Nesta sexta-feira (12), a divulgação das primeiras imagens científicas do Telescópio Espacial James Webb completa um mês. De lá para cá, o mais moderno observatório em órbita da NASA já nos apresentou uma série de novos registros, trazendo o passado do nosso universo para o presente e fornecendo aos astrofísicos um vislumbre do futuro.

Embora as primeiras imagens de observações oficiais do Webb tenham sido reveladas em 12 de julho, algumas outras capturas foram divulgadas pela agência antecipadamente, feitas durante as fases de alinhamento, calibração e comissionamento do equipamento, que duraram, juntas, em torno de cinco meses.

Tudo começou em fevereiro, com um registro “humilde”, feito enquanto o telescópio cumpria mais uma etapa da regulagem dos 18 segmentos que formam seu espelho principal. Essa imagem não poderia nos dar a mínima noção do que estaria por vir.

Empilhamento de imagens no James Webb
Capturas separadas de cada segmento do espelho principal foram reunidas em um mesmo ponto, formando a imagem única da estrela HD 84406, que fica na constelação da Ursa Maior , localizada a cerca de 241 anos-luz da Terra. Imagem: Nasa; STScI / Divulgação

Já na fase final de comissionamento, faltando pouco menos de dois meses para começar a operar efetivamente, o observatório captou uma imagem sem precedentes da Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia anã satélite da Via Láctea, localizada a 163 mil anos-luz da Terra. 

Na ocasião da divulgação do registro, o trabalho do Webb foi comparado ao do já inoperante Telescópio Espacial Spitzer – um pioneiro, na sua época, na geração de imagens de alta resolução do universo.

Uma comparação de registros da Grande Nuvem de Magalhães feitos pelo Telescópio Espacial Spitzer e pelo Telescópio Espacial James Webb. Imagens: NASA/JPL-Caltech (esquerda) e NASA/ESA/CSA/STScI (direita)

Vale lembrar que, também antes das observações oficiais, Webb fez o primeiro registro de um alvo em movimento, ao capturar a imagem do asteroide 6841 Tenzing se deslocando no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter.

E começam as observações científicas do Telescópio James Webb

Durante muitos anos, desde que o projeto foi apresentado ao mundo, as expectativas em torno da ciência que o Telescópio James Webb poderia trazer só cresciam, ainda mais diante dos constantes adiamentos da conclusão de sua construção e de seu lançamento.

Por isso, não é de se estranhar o quanto a divulgação das primeiras imagens tenha sido aplaudida e ganhado tamanha repercussão nos veículos de mídia do mundo todo. O Olhar Digital fez a transmissão em tempo real do webcast da NASA, e cada registro revelado gerava mais admiração entre os apresentadores, o astrônomo convidado e o público que estava acompanhando tudo pelo nosso canal no YouTube (você pode ver ou rever o vídeo aqui).

Naquela tão esperada manhã de terça-feira, foram mostradas quatro capturas: uma espectrografia do WASP-96 b, um exoplaneta localizado a 1.150 anos-luz da Terra; a NGC 3132, uma nebulosa planetária localizada na constelação de Vela que não para de crescer; o Quinteto de Stephan, um conjunto de cinco galáxias na constelação de Pegasus, a mais ou menos 290 milhões de anos-luz daqui; e um impressionante registro da Nebulosa de Eta Carinae, também chamada “Nebulosa de Carina”.

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A Nebulosa de Carina, recheada de estrelas ainda jovens e em formação, é permeada por radiação ultravioleta e ventos estelares que formam essa imensa parede de poeira cósmica e gases. Imagem: NASA/Divulgação

Além dessas, também foi exibida novamente a imagem do aglomerado de galáxias SMACS 0723, que a NASA havia divulgado na véspera, com a participação do presidente dos EUA, Joe Biden.

Um mês de trabalho árduo e resultados surpreendentes

Ao longo desses 30 dias que se passaram depois da grande estreia, continuamos nos surpreendendo a cada nova observação do Webb. A galáxia espiral M74, localizada a 32 milhões de anos-luz da Terra, na constelação de Peixes, foi uma das mais belas estruturas cósmicas reveladas pelo telescópio.

Esse é um dos alvos favoritos de entusiastas da astronomia devido à sua orientação: a galáxia está bem “de frente” com a Via Láctea, como se estivesse nos encarando “olho no olho”. 

Composição da galáxia em espiral NGC 628 feita pelo astrônomo Gabriel Brammer com dados do James Webb. — Foto: Composição a cores: Gabriel Brammer (Cosmic Dawn Center, Instituto Niels Bohr, Universidade de Copenhague). Dados brutos: Janice Lee et al. and the PHANGS-JWST collaboration.
Composição da galáxia em espiral NGC 628 feita pelo astrônomo Gabriel Brammer com dados do Telescópio James Webb. Créditos: Composição a cores: Gabriel Brammer (Cosmic Dawn Center, Instituto Niels Bohr, Universidade de Copenhague). Dados brutos: Janice Lee et al. and the PHANGS-JWST collaboration.

Outro registro feito por Webb que chamou muita atenção foi a detecção da morte explosiva de uma estrela, captura que pode vir a abrir uma área totalmente nova de possibilidades de pesquisa para o telescópio. Isso porque ele não foi projetado para examinar supernovas, uma vez que, embora tenha uma capacidade de visão profunda, ele rastreia áreas muito pequenas do espaço.

Dessa forma, o flagra feito na galáxia SDSS – J141930.11+5251593, que fica a cerca de 3 a 4 bilhões de anos-luz da Terra, além de imprevisível, foi de fundamental importância para os cientistas atestarem a capacidade do observatório de captar a morte de estrelas muito jovens, lá do início do universo.

A supernova é visível nas imagens captadas pelo Telescópio Espacial James Webb como um pequeno ponto brilhante à direita do grande ponto brilhante à esquerda. Imagem: NASA/ESA/CSA/STScI

Uma imagem captada por Webb aqui na nossa vizinhança também merece apontamento. Nela, vemos Júpiter, o maior planeta do sistema solar, com destaque para a famosa Grande Mancha Vermelha, um poderoso furacão que abre um redemoinho na alta atmosfera do planeta e expõe camadas inferiores de suas nuvens, com composições químicas e temperaturas diferentes, que resultam na sua cor característica.

Imagem de Júpiter captada pelo Telescópio Espacial James Webb em 27 de julho de 2022. Crédito: NASA/ESA/CSA/STScI

Há dez dias, a NASA anunciou que o Telescópio James Webb havia observado a estrela mais distante conhecida no universo, chamada Earendel, também conhecida como WHL0137-LS, localizada na constelação de Cetus, há 12,9 bilhões de anos-luz da Terra.

E quebrar recordes, pelo visto, será uma constante no trabalho do observatório. A cada novo artigo científico publicado com base nos dados coletados por ele, eventualmente surgem novas candidatas ao posto de galáxia mais distante já registrada.

WHL0137-LS ou Earendel, a estrela mais distante conhecida do universo, em uma captura do Telescópio Espacial James Webb. Imagem: NASA/ESA/CSA/STScI

Recentemente, Webb direcionou a mira para o caos da Galáxia Cartwheel, revelando novos detalhes sobre a formação de suas estrelas e de seu buraco negro central. Localizada a cerca de 500 milhões de anos-luz de distância da Terra, na constelação do Escultor, essa galáxia é extremamente rara de se observar – mais uma demonstração do potencial do telescópio.

Imagem captada pelo Telescópio James Webb mostra, em detalhes sem precedentes, como a Galáxia Cartwheel mudou ao longo de bilhões de anos. Imagem: NASA, ESA, CSA, STScI

A seleção apresentada acima é apenas uma pequena amostra dos grandes feitos do Telescópio James Webb. Isso tudo, levando-se em conta que ele só foi “efetivado” há 30 dias, após um muito bem sucedido “período de experiência”. E – para deleite de nossos olhos – está muito longe de se aposentar.

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