Não há pesadelo pior para um aracnofóbico do que sonhar com aranhas. Imagine, então, pensar que elas também podem sonhar – quem sabe, até, com humanos. Uma nova pesquisa feita com aranhas saltadoras traz revelações inéditas sobre o sono desses animais e pode revelar detalhes desconhecidos sobre suas habilidades cognitivas.
Segundo o estudo, publicado no início desta semana na PNAS, que examinou os movimentos dos olhos e corpos de 34 aranhas da espécie Evarcha arcuata enquanto elas dormiam, é possível que esses aracnídeos entrem em um estado de sono semelhante ao nosso.
Isso porque elas fazem o mesmo movimento rápido dos olhos (REM) observado em humanos e outros animais vertebrados quando em sono profundo, bem como contorções e espasmos musculares que caracterizam reações do organismo enquanto o indivíduo sonha.
Uma equipe de pesquisadores liderada pela ecologista comportamental e evolutiva Daniela Roessler, da Universidade de Harvard, percebeu que essas aranhas, que são menores do que uma unha, ficam penduradas em um único fio de seda e permanecem imóveis durante toda a noite. Quer dizer, quase imóveis. Na verdade, seus corpos se contraem várias vezes seguidas, e suas pernas se enrolam no que parece ser uma postura defensiva.
Aranhas bebês são transparentes e permitem observações mais nítidas
Embora nos espécimes adultos fosse mais difícil determinar exatamente o que estava acontecendo, os corpos imaturos dos animais mais jovens são transparentes, o que ajudou a visualizar e até gravar as reações internas durante o período de inatividade noturna.
Nos primeiros dez dias de vida, as aranhas saltadoras ainda não desenvolveram pigmento no exoesqueleto que cobre suas pequenas cabeças e que é quase totalmente dedicado aos globos oculares.
“Seis olhos menores, muito sensíveis ao movimento, fornecem uma visão monocromática do mundo em 360 graus, enquanto os desproporcionais, redondos e encantadores olhos principais fornecem uma visão de alta resolução com acuidade semelhante à de um gato doméstico”, explicou à National Geographic Nate Morehouse, professor associado da Universidade de Cincinnati, nos EUA, que não participou do estudo de Roessler.
Segundo Morehouse, embora os globos oculares da aranha sejam fixos e não girem como os nossos, as retinas em formato de bumerangue se movem na parte de trás dos olhos principais, alternando seu campo de visão.
Os pesquisadores filmaram os espécimes em segmentos de quatro horas enquanto dormiam. Eles também treinaram uma rede neural para permitir que identificassem o movimento da retina nas aranhas.
As gravações não só capturaram o movimento da retina nas aranhas adormecidas, como também demonstraram que esse movimento combinava perfeitamente com as contrações corporais e o enrolamento das pernas. Cada instância observada de dobras de pernas foi associada a um ataque de movimento de retina.
Os ataques de movimento da retina foram observados, como em outros animais, ocorrendo em intervalos durante os quais as aranhas estavam paradas, e por durações que eram comparáveis com o sono REM em outros organismos.
“Este relatório fornece evidências diretas para um estado de sono REM em um invertebrado terrestre – um artrópode – com paralelos claros ao sono REM em vertebrados terrestres”, diz o artigo. “A combinação de contrações periódicas de membros e movimentos oculares durante este estado de sono, bem como o aumento da duração das crises semelhantes ao sono REM, atende aos critérios comportamentais centrais do sono REM observados em vertebrados, incluindo humanos”.
Em humanos, suspeita-se que os padrões de movimento dos olhos durante o sono REM estejam diretamente ligados à experiência visual de sonhar “semelhante a ver um filme”. Assim, o sono de uma aranha também pode incluir sonhos visuais, ou pode ter uma função relacionada com a visão.
“Embora o sono seja onipresente no reino animal, resta demonstrar se o sono semelhante ao REM é igualmente universal e como essas fases de sono podem ser expressas em espécies menos visuais”, disseram os pesquisadores no comunicado.
Será que as pequenas aranhas saltadoras sofrem de “humanofobia” e têm pesadelos sobre nós assim como quem tem aracnofobia têm sonhos perturbadores sobre elas? Isso já é quase impossível de descobrir, mas estudos como o de Roessler podem revelar coisas inimagináveis sobre o sono desses e outros animais.
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Fonte: Olhar Digital
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