Europa, Estados Unidos e China têm enfrentado ondas de calor; especialistas explicam que esses extremos são a forma que o planeta encontrou de buscar o equilíbrio
Há semanas, a Europa sofre com uma onda de calor que já matou mais de mil pessoas, causou diversos incêndios florestais – a Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que nos próximos 28 anos deve ter um aumento de 30% nos casos -, chegou a danificar as pistas do aeroporto de Londres e paralisar as operações dos transportes públicos, pois nem metade das linhas de metrô de Londres possuem ar-condicionado e os ônibus só possuem janelas pequenas como forma de ventilação. Na sexta-feira, 22, a onda de calor na Itália se espalhou por toda a península, e 16 cidades, incluindo Roma, emitiram um alerta vermelho diante dos picos de temperatura de 40 graus e do aumento dos incêndios.
A página especializada ilmeteo.it pontuou que durante três meses consecutivos – maio, junho e julho – foi registrada “uma anomalia climática, com temperaturas pelo menos dois ou três graus acima da média sazonal”, e que em nenhum ponto do território as temperaturas cairão abaixo de zero grau, nem mesmo nos Alpes italianos. Vale lembrar que no começo do mês, um pedaço da geleira de Marmolada, a maior da cadeia montanhosa das Dolomitas, se rompeu e provocou uma avalanche que deixou 11 pessoas mortas. Segundo o Met Office, a probabilidade de haver calor extremo na Europa aumentou em dez vezes por causa das mudanças climáticas. O chefe regional da agência de saúde da ONU destacou que os governos precisam demonstrar vontade e liderança na implementação do Acordo de Paris. Esse pacto estabeleceu o objetivo de limitar o aquecimento global a 2°C acima dos níveis pré-industriais (e de preferência a não mais que 1,5°C).
Apesar dos casos europeus estarem em alta neste momento, não é apenas aquela região que tem sido alvo das mudanças climáticas, pelo contrário, o mundo inteiro vem sofrendo com essa realidade. As fortes chuvas no Brasil e na Austrália que causaram inundações e deixaram milhares de pessoas mortas ou desabrigadas, a seca no Iraque, que fez uma cidade de 3.400 anos reaparecer em meio ao Rio Tigre e as fortes tempestades de poeira que deixaram centenas de pessoas hospitalizadas são outros exemplos. Em novembro de 2021, o Banco Mundial estimou que o Iraque poderá sofrer uma queda de 20% de seus recursos hídricos até 2050. Tudo isso tem um fato em comum: o aquecimento da atmosfera e a busca pela volta do equilíbrio que se tinha antes da Revolução Industrial, quando o homem não adicionava gases na atmosfera, o que causou o desequilíbrio e ocasionou no aumento da temperatura média global. Para cientistas, o que explica esses acontecimentos extremos está diretamente ligado a uma consequência da crise climática, uma vez que as emissões de gases de efeito estufa aumentam sua intensidade, duração e frequência.
Mesmo que todas as partes do planeta estejam suscetíveis a algum extremo, o cientista Tércio Ambrizzi, professor titular e diretor adjunto do Instituto de Energia e Meio Ambiente, fala que a parte mais prejudicada é, sem dúvida, o hemisfério norte. “É onde a gente observa as maiores temperaturas”, explica. Segundo ele, tem relação com o fato de que nessa região tem mais continentes e onde se concentram “as maiores regiões de produção industrial”. Ele fala que o aumento das temperaturas vai fazer com que alguns locais desapareçam. “O gelo da Sibéria tem desaparecido no verão”. “Daqui a 10, 15 anos, o Ártico vai desaparecer, não totalmente, mas ele vai sumir no verão e reaparecer no inverno, porém, ele nunca mais vai voltar a ser o que era antes”. Devido a essas mudanças, é necessário começar a se preocupar com a situação agora, pois, como fala Paulo Artaxo, especialista em mudanças climáticas do Instituto de Física (IF) da USP, “sai muito mais caro não fazer nada do que investir agora na construção de uma sociedade sustentável”.
Um relatório da Swiss Re mostrou que os efeitos das mudanças climáticas podem reduzir de 11% a 14% a produção econômica global até 2050, o que equivale a US$ 23 trilhões em redução da produção climática global anual em todo o mundo. Ambrizzi explica que “mudança climática e economia caminham lado a lado”, porque se um problema que acontece já muda toda a rotina de uma cidade, quando se torna recorrente, mexe diretamente com questões de economia, pois afeta emprego e cadeia alimentar. Por isso, ele diz ser preciso “trabalhar nas adaptações e também na mitigação de forma geral”. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 80 milhões de empregos podem ser perdidos devido às mudanças climáticas até 2030, enquanto as medidas para combater esse problema podem criar 18 milhões de empregos “líquidos”.
O cientista Tércio Ambrizzi explica que essas mudanças ocorrem em “função do aumento da temperatura do planeta e do aquecimento médio global”. Segundo ele, essa é a forma que o planeta encontrou para buscar o equilíbrio e, para isso, os “sistemas atmosféricos têm ido para o extremo”. Ambrizzi alerta que esses excessos envolvem tanto o calor como “ondas de frios, chuvas, secas”, e, caso não seja possível chegar ao equilíbrio, vamos ter que continuar convivendo com esses extremos, o que faz com que seja necessário uma adaptação à nova realidade, uma vez que não é possível revertê-la. “Tudo o que colocamos de sujeira na atmosfera vai permanecer”, explica Ambrizzi, acrescentando que alguns gases possuem vida útil de séculos, como é o caso do CO2, que dura mais que 100 anos. O cientista diz que estamos em uma “transição climática” e “enquanto estivermos emitindo mais que absorvendo” e, dessa forma, continuarmos modificando o clima, o que vamos fazer é continuar uma transição até atingir uma estabilidade. Para ele, o que precisamos fazer para ajudar o planeta e reduzir esses extremos é “minimizar as emissões”. Esse é o mesmo pensamento do cientista Paulo Artaxo, que afirma ser necessário “reduzir as emissões, o desmatamento da Amazônia e a queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural)”.
Fonte: Jovem Pan News
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