Sexta-feira, Novembro 22, 2024
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Guerra na Ucrânia completa seis meses e país vive momento crucial para manter independência

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Ucranianos celebram 31º aniversário da separação da União Soviética e mostram resistência maior do que a Rússia poderia esperar; ‘Lutaremos até o fim’, afirma Zelensky

A invasão da Rússia à Ucrânia chega a seu sexto mês, coincidentemente no dia em que o país celebra o 31º aniversário de independência. As comemorações desta data foram canceladas por precaução. Os Estados Unidos e o presidente Volodymyr Zelensky temiam que as tropas de Vladimir Putin usassem a data comemorativa para intensificar os ataques, principalmente porque a tensão entre os países aumentou desde a morte de Daria Dugyna, filha de um guru do líder russo. A Rússia culpa a Ucrânia pelo ataque, que nega ter envolvimento. Desde o dia 24 de fevereiro, os ucranianos lutam para defender sua soberania, conquistada em 1991 após a queda da União Soviética (URSS). Nesta quarta-feira, 24, em mensagem no Dia da Independência, Zelensky afirmou que seu país vai resistir à invasão até o fim. “Não nos importamos com o exército que vocês têm, só nos importamos com nossa terra. Lutaremos por ela até o fim”, declarou em um vídeo divulgado para marcar os 31 anos de independência do país. “Permanecemos firmes há seis meses. É difícil, mas cerramos os punhos e estamos lutando pelo nosso destino”, acrescentou. “Para nós, a Ucrânia é toda a Ucrânia. Todas as 25 regiões, sem qualquer concessão ou compromisso”.

Para o cientista político do Insper Leandro Consentino, essa guerra é fundamental para o Estado ucraniano para ver se eles conseguem conservar sua soberania diante da investida russa. “O futuro vai depender desta guerra. Se a Ucrânia ceder, pode deixar de ser um Estado ou perder o poder sobre determinadas regiões”, contudo, se continuar resistindo como tem feito até agora, pode assegurar a continuidade da sua integridade territorial. “É um momento de clivagem fundamental e um ponto de não retorno para o Estado ucraniano”, acrescenta. Bernardo Wahl, professor de Segurança Internacional da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), fala que a data de hoje é um “motivador simbólico para o país continuar combatendo o agressor russo em uma guerra que os ucranianos percebem como sendo existencial”. 

Pessoas observam equipamentos militares russos destruídos na rua Khreshchatyk em Kyiv, que foi transformado em um museu militar ao ar livre antes do Dia da Independência da Ucrânia │Dimitar DILKOFF / AFP

Nas primeiras horas de quarta-feira, cidades como Kharkiv, Zaporizhzhia e Dnipro foram atingidas por explosões, informaram as autoridades locais. A Rússia continua atacando com frequência as cidades ucranianas com mísseis de longo alcance, mas raramente atinge Kiev e seus arredores – local de onde Vladimir Putin retirou suas tropas em março, quando não conseguiu tomar a capital em poucos dias como achou que iria acontecer. Essa resistência ucraniana é um ponto de destaque, pois muito se dizia que a guerra acabaria em poucos dias porque as tropas russas são mais fortes que as ucranianas. Contudo, isso não aconteceu. “Inicialmente, esperava-se que uma grande potência como a Rússia poderia ter imposto sua vontade à Ucrânia sem muitas dificuldades”, diz Wahl. Consentino complementa dizendo que este é um conflito que “os ucranianos mostraram uma resistência maior do que a Rússia poderia esperar”, pois “para os russos, aquilo era apenas um passeio e se converteu em uma aventura incerta, uma dificuldade muito grande”. Porém, essa força e resistência não seria possível sem ajuda do Ocidente, que tem sido fundamental. “Kiev conta com o apoio do mundo ocidental, auxílio sem o qual talvez o ânimo ucraniano não tivesse durado muito tempo”, fala Wahl. “É muito difícil imaginar que a Ucrânia resista sem essa ajuda, por isso esse é um ponto central nessa disputa e nessa guerra”, pontua Consentino.

Diante desses seis meses de conflito, os especialistas dizem que a mensagem fundamental do conflito russo-ucraniano é que ele deveria ter um desfecho muito mais rápido do que realmente teve, mas a “resistência é uma sinalização muito importante do ponto de vista territorial e soberano”, diz o cientista político do Insper. “Os seis meses de guerra revelam que nenhuma das partes está disposta a fazer concessões e ambos países lutarão até onde for possível para fazer valer a sua vontade”, fala Wahl, complementando que não há “uma solução fácil para esse problema”. As negociações entre os países estão paralisadas desde março, e não há indícios que deve ser retomada e muito menos que o conflito esteja perto do fim. Em entrevista à Jovem Pan, ex-embaixador da Ucrânia no Brasil, Rostyslav Tronenko, afirmou que “os ucranianos não estão prontos para negociar com um Estado terrorista, que usa chantagem nuclear”. A referência é sobre Zaporizhzhia, a maior usina nuclear da Europa, que está sendo o novo foco do conflito e acende um alerta no mundo devido ao risco de explosão. “Não estamos prontos para negociar a nossa rendição incondicional”, declarou Tronenko.

Manifestante segura cartaz durante uma reunião de ucranianos e apoiadores para marcar o Dia da Bandeira Nacional da Ucrânia em meio à invasão do país pela Rússia │Denis LOVROVIC / AFP

Apesar do temor nuclear, tanto o cientista político Leandro Consentino como o professor de Segurança Internacional da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) Bernardo Wahl, dizem que as chances de um conflito nuclear são baixas. “É remoto se pensarmos em uma guerra ampla nuclear, é mais provável se pensarmos em uma guerra nuclear, se existir, que seja de bombas localizadas”, diz Consentino. “Uma guerra nuclear poderia significar a destruição mútua assegurada. Até se chegar a uma guerra nuclear propriamente dita, muitas etapas de guerra precisariam ser cumpridas”, explica Wahl. Segundo ele, os países possuem armas nucleares para fins de dissuasão, e desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) as armas nucleares nunca mais foram usadas na guerra, tornando-se uma espécie de tabu. Apesar da Rússia ter escalado a retórica nuclear no início da guerra, “é improvável que ela venha a usar armas nucleares”, porém, alerta que por mais que as chances sejam mínimas, o “fato de ser improvável não significa impossível”, pois existem estudos que analisam os cenários de escalada na guerra russo-ucraniana que poderiam levar ao uso de armas nucleares. Apesar de ser complicado prever o desfecho da guerra, os especialistas listam alguns cenários: vitória ucraniana com ajuda do Ocidente, por mais que seja pouco provável; Rússia vencendo e ficando com a Crimeia e a região de Donbass; e estagnação do conflito, algo como vietna-russo, em que as tropas de Putin não deixam a Ucrânia, mas também não conseguem avançar. Independente de qual for o cenário vencedor, Wahl afirma que é “improvável que a Ucrânia deixe de existir enquanto país independente”, porque “não parece isso que a Rússia busca com a guerra”. Mas ele adianta que “qualquer que seja o desfecho do enfrentamento bélico, a Ucrânia terá que se reconstruir enquanto país”.

Fonte: Jovem Pan News

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