Os mais novos vão reconhecer o conceito de viajar no tempo graças aos filmes do universo cinematográfico da Marvel (MCU), mas na realidade, a ideia de navegar por eventos passados e futuros é incrivelmente antiga – sério, muito antiga: estudiosos estimam que a primeira noção dessa teoria vem da tragédia grega Oedipus Rex, escrita por Sófocles há mais de 2,5 mil anos.
Mas na vida real, viajar no tempo é uma empreitada ainda muito misteriosa: a resposta mais simples é a de que, se isso fosse possível, já estaríamos fazendo. Há também a questão das leis da Física – a viagem no tempo viola alguns conceitos, digamos, invioláveis.
Ainda assim, o físico teórico e doutor Peter Watson, reitor de Ciências na Universidade Carleton, acredita que ainda existem muitas perguntas que, cada uma, tem várias respostas, e todas precisam ser respondidas. Em um artigo opinativo publicado pelo portal Space, ele tenta oferecer algumas delas.
De acordo com Watson, uma empreitada como “viajar no tempo” exigiria uma quantidade considerável de energia negativa – a qual não existe em nosso universo. A energia negativa é mais simples de ser explicada por meio de uma analogia: imagine que, se você tem uma quantidade dela em sua mão, e você a deixa cair, ela “cairia para cima”.
O físico vê problema com essa noção, tendo em vista que ela apenas inviabiliza a viagem no tempo ao introduzir o conceito da energia negativa – algo que foge ao nosso entendimento e, consequentemente, pode ser considerado abstrato dentro desse exemplo. Watson cita, também, o trabalho do matemático Frank Tipler, que conceitualizou uma máquina do tempo que usa a energia como nós a conhecemos, mas o volume necessário é maior do que toda a energia do universo.
Arthur Eddington, outro especialista, afirmou que viajar no tempo é uma violação direta da Segunda Lei da Termodinâmica, que rege, entre outras coisas, que a entropia e aleatoriedade devem sempre aumentar, de forma linear. Na prática, o tempo se move em uma única direção – o passado é um momento de entropia menor que o presente, e nós não podemos viajar nestas condições.
Pense assim: você consegue “desfritar” um ovo depois de fritá-lo, “desassassinar” alguém que você matou ou desfazer uma relação sexual após consumá-la? Mesmo princípio, mas ainda tem um problema: embora a entropia lhe impeça de viajar para o passado, a aplicação deste conceito não lhe impediria de viajar para o futuro.
Finalmente, existe a questão dos paradoxos temporais. O mais conhecido é o “Paradoxo do Avô”: um homem capaz de viajar livremente no tempo volta ao passado e mata o próprio avô, antes que este tenha o seu pai e, consequentemente, seu pai, que não nasceu, não terá o próprio homem que viajou no tempo. Pela lógica, você não pode, ao mesmo tempo, existir e não existir.
Um jogo muito popular do PlayStation 2 – Metal Gear Solid 3: Snake Eater – brincou com este conceito: ao introduzir o vilão Ocelot, você pode escolher matá-lo em uma das sequências do título, mas devido à presença do antagonista em jogos anteriores (cujos enredos são ambientados décadas no futuro, já que MGS 3 é uma “prequência”), o jogo acaba, com o alerta de que você criou um paradoxo.
Uma obra literária, assinada por Kurt Vonnegut, no entanto, contorna esse problema: no livro Matadouro 5, de 1969, o autor postula que o livre arbítrio é uma ilusão. Se o livre arbítrio não existe, então o homem do paradoxo original não pode contemplar o assassinato do próprio avô. O protagonista do livro, Billy Pilgrim, consegue viajar por vários pontos na linha do tempo dentro do universo onde ele existe, mas ele é restrito a nunca visitar outras linhas, nem tampouco agir no passado ou no futuro.
Em outras palavras, e a despeito de repetir o exemplo, é muito parecido com a função do Vigia, no universo da Marvel: um personagem que tudo vê, tudo sabe, mas pode apenas testemunhar os eventos que se desenvolvem diante de seus olhos, sem nunca agir sobre eles nem tampouco influenciá-los de nenhuma forma.
Matadouro 5 é consistente com a Segunda Lei da Termodinâmica e com a Teoria da Relatividade de Albert Einstein, que também afirma que viajar no tempo nos é proibido pela relatividade em si.
Mas a crença humana é na existência do livre arbítrio, o que fez Watson posicionar questionamentos interessantes: e se, ao invés do nosso próprio avô, nós pudéssemos excluir da linha do tempo, digamos, Adolf Hitler? Em Um Conto de Natal, de Charles Dickens, o personagem Ebenezer Scrooge “vê” duas linhas distintas sobre seu próprio destino – uma levando à felicidade plena, outra levando à morte. Com a possibilidade de livre arbítrio, qual você poderia escolher, e quais os impactos dessa sua escolha?
Até mesmo Stephen Hawking, que dedicou a vida a estudos pertinentes a fenômenos que nós não entendemos, chegou a flertar com a ideia de viajar no tempo, e nem mesmo ele teve uma resposta plena: Hawking postulou que algum princípio ainda desconhecido da Física deve agir em proteção do continuum espaço-temporal, proibindo o trânsito entre linhas do tempo. O exemplo dele era o do buraco negro: sabemos que o tempo passa de forma diferente dentro dele, mas não temos como afirmar com bases factuais, tendo em vista que não conseguimos explorar um e, consequentemente, não temos dados para analisar.
Mas na prática, essa resposta é redundante: “não podemos viajar no tempo porque não podemos viajar no tempo”.
E o que você acha? Pensa que viajar no tempo é possível? Se sim, o que você faria se tivesse essa capacidade? Conte para nós nos comentários.
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Fonte: Olhar Digital
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