Bloco atingiu a maior inflação em 40 anos e enfrenta a pior greve dos trabalhadores em três décadas; saída do Brexit não trouxe benefícios para economia
O Reino Unido atingiu nesta semana o maior patamar de inflação em 40 anos. O país alcançou 10,1% em ritmo anual em julho, informou o Escritório Nacional de Estatística (ONS, na sigla em inglês). A leitura ficou acima das previsões de economistas consultados em uma pesquisa da Reuters, que esperavam que a inflação chegasse 9,8% no sétimo mês do ano. Para além desse resultado negativo, o país também se vê diante de outros problemas, como a maior greve por reajustes salariais em 35 anos, um movimento que começou em junho e envolve os setores de transportes, correio e portos. Na sexta-feira, 19, os protestos contra a inflação elevada no Reino Unido paralisaram quase todos os transportes públicos na capital, Londres. Tudo isso acontece há poucos dias de eleger o novo primeiro-ministro, que vai substituir Boris Johnson, que renunciou ao cargo no começo de julho após vários escândalos envolvendo seu governo e a debandada de funcionários do alto escalão. O sucessor de Johnson será anunciado em 5 de setembro, e dois nomes disputam a posição: Rishi Sunak, ex-ministro das Finanças, e Liz Truss, ministra das Relações Exteriores. Quem vencer, terá um grande desafio pela frente.
Especialistas apontam que existem razões por trás desses eventos negativos que o Reino Unido tem apresentado. “Cada vez mais as nações, a gestão do governo e os Estados nacionais estão passando por um processo de complexificação”, explica Eduardo Fayet, professor de Relações Institucionais e Governamentais na Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Isso quer dizer que as economias das cidades estão mais complexas”, segue. Em outras palavras, quando esse fator se junta às guerras, aos conflitos internos, às relações multilaterais e bilaterais, há impacto na inflação e no processo de cadeia produtivas, por exemplo. O professor explica que o aumento do preço dos alimentos, em função de mudanças climáticas e nova reorganização na questão de alimentos, combustíveis e energia na Europa são fatores que já tinham impactado na inflação britânica antes da guerra – o conflito no Leste Europeu envolvendo Rússia e Ucrânia só piorou a situação. “Os alimentos subiram em particular, especialmente produtos de padaria, laticínios, carne e legumes”, explicou Grant Fitzner, economista-chefe do ONS, no Twitter. A alta de preços pode superar 13% em outubro, quando estão previstos aumentos drásticos dos preços da energia, segundo as previsões do Banco da Inglaterra. Em julho, por causa da inflação, a rede de fast food McDonald’s anunciou que iria aumentar o preço do cheesburguer em 20%, o primeiro aumento em 14 anos. “Estamos vivendo tempos incrivelmente desafiadores”, informou o CEO da empresa, Alistair Macrow. Não foi só essa popular lanchonete que passou a reconsiderar sua atuação no Reino Unido. De acordo com o jornal Times, a Starbucks cogitou vender suas operações na região.
Não é só o Reino Unido que está enfrentando alta na inflação. Toda a Europa e o mundo estão sendo afetados por causa da guerra entre a Rússia e Ucrânia e as mudanças climáticas. Contudo, dois fatores fazem com que existam sinais que apontem que ele continuará lutando contra a inflação crescente por mais tempo do que outros, já que enfrenta uma crise do custo de vida, com salários que não acompanham a inflação. Primeiro, porque a “inflação britânica é de oferta, e ela é gerada pela falta de produto e oferta de produto de forma competitiva”, explica Fayet. Igor Lucena, economista e Doutor em Relações Internacionais, atrela parte do problema do Reino Unido ao Brexit, ou seja, a saída da nação da União Europeia. “Quando ele sai, passa a não fazer parte do mercado comum”, explica. Com isso, passa a ter restrição de trabalhadores estrangeiros, o que ocasiona a falta de funcionários e “eleva os preços de mão de obras e insumos que eram trazidos da União Europeia para o Reino Unido”. Para ele, isso fez com que a inflação “tivesse impacto antes de qualquer crise pandemia e o conflito na Ucrânia”. Ao ter se isolado, explica o especialista, o país perdeu qualquer tipo de apoio ou valores subsidiados da União Europeia, ocasionando custos maiores, o que faz com que, de fato, o Reino Unido tenha uma inflação ainda maior que outros países do G7.
Para os especialistas, uma forma da nação melhorar a situação econômica é apostar no “reestabelecimento do fornecimento e da oferta”, explica Eduardo Fayet. Entretanto, para isso, vai ser necessário “identificar outras fronteiras para ofertar e, para reduzir, vai ter que reestabelecer um conjunto de reorganização nas cadeias produtivas”. Lucena diz que a solução é apostar no “aumento da taxa de juros, receita clássica de macroeconomia”, mesmo que isso diminua a “atividade econômica e poder prejudicar o nível de emprego”. Ele também fala em avanços nas negociações com outros países em que produtos econômicos possam entrar com menos imposto no Reino Unido e ajudar os produtos nacionais a terem menor reajuste de preço. O doutor em Relações Internacionais diz, ainda, que a nação vem cometendo um erro do ponto de vista de geoeconomia e de participação na economia global. “O fato deles não terem aderido ao euro diminui a capacidade de exportação. A libra era forte, mas está caindo em desuso e, até agora, a saída do Brexit não mostrou beneficio para economia. Apesar de já ter sido a principal potência global, perdeu espaço para os EUA e abandonou um dos principais projetos que embasaria sua formação na geopolítica mundial que era a União Europeia” explica, acrescentando que eles precisam “repensar seu papel no mundo”. Para ajudar a população a saber a taxa de inflação, o Escritório Nacional de Estatística (ONS), disponibilizou um guia para que as pessoas possam saber como estão sendo afetados pelas mudanças econômicas.
We’ve updated our calculator which estimates a personal inflation rate based on what your household spends money on.
How is inflation affecting your household costs? 📈
Explore your personal inflation rate ⬇️
— Office for National Statistics (ONS) (@ONS) August 17, 2022
No dia 5 de setembro, o Reino Unido vai conhecer o seu próximo premiê. O ex-ministro das Finanças Rishi Sunak e a ministra das Relações Exteriores, Liz Truss, estão na fase final da corrida para suceder o ex-primeiro-ministro Boris Johnson. Os finalistas disputarão os votos por correspondência dos 200 mil membros do Partido Conservador. “A questão econômica impacta no processo de escolha e na manutenção do partido conservador inglês”, diz Eduardo Fayet, acrescentando que esse será o desafio mais importante que o novo primeiro-ministro vai enfrentar. Lucena, por sua vez, destaca que os dois candidatos fizeram parte do governo de Boris Johnson. Por essa razão, os dois candidatos também são responsáveis “por toda a situação do Reino Unido”. Mas, adianta que “o impacto negativo talvez recaia mais sobre Sunak, porque ele era o ministro da Economia. Entretanto, outros problemas também vão se fazer presentes, como a possível unificação das Irlandas, que continuam na União Europeia, a necessidade de estabelecer como vai ser o fluxo de pessoas e de mercadorias entre a Irlanda do Norte e Irlanda do Sul e lidar com o novo referendo de independência da Escócia.
We’ve updated our calculator which estimates a personal inflation rate based on what your household spends money on.
How is inflation affecting your household costs? 📈
Explore your personal inflation rate ⬇️
— Office for National Statistics (ONS) (@ONS) August 17, 2022
Fonte: Jovem Pan News
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