Duas luas de Júpiter estão envolvidas em uma disputa de “cuspidas”. Bem, nem tanto uma disputa, tendo em vista que Io expele o material e Europa apenas o recebe – e o culpado disso é o intenso campo magnético do gigante planeta gasoso.

Explicando em termos mais precisos: usando o telescópio espacial Hubble, cientistas identificaram grandes quantidades de dióxido de enxofre expelidos por Io – o corpo vulcânico mais ativo do sistema solar. Esse composto químico se ioniza e acaba capturado pelo campo magnético de Júpiter, que o transporta até Europa, sua outra lua.

Io é uma das quatro principais luas de Júpiter, além de ser o corpo vulcânico mais ativo do sistema solar: suas erupções fazem com que dióxido de enxofre sejam "cuspidos" em direção à sua vizinha, Europa
Io é uma das quatro principais luas de Júpiter, além de ser o corpo vulcânico mais ativo do sistema solar: suas erupções fazem com que dióxido de enxofre sejam “cuspidos” em direção à sua vizinha, Europa (Imagem: NASA/JPL-Caltech/Reprodução)

“A superfície relativamente jovem de Europa é primariamente composta por gelo de água, embora outros materiais tenham sido detectados nela”, disse Tracy Becker, cientista planetária do Southwest Research Institute (SwRI), que assina a autoria da pesquisa. “Determinar se esses materiais são naturais de Europa é algo importante para entender a sua formação e subsequente evolução”.

O time por trás do estudo usou a capacidade de enxergar a frequência ultravioleta (UV) do Hubble para observar Europa – algo nunca antes tentado. Na prática, eles fizeram o primeiro mapeamento do satélite joviano dentro deste espectro. Neste esforço acadêmico, eles perceberam que a trilha atmosférica do dióxido de enxofre encontrado em Europa passava por Júpiter e ia um pouco mais além, na direção generalizada de Io.

“A maior parte do dióxido de enxofre pode ser encontrada no hemisfério ‘contrário’ de Europa”, disse Philippa Molyneux, co-autora do paper. “Provavelmente, ele se concentra ali porque o campo magnético rotacional de Júpiter prende as partículas cuspidas pelos vulcões de Io e os arremessa contra a parte traseira de Europa”.

“Hemisfério contrário” deve ser entendido aqui como o sentido para o qual Europa está girando, e deixando partículas do material para trás – como se fosse um rastro.

O estudo deve compor a base de pesquisas mais aprofundadas a serem conduzidas pela missão Europa Clipper: o instrumento vai observar a quarta maior lua de Júpiter, cuja natureza congelada, suspeitam os cientistas, esconde um volume de água maior que todos os oceanos da Terra somados. A Europa Clipper tem previsão de lançamento para 2024.

O paper referente ao material expelido por Io em direção a Europa foi publicado no Planetary Science Journal.

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