Cerca de 4,5 bilhões de anos atrás, o núcleo de uma imensa nuvem de gás e poeira se condensou de tal forma que começou a fundir átomos de hidrogênio, dando origem a uma estrela que conhecemos como Sol. Ao seu redor, partículas de poeira começaram a se chocar e se aglutinar. Alguns milhões de anos depois, elas formariam os planetas, as luas, e os corpos menores do nosso Sistema Solar.

Contada assim, a história da formação do Sistema Solar pode deixar muita gente pensando: como pode a ciência conhecer tanto sobre a formação do Sistema Solar se na época não existia ninguém para contar como foi que tudo aconteceu?

Só que essa história não foi simplesmente inventada por uma mente criativa. Ela é o resultado de séculos de estudos e pesquisas realizadas por vários cientistas. E esses estudos contaram com os depoimentos de personagens que testemunharam todo aquele processo. Que personagens seriam esses? Os meteoritos.

Claro que não é tão fácil fazer uma rocha falar. Mas é aí que entra a Ciência que, aos poucos, vai decifrando tudo que esses objetos vindos do espaço podem nos contar.

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Essa história começou há cerca de 4,66 bilhões de anos, quando essa região do espaço era uma pacata nuvem de gás e poeira. Mas algo aconteceu que abalou essa tranquilidade. Provavelmente, a explosão de uma supernova próxima, que acabou desestabilizando a nebulosa, fazendo com que ela passasse a se tornar mais densa no centro, e toda a matéria da nebulosa começasse a girar em torno daquele núcleo, formando o disco protoplanetário.

Impressão artística representando a hipótese nebular proposta por Immanuel Kant e desenvolvida por Pierre-Simon Laplace. Nessa teorita, o Sistema Solar teria se originado a partir de uma vasta nuvem de gás e poeira
Impressão artística representando a hipótese nebular proposta por Immanuel Kant e desenvolvida por Pierre-Simon Laplace. Nessa teorita, o Sistema Solar teria se originado a partir de uma vasta nuvem de gás e poeira. Créditos: Pat Rawlings/NASA

A gravidade foi atraindo mais e mais matéria para o centro da nuvem, o que aos poucos, foi aumentando a pressão e, consequentemente, a temperatura do núcleo. Cerca de 50 milhões de anos depois, a temperatura chegou a uns 15 milhões de graus, o que iniciou o processo de fusão nuclear. Nascia então o nosso Sol.

O calor gerado pela estrela recém-nascida era tão elevado que derreteu as partículas de poeira em suas proximidades. Ao mesmo tempo, os ventos solares empurraram toda a nuvem para longe. Quando resfriaram, as gotas de material derretido se solidificaram, formando pequenas esferinhas de rocha chamadas de côndrulos. Esses côndrulos são encontrados nos meteoritos condritos, e as datações realizadas neles mostram que todos foram formados na mesma época, cerca de 4,5 bilhões de anos atrás.

Côndrulos em uma fatia do meteorito Allende, que caiu no México em 1969
Côndrulos em uma fatia do meteorito Allende, que caiu no México em 1969. Com 4,5 bilhões de anos, esta rocha foi formada junto com o Sistema Solar. Imagem: Wikimedia Commons

Um processo semelhante à formação dos côndrulos ocorreu também nas regiões mais afastadas do Sol. Só que, ao invés de derreter, a poeira dessas regiões foram hidratadas pelas moléculas de água empurradas pelos ventos solares. Esse processo formou uma espécie de argila, preservando a poeira e os compostos orgânicos presentes na nuvem que deu origem ao Sistema Solar. Essa parte da história é contada pelos meteoritos carbonáceos, que são justamente amostras dessa argila.

Fragmento do meteorito Aguas Zarcas, um carbonáceo caído na Costa Rica em 2019. As cores visíveis na superfície indicam a presença de compostos orgânicos
Fragmento do meteorito Aguas Zarcas, um carbonáceo caído na Costa Rica em 2019. As cores visíveis na superfície indicam a presença de compostos orgânicos. Foto: Arizona State University

Nos primeiros milhões de anos que se seguiram, toda a matéria restante daquela nuvem, foi se colidindo e se fundindo, formando pequenos asteroides, e esses asteroides, se chocando uns com os outros, formando corpos maiores. Algumas colisões mais energéticas deixam marcas que podem ser vistas em alguns meteoritos condritos, que possuem veios escuros de derretimento e onde os côndrulos são praticamente imperceptíveis.

Veios escuros de derretimento visíveis em uma fatia do meteorito Viñales, caído em Cuba, em 2019
Veios escuros de derretimento visíveis em uma fatia do meteorito Viñales, caído em Cuba, em 2019. Imagem: James St. John

O material rochoso, mais denso e menos sujeito à ação dos ventos solares, permaneceu mais próximo do Sol, formando os planetas rochosos e os asteroides do cinturão principal. Já a água e os gases, muito mais abundantes na nuvem primordial, foram empurrados para além da linha do gelo, e deram origem aos gigantes gasosos.

A energia gerada nessa fase de intensos impactos, derreteu completamente os corpos maiores, gerando um processo chamado de diferenciação, onde os materiais mais densos como o ferro, se concentram no núcleo, e os silicatos e os materiais mais leves, na crosta do protoplaneta.

Grandes impactos nestes corpos maiores, deram origem aos meteoritos acondritos, que não possuem côndrulos nem ferro, e têm origem na crosta desses corpos. Já os meteoritos metálicos, ou sideritos, são formados no núcleo, e ainda há uma classe de meteoritos, chamados de palasitos, que são formados no manto desses corpos maiores, e são uma mistura de cristais de olivina em uma matriz metálica.

Fatia do meteorito Fukang, um palasito encontrado na China em 2000
Fatia do meteorito Fukang, um palasito encontrado na China em 2000. Créditos: Arizona Meteorite Laboratory

Alguns dos acondritos mais famosos foram formados na crosta da Lua, de Marte ou do Asteroide Vesta. Mas de vez em quando surge um novo meteorito que não sabemos explicar sua origem. Da mesma forma, ainda hoje, existem questões abertas na história da formação do nosso Sistema Solar, como: de onde veio a água da Terra? Ou como a vida surgiu em nosso planeta?

Talvez as respostas para algumas dessas questões podem ser encontradas neste último meteorito que caiu na cidade de Portelândia, em Goiás. Ou quem sabe, não estarão na próxima rocha espacial enviada do céu para nos contar mais um pedacinho da história do nosso Sistema Solar?

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