Parlamentares e coordenadores da campanha ouvidos pela Jovem Pan defendem que presidente ignore embate com Judiciário e exalte feitos recentes da administração
O Partido Liberal (PL) prepara um megaevento para oficializar a candidatura do presidente Jair Bolsonaro à reeleição. Integrantes do partido e organizadores do ato esperam cerca de 10 mil pessoas no Maracanãzinho, na cidade do Rio de Janeiro, onde ocorrerá a convenção. Apesar do entusiasmo e da expectativa, alguns mistérios cercam a cerimônia. O principal deles, segundo apurou a Jovem Pan, envolve a primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), coordenador da campanha do chefe do Executivo federal, escreveu em seu perfil no Twitter que Michelle deve discursar, mas um importante quadro da legenda afirmou à reportagem que o martelo será batido “em cima da hora”. Aliados também afirmam que o mandatário do país é “intutelável” e “imprevisível”, mas esperam que Bolsonaro foque seu discurso nas realizações de seu governo, insista no contraponto com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem polariza a disputa presidencial, e evite um novo embate com o Judiciário com declarações sobre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e as urnas eletrônicas.
O slogan “Pelo Bem do Brasil” será um dos motes explorados no evento. A ideia, segundo relatos, é evidenciar “a luta do bem contra o mal”, como Bolsonaro tem dito em declarações recentes. Neste caso, é esperado que o presidente fale sobre liberdade, bandeiras conservadores e exalte a família. A dupla sertaneja Mateus e Cristiano também deve se apresentar, cantar o hino nacional e o jingle “Capitão do povo” – Bolsonaro é capitão reformado do Exército. “É o capitão do povo que vai vencer de novo. Ele é de Deus, e pode confiar. Defende a família e não vai te enganar”, diz uma estrofe da canção. O núcleo político do governo tem aconselhado Bolsonaro a fazer um discurso focado nas realizações recentes do governo, em especial, a aprovação da PEC das Bondades, que driblou a lei eleitoral, instituiu o estado de emergência, criou e turbinou programas sociais a menos de três meses da eleição, a redução gradual dos preços dos combustíveis e a queda do desemprego – no final do mês de junho, segundo dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), a taxa ficou em 9,8% da população (cerca de 10,6 milhões de pessoas), o menor índice desde 2015.
O QG da campanha também espera que o presidente faça um aceno ao eleitorado de baixa renda. Segundo pesquisa Datafolha realizada entre os dias 22 e 23 de junho, entre os mais pobres, que ganham até dois salários mínimos mensais, o ex-presidente Lula tem 43% das intenções de voto, ante 16% de Bolsonaro. Para se ter ideia da relevância desta parcela, 52% do total do eleitorado se enquadra nesta faixa. Outro público-alvo do discurso são as mulheres, segmento que também rejeita o mandatário. De acordo com o mesmo levantamento divulgado no final de junho, 61% do eleitorado feminino diz não votar no chefe do Executivo federal de jeito nenhum. É por esse motivo que o discurso da primeira-dama é aguardado pelo entorno bolsonarista. Apesar do roteiro, aliados reconhecem que Bolsonaro é imprevisível e pode seguir uma linha diferente.
“Muito difícil prever [como será o discurso]. Afinal, meu presidente é intutelável”, disse à Jovem Pan o deputado federal Marco Feliciano (PL-SP), um dos líderes da bancada evangélica no Congresso Nacional. “Só Deus sabe”, acrescentou o parlamentar. “Espero um discurso animado, em tom de entusiasmo. É improvável que ele cite a questão das urnas, do TSE. Não sei. Ele deve falar de coisas boas, enaltecer o que foi feito ao longo o mandato. A convenção é um evento festivo, é uma festa do partido. Em uma festa, você só fala de coisas boas, deixa as coisas ruins para outras ocasiões. Essa questão das urnas, do STF, do TSE, é uma agenda negativa”, afirmou à reportagem o deputado federal Capitão Augusto (PL-SP), vice-presidente nacional do partido e amigo de Bolsonaro há duas décadas. “O presidente deve falar sobre coisas boas de seu governo e do risco para o Brasil se o Lula ganhar”, avalia a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
Fonte: Jovem Pan News
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