Se depender da Boeing, uma das gigantes da indústria aeronáutica, o seu próximo avião será fabricado dentro do Metaverso e ganhará os ares do “mundo real”. Esse é um dos principais objetivos da empresa, que quer aproveitar o ambiente digital imersivo para conectar profissionais de engenharia, design e produtos com o intuito de desenvolver projetos com mais qualidade, agilidade e eficiência. A “fábrica do futuro” na corporação é virtual e tem mecânicos espalhados ao redor do mundo.
O exemplo acima é real e mostra uma das possibilidades do Metaverso para o mercado de trabalho. O conceito, que promete revolucionar a forma como compramos, nos socializamos e divertimos, também vai trazer profundas transformações em nossas relações de trabalho nos próximos anos – bem mais do que as mudanças provocadas pela pandemia de covid-19 que já tinham embaralhado a rotina produtiva de empresas e pessoas.
Para se ter uma ideia do impacto dessa proposta no mercado de trabalho, o site de empregos Indeed mostrou que os anúncios de emprego que mencionam a expressão metaverso cresceram incríveis 1042% entre novembro de 2020 e novembro de 2021. Não bastasse isso, estamos vivenciando uma verdadeira dança das cadeiras na geração de empregos. Segundo relatório do Fórum Econômico Mundial, 85 milhões de postos de trabalho deverão ser eliminados nos próximos anos, mas 97 milhões de novas funções serão criadas em cima das novas tecnologias.
Toda transformação tecnológica implica em novas habilidades e técnicas para executar as tarefas necessárias que esse novo momento pede. É assim desde o século 18, com primeira Revolução Industrial. O problema é que, agora, essas mudanças estão ocorrendo em prazos cada vez menores, exigindo que os profissionais e empresas se reinventem continuamente. Não faz três anos que o home office ainda era um tema tabu para muitas organizações e hoje a Boeing já fala em produzir um avião num ambiente totalmente digital e imersivo.
O Metaverso representa essa próxima fronteira para o mercado de trabalho. Se a ideia original é criar um ambiente digital imersivo, em que a pessoa pode realizar tudo aquilo que faz em seu dia a dia no mundo real, era evidente que, cedo ou tarde, as empresas iriam explorar essas possibilidades com seus profissionais. Afinal, se há alguma coisa que as pessoas mais fazem no mundo real é trabalhar. Assim, da mesma forma que o home office alterou a forma como desempenhamos nossas atividades, esse conceito vai aprofundar ainda mais esse cenário.
Imagina, por exemplo, uma grande multinacional que precisa discutir uma estratégia global com seus produtos e serviços. É possível criar um ambiente digital em que eles podem apresentar ideias, como numa grande conferência. Ou ainda programadores espalhados pelo mundo que podem se reunir para desenvolverem diferentes aplicações. Como se vê, estamos falando de um ambiente facilitador, que possibilita a mesma interação que teríamos presencialmente, mas com uma operação bem mais simples e fácil.
É claro que essa movimentação vai exigir readaptação dos profissionais e estratégia das empresas. Como já citamos, mudanças tecnológicas implicam em alterações de carreiras e postos de trabalho. Profissões que existem atualmente podem desaparecer ou mudar
completamente no futuro, enquanto outras surgirão. É importante que todos estejam atentos a essas transformações, identificando quais são as habilidades desejadas em um cenário imersivo e como incorporá-las em suas tarefas.
Há também outro tópico que o Metaverso implica e que não são todas as companhias que estão prontas para isso. Para que ele funcione em sua plenitude, é essencial garantir uma estrutura completa para que as pessoas possam desempenhar suas tarefas sem maiores problemas no ambiente digital. Ter uma internet veloz e estável (que aliás é a promessa da tecnologia 5G) é o mínimo. Os hardwares, como óculos de realidade virtual e joysticks para executar os comandos, também são obrigatórios. Sem falar de aplicações como os tokens e NFTs, que funcionam como chaves de acesso a esses mundos virtuais.
Por conta disso, a proposta do Metaverso ainda é uma ideia que vai se desenvolver e amadurecer antes de se tornar realidade. É claro que já vemos diferentes projetos em andamento, como o da Boeing que ilustra o início desse texto. Mas eles são justamente isso: projetos que estão tateando todos os recursos disponíveis. Criar um ambiente totalmente imersivo, em que iremos trabalhar, socializar e nos divertir por meio de óculos de realidade virtual, ainda é algo distante.
Mas não se engane: não é mais algo impossível e nem improvável. O Metaverso não faz mais parte do universo da ficção científica, mas sim do campo de tendências e possibilidades. Pode até demorar, mas vai acontecer. Portanto, o desafio agora para profissionais e empresas é se prepararem de forma adequada diante de todas as transformações que irão ocorrer.
*Alessandra Montini é diretora do LabData, da FIA
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Fonte: Olhar Digital
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