Um estudo internacional da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) revelou que o declínio cognitivo pode se instalar mais rapidamente em pessoas idosas com diabetes, especialmente em homens. A pesquisa acompanhou, por seis anos, 3.687 pessoas com 50 anos ou mais e concluiu que algumas alterações causadas pela doença conseguem afetar o cérebro.
A influência do diabetes na cognição pode ser explicada pelo fato de que os elevados níveis de glicose circulantes nas pessoas diabéticas causam alterações na estrutura dos vasos sanguíneos: a hiperlipidemia (altos níveis de gordura na corrente sanguínea) e a inflamação. As alterações atingem o cérebro gerando uma neuroinflamação, que é uma das principais características da doença de Alzheimer, por exemplo.
De acordo com Márcia Regina Cominetti, docente no Departamento de Gerontologia (DGero) da UFSCar e primeira autora do artigo resultante da pesquisa, “o diabetes tem sido fortemente associado ao declínio cognitivo e ao risco aumentado de desenvolver todos os tipos de demência, incluindo a doença de Alzheimer”. Para ela, os dados reforçam os achados e a importância do rastreamento e manejo do diabetes mellitus (DM).
“O nosso artigo serve de alerta para mostrar que é necessário um controle metabólico rigoroso em pessoas que já tenham o diabetes, para evitar que o declínio cognitivo se instale futuramente. Esse alerta também pode servir para pessoas mais jovens ou idosos saudáveis, para que se mantenham fisicamente ativos, evitando aumento de peso e obesidade, para impedir o surgimento de diabetes ou outros problemas. O artigo também pode estimular políticas públicas de prevenção ao diabetes e, consequentemente, das demências”, destacou a pesquisadora.
Além da associação entre diabetes e declínio cognitivo mais acentuado, também foram encontradas associações entre idade, sexo masculino e ocorrência de problemas cardiovasculares e acidente vascular cerebral (AVC).
Todos os participantes do estudo, que foi publicado na revista Diabetes Epidemiology and Management, fazem parte do Tilda (The Irish Longitudinal Study on Ageing), estudo prospectivo sobre as condições sociais, econômicas e de saúde de adultos com mais de 50 anos que vivem na Irlanda.
Envelhecimento populacional no Brasil
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019 o Brasil contava com 28 milhões de pessoas acima de 60 anos – idade que se considera uma pessoa idosa no país -, o que representa 13% da população brasileira. A estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que, até 2050, esse número chegue a triplicar.
“Apesar de o estudo não ter sido realizado com a população brasileira, é muito provável que possamos transpor e extrapolar seus resultados para nosso contexto, ainda que com algumas particularidades”, afirmou Cominetti.
“Nosso sistema de saúde não estará preparado para lidar com o grande número de doenças que irão surgir nesse contexto de rápido envelhecimento populacional. Considerando que o diabetes, as doenças cardiovasculares e as demências representam grandes problemas de saúde pública no mundo, e que no Brasil esses serão problemas ainda maiores por conta do cenário descrito, precisamos conhecer a relação entre essas doenças, de modo que ações de prevenção possam ser estimuladas”, concluiu com o alerta.
Fonte: Olhar Digital
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