrar de outro ponto que ganhou destaque na mídia recentemente sobre o mesmo assunto: um engenheiro do Google revelou que Inteligência Artificial da empresa, chamada LaMDA (Modelo de Linguagem para Aplicações de Diálogo), ganhou vida própria e que teria, inclusive, contratado seu próprio advogado.

Imagem conceitual mostra uma mão tocando com o indicador a parte de trás da cabeça de uma mulher, com traços digitais azuis entre um e outro. A ideia é simbolizar a inteligência artificial
E se o seu gêmeo digital ganhar vida? Quem assume a responsabilidade sobre as ações dele? Imagem: metamorworks/Shutterstock

E então? Já imaginou a sua réplica digital ganhando vida própria? Será que isso é mesmo possível?

Em entrevista recente ao Olhar Digital News, o especialista em Tecnologia e Inovações, Arthur Igreja, comentou sobre essas novas tecnologias de IA que estão sendo desenvolvidas com níveis de inteligência próximo ao dos humanos para realização de tarefas específicas.  

Ele disse que as pesquisas ainda estão distantes de alcançar uma IA com exatamente as mesmas características humanas. “Para a amplitude e complexidade do ser humano, que é o que se chama de inteligência artificial ampla, nós não estamos nem remotamente perto”.  

Inteligência Artificial do Google realmente ganhou vida?

Para Igreja, o que aconteceu em relação à LaMDA tem a ver com o fato de que se trata de um robô programado para interagir por meio do diálogo e, devido à sua alta capacidade, pode ter impressionado o engenheiro. O especialista acredita que o afastamento do funcionário não significa necessariamente que o Google queira esconder algo da sociedade, mas apenas que a empresa está preservando seus projetos.  

Entrevista completa com o especialista em Tecnologia e Inovações, Arthur Igreja, no Olhar Digital News.

O especialista descartou a possibilidade de máquinas se revoltarem contra a sociedade, como acontece em filmes de ficção científica. Ele alertou que, na verdade, devemos prestar atenção em empresas e pessoas que detenham essas tecnologias e possam utilizar desse poder de maneira equivocada. 

É a mesma preocupação de Rob Enderle, um analista de tecnologia americano conhecido por ter trabalhado em várias empresas de tecnologia, incluindo EMS Development Company, a ROLM Systems e a IBM.

Em entrevista à BBC News, Enderle, que acredita que teremos as primeiras versões de gêmeos digitais humanos pensantes antes do fim desta década, disse que “o surgimento deles exigirá uma enorme quantidade de ponderações e considerações éticas, porque uma réplica pensante de nós mesmos pode ser incrivelmente útil para empregadores”. 

“O que acontece se sua empresa criar um gêmeo digital de você e disser ‘ei, você tem esse gêmeo digital para quem não pagamos salário, então por que ainda pagamos você’?”, alertou Enderle, afirmando que a questão sobre quem é o dono de tais gêmeos digitais será uma das questões definidoras da iminente era do metaverso.

Quem seria responsável pelos atos praticados pelo “irmão gêmeo digital”?

Pesquisadora sênior em IA na Universidade de Oxford, a professora Sandra Wachter entende o apelo da criação de gêmeos digitais a partir de humanos. “É uma reminiscência de romances de ficção científica emocionantes e, no momento, esse é o estágio em que ele está”.

Questionada sobre como fica a questão da responsabilidade sobre as ações em caso de um avatar digital vir a cometer um crime, por exemplo, ou conquistar algum prêmio. Ela acrescenta que isso dependerá da ainda muito discutida questão ‘natureza versus criação’. “Vai depender de boa sorte e má sorte, amigos, família, seu contexto socioeconômico e ambiente e, claro, suas escolhas pessoais.”

Como vemos, o desenvolvimento de uma Inteligência Artificial tão fiel assim ao seu modelo humano é algo que implica em muitas ponderações. Temos um longo caminho a percorrer até que possamos entender e modelar a vida de uma pessoa do começo ao fim – se é que isso realmente se tornará uma realidade possível. Por enquanto, vamos continuar de olho na evolução de tais tecnologias.

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