O Brasil conseguiu recuperar o fóssil do primeiro dinossauro com penas descoberto no hemisfério Sul. A espécie, chamada de Ubirajara jubatus, viveu no Cariri cearense séculos atrás e estava exposta, ilegalmente, em um museu da Alemanha há 17 anos.
De acordo com reportagem do UOL, a peça deixou o Brasil de forma ilegal há 27 anos. A volta ao seu país de origem só irá acontecer graças a uma campanha realizada por cientistas brasileiros que ergueram a hashtag #UbirajaraBelongstoBR para a reaquisição da relíquia paleontológica.
Toda sexta, a hashtag #fossilfriday é utilizada p dar visibilidade a fósseis e a paleontologia. Ela é muito popular entre paleontólogos do 🌎 todo!
Gostaria de convida-los a usar essa hashtag hj para dar visibilidade à #UbirajaraBelongstoBR e dizer q nossa luta ñ acabou: pic.twitter.com/2CgASWBU06
— Aline Ghilardi (@alinemghilardi) July 22, 2022
“Temos uma postura clara: se houver objetos em nossas coleções de museus que foram adquiridos sob condições legal ou eticamente inaceitáveis, a devolução será considerada”, disse a ministra da Ciência, Theresia Bauer, ao UOL.
O Conselho de Ministros de Baden-Württemberg, da Alemanha, aprovou o pedido no último dia 19 e reconheceu que a exportação e a aquisição foram irregulares. Segundo a paleontóloga e professora Aline Ghilardi, da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), e criadora da campanha no Twitter, casos de tráfico de fósseis são muito discutidos, mas esse foi o que mais chamou sua atenção.
“Foi uma descoberta fascinante. Mas a data informada da retirada desse fóssil do Brasil, 1995, me chamou muito a atenção e também me entristeceu”, disse.
De acordo com a especialista, a data de exportação chamou atenção porque se ela estivesse correta faria com que o país deixasse de ter a primeira confirmação da existência de dinossauros não avianos com penas do mundo — a primeira publicação desse tipo ocorreu apenas em 1996, com um fóssil da China.
“Ou seja, o nosso dinossauro poderia ter sido o primeiro do mundo a ser descrito com essa característica, e ele é de uma região reconhecidamente rica em fósseis. Isso me chateou para caramba”, explicou a paleontóloga, acrescentando que o caso se tornou público devido o “ativismo digital e ganhou força graças a colegas com público gigantesco que apoiaram. Assim, a campanha explodiu.”
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Quando o fóssil chega ao Brasil?
Conforme reportagem, ainda não se sabe quando a peça desembarca no Brasil, isso porque ainda não está definido em qual instituição ela será alocada.
“Tínhamos acordado que esse fóssil deveria ir ao Geoparque, que é o local onde ele foi descoberto e onde há um museu de paleontologia que reúne todas as condições para cuidar bem dele”, disse Juan Cisneros, da UFPI (Universidade Federal do Piauí), se referindo ao Geoparque Araripe (CE).
O caso “Ubirajara jubatus” vai entrar na história junto com o Homem de Piltdown e o Archaeoraptor como um exemplo de práticas antiéticas na Paleontologia (e na ciência). #UbirajaraBelongstoBRpic.twitter.com/AgeY1Aqzo3
— Prof. Juan C. Cisneros ⚒️ 🐉 (@PaleoCisneros) July 19, 2022
A Alemanha é o principal receptor de fósseis que saem ilegalmente do Brasil. Ainda segundo Cisneros, o tráfico de fósseis na Chapada do Araripe foi intenso de 1990 ao início dos anos 2000. “Nós encontramos ao redor de 100, no total, apenas em museus da Alemanha e alguns outros países. Mas nós sabemos que o número é várias vezes maior.”
Para ele, a movimentação traz não apenas o benefício de ter o fóssil em seu país de origem, mas facilita a repatriação de outras relíquias perdidas. “A Bélgica repatriou um pterossauro nosso no início do ano, e os EUA repatriaram 36 aranhas fósseis no final do ano passado”, finalizou em tom de comemoração.
Créditos foto destaque: reprodução/Twitter (Juan Cisneros)
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Fonte: Olhar Digital
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