Pode soar estranho, mas o início ruim de Cuca no Atlético Mineiro é um bom presságio – ao menos para aqueles superticiosos, como o próprio treinador. Cuca, curiosamente, habituou torcedores e o futebol brasileiro com sua “margem de adaptação”. Dos últimos nove trabalhos que realizou no Brasil, seis deles começaram com sequências negativas, mas terminaram cumprindo ou até superando as expectativas para as quais havia sido contratado.
No atual Atlético, Cuca assumiu o cargo de treinador, que ele próprio havia abandonado ao final de 2021, no lugar de Turco Mohamed. O argentino falhou em dar continuidade no vitorioso trabalho da temporada passada.
Antes de Cuca comandar o Galo num primeiro jogo, o time já vinha em uma sequência de três jogos sem vencer. Com o treinador, passaram-se mais quatro partidas sem vitória, com dois empates e duas derrotas, além de mais importante que isso, a doída eliminação na Copa Libertadores. A sequência ingrata, enfim, terminou no final de semana, quando o Atlético voltou a vencer depois de um mês, com o triunfo por 1 a 0 sobre o Coritiba.
O Atlético, neste momento, ocupa apenas a 7ª posição do Campeonato Brasileiro, a 13 pontos de distância do líder Palmeiras e a três do G4, hoje completado pelo Fluminense. A briga pelo título está distante e parece ser fora da realidade, ainda mais no contexto em que o Verdão venceu os últimos seis jogos que disputou no Brasileiro. Mas, às vezes, a “Fórmula de Cuca” desafia a lógica, nem que neste caso seja para levar o Atlético Mineiro, ao menos, à uma vaga direta pela Copa Libertadores.
Do Milagre Tricolor aos primeiros títulos
O trabalho que alavancou a carreira de Cuca como treinador poderia ser o mesmo que sentenciou o contrário. Em 2009, Cuca já era um técnico conhecido no futebol nacional, com passagens por Botafogo, Flamengo, Grêmio e São Paulo, mas era marcado, até aquele tempo, como alguém que sofria para conquistar títulos. E não foi um troféu que mudou seu patamar.
Cuca assumiu o comando do Fluminense em setembro de 2009, numa ferrenha luta contra o rebaixamento. O Flu não vencia há cinco jogos na Série A e ocupava a lanterna da competição. De imediato, o trabalho não surtiu efeito, e aquela sequência de cinco jogos anterior à sua chegada se prolongou para oito, somando os três jogos com sua presença. O Fluminense de Cuca chegou a ter 99% de chance de rebaixamento, mas numa façanha que ficou conhecida como Milagre Tricolor, escapou do rebaixamento após engatar 11 jogos de invencibilidade.
Desde aquele trabalho no Fluminense, passaram-se outros oito no futebol brasileiro, cinco deles com um fator em comum: as derrotas. Em 2011, o treinador passou por situação bastante similar à do Tricolor, perdeu seis jogos seguidos pelo Galo, foi mantido no cargo e escapou do rebaixamento. Não foi demitido mesmo depois de perder por 6 a 1 do Cruzeiro, num jogo que poderia decretar a queda da Raposa. No ano seguinte, Cuca levou o Atlético ao vice no Brasileiro e, depois, ao título da Copa Libertadores em 2013.
O vício voltou a se repetir três anos depois, quando retornou ao Brasil após passagem pela China. O Palmeiras contratou Cuca em 2016, teve a resiliência de aceitar quatro derrotas seguidas entre Libertadores e Paulistão, e terminou como Campeão Brasileiro pela primeira vez na carreira. À época, o treinador acabou apelidado por seu estilo de jogo, o “Cucabol”.
Mais recentemente, no trabalho mais vitorioso da carreira de Cuca e da história do Atlético Mineiro, o roteiro não teve início dramático. Em 2021, Cuca iniciou na calmaria das vitórias. As dificuldades até aqui em 2022, porém, talvez façam lembrar as reviravoltas do passado. Na atual conjuntura, seria brigar contra a matemática para imaginar o Atlético brigando por qualquer coisa além de uma vaga na Libertadores. Afinal, Cuca venceu apenas um jogo. Mas, brigar com a matemática parece ser outro dos vícios de Cuca, desenvolvido desde lá em 2009…
Ano/Clube | Sequência negativa desde a estreia | Conquistas |
---|---|---|
2009/Fluminense “Milagre Tricolor” |
Quatro jogos sem vencer | Escapou do rebaixamento, mesmo com 99% de chance de queda |
2010/Cruzeiro | Estreou com vitória | Campeão Mineiro em 2011 |
2011/Atlético | Estreou com seis derrotas | Escapou do rebaixamento, foi vice-campeão Brasileiro no ano seguinte (2012) e da Libertadores em 2013 |
2016/Palmeiras | Estreou com quatro derrotas | Campeão Brasileiro |
2017/Palmeiras | Estreou com vitória |
Sem conquistas |
2018/Santos | Sem vitória nos quatro primeiros jogos |
Sem conquistas |
2019/São Paulo | Sem vitória nos três primeiros jogos | Sem conquistas |
2020/Santos | Sem vitória nos dois primeiros jogos | Finalista da Libertadores |
2021/Atlético | Estreou com vitória | Campeão Mineiro, da Copa do Brasil e Brasileiro |
“Milagre Tricolor”
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Fonte: Ogol
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