Funcionários de usinas nucleares em vários países relatam redução de desempenho nos seus sistemas de resfriamento, gerando preocupações de segurança para quem trabalha nelas, além das comunidades próximas – e a culpa disso é do aquecimento global.
Usinas nucleares são normalmente levantadas próximas de rios de grande volume ou outros corpos majoritários de água, pois elas usam sistemas dependentes dessas águas para resfriar os reatores, produzindo energia limpa e sustentável.
Nas últimas semanas, no entanto, a coisa tem se complicado: graças à intensa onda de calor que acometeu a Europa recentemente, combinada com os níveis baixos de água que vieram com a seca na região, sistemas hidroviários como o rio Rhône, nos alpes suíços, viram suas águas esquentarem demais, dificultando a redução de temperatura em reatores como os da França – o rio em questão produz um quarto da energia nuclear do país. Tão quente, na verdade, que a vida marinha do próprio rio está morrendo aos poucos.
Como resultado, a estatal que controla a oferta energética da França – a Électricité de France (EDF) – começou a desligar alguns reatores resfriados pelo Rhône e um outro rio, o Garonne, efetivamente reduzindo a capacidade energética nuclear do país em pelo menos 50%. Situações similares ocorreram em 2018 e 2019.
De todas as matrizes energéticas disponíveis para combater o aquecimento global, a nuclear é considerada a mais “gerenciável”, tendo em vista que ela traz uma confiabilidade maior que outras, que dependem muito mais do clima: a energia eólica, por exemplo, tem dificuldades em regiões secas ou temporadas de baixo vento.
Entretanto, usinas nucleares têm seus próprios problemas em relação ao clima: apesar de todo o estigma causado por ocorrências passadas (alô, Chernobyl), é um dos meios mais seguros e eficientes de se produzir energia – se você conseguir arcar com os custos estratosféricos e as estruturas imensas que são minimamente necessárias para isso.
Pior ainda: rios com menor volume ou com águas mais quentes não são o único problema. Usinas nucleares construídas em regiões litorâneas, por exemplo, ainda têm que enfrentar o aumento do nível do mar e uma maior ocorrência de tempestades – o que amplia riscos de inundações na estrutura, além da proliferação de algas ou águas-vivas no encanamento, levando a entupimentos severos.
Em outras palavras: se tem pouca água, é problema. Se tem muita água, é problema também.
Há também a questão da longevidade: usinas nucleares foram, em sua maioria, construídas entre os anos 1950 e 1970, sem considerar o aquecimento global como fator de controle. De acordo com Natalie Kopytko, pesquisadora da Universidade de Leeds, quase nenhuma usina da atualidade considerou mudanças climáticas em sua construção, apostando que os padrões meteorológicos da época seriam mantidos por décadas. Obviamente, isso não aconteceu.
Felizmente, há mudanças em curso neste aspecto: depois do desastre da usina de Fukushima, no Japão, autoridades mundiais começaram a desenhar novas codificações de segurança que contemplam mudanças climáticas em suas ações. Em um relatório técnico, especialistas dos EUA identificaram dúzias de usinas sob risco de enchentes e inundações. Os planos de atualização, no entanto, pararam, quando senadores e a gestão presidencial republicana de 2016 e além alegaram custos altos demais.
O assunto sempre vai e volta nos círculos técnicos, e tudo aponta para que esse debate seja novamente requentado em discussões não só na área científica, mas também no ambiente geopolítico: nos últimos anos, presidentes e outros chefes de estado e seus respectivos ministérios consideram estender a vida útil de usinas já existentes – algumas, em 20 ou 30 anos – a fim de evitar o uso de matrizes mais nocivas à natureza, como a queima de carvão ou petróleo.
Isso tudo a fim de contar com as usinas nucleares para conter o avanço do aquecimento global, que é grandemente alavancado pelo uso de combustíveis fósseis que agridem a atmosfera.
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Fonte: Olhar Digital
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