De acordo com neurobiólogos da Northwestern University, em Evanston, cidade de Illinois (EUA), temperaturas mais quentes podem afetar tanto o nosso comportamento, prejudicando nossa energia e qualidade do sono, quanto os das moscas de fruta, que tem o hábito até de descansar em dias de calor intenso, mesmo que isso não faça parte de sua cultura. 

Publicado na revista Current Biology, o artigo explicou que nossa anatomia e fisiologia relacionadas tornam as moscas ideais para projetar experimentos “de importância tanto para animais quanto para humanos”. De acordo com o autor principal, Dr. Marco Gallio, ao Medical News Today, as moscas de fruta estão ganhando força nas pesquisas porque mostram uma série de comportamentos complexos similares aos das pessoas.  

Para quem não sabia, 60% dos genes dos insetos são os mesmos dos humanos, o que fez com que os cientistas escolhessem a mosca – também devido outros comportamentos, como o do cochilo durante o dia e delas preferirem níveis de temperaturas iguais a dos humanos – para entender e comparar as bases genéticas que influenciam as adaptações do corpo ao clima. 

Imagem: fizkes/shutterstock

“As pessoas podem escolher tirar uma soneca à tarde em um dia quente, e em algumas partes do mundo isso é uma norma cultural, mas o que você escolhe e o que está programado em você? Claro, não é cultura em moscas, então, na verdade, pode haver um mecanismo biológico subjacente muito forte que é negligenciado em humanos”, disse Gallio, que é professor associado de neurobiologia no Weinberg College of Arts and Sciences da Northwestern University. 

Resultados: as moscas e seus neurônios 

Os resultados apontaram que as antenas da mosca servem como termômetro, bem como neurônios “receptores de calor absolutos” que fazem parte de uma rede mais ampla e que também controla o sono – o que explica a ação da mosca de descansar em horários mais quentes. O estudo é o primeiro a detectar esses neurônios e sugere que um processo parecido ocorre em humanos

“Identificamos um neurônio que poderia ser um local de integração para os efeitos de temperaturas quentes e frias no sono e na atividade em Drosophila [espécie de mosca]. Este seria o início de estudos de acompanhamento interessantes”, disse Michael Alpert, também autor do estudo. 

O processo ocorre assim: quando o circuito quente é ativado por temperaturas acima de 77 graus Fahrenheit, as células que desencadeiam o sono permanecem por mais tempo em ação. Isso leva a um sono mais longo, o que ajuda as moscas a evitar o movimento durante a parte mais quente do dia. É um processo inteligente, já que poupa energia, e biológico. 

Humanos e a insônia nos dias mais quentes 

Apesar do estudo relacionar os dias quentes com o cansaço e a vontade de um cochilo entre moscas e humanos, há limitações. A pesquisa mostra que as moscas têm certa facilidade para dormir no calor, por ser algo sistêmico, porém, seres humanos sentem dificuldade em adormecer nas noites mais quentes, dormindo melhor e mais rápido em dias frios. O artigo não considerou as diferenças, mas pretende continuar as análises. 

Pandemia aumenta insônia de profissionais de saúde
Imagem: Tero Vesalainen (iStock)

“A temperatura é um gatilho tão poderoso da organização do sono e da profundidade do sono quanto a luz. Para você adormecer e continuar dormindo, seu corpo precisa diminuir sua temperatura central em cerca de um grau Celsius ou cerca de dois graus Fahrenheit. Essa é a razão pela qual você sempre achará mais fácil adormecer em um quarto muito frio do que muito quente, porque o quarto muito frio está pelo menos levando você na direção térmica certa para um bom sono”, explicou o Dr. Matthew Walker, professor de neurociência e psicologia na Universidade da Califórnia, ao MNT. Ele não esteve envolvido neste estudo. 

Dr. Gallio enfatizou que seu trabalho visava descobrir os “princípios básicos” que orientam como a temperatura afeta o comportamento e o sono. Para ele, o estudo pode inspirar outros a levar a pesquisa adiante, eventualmente para investigações humanas, abrindo portas, por exemplo, para determinar circuitos sensoriais específicos no cérebro humano relacionados ao sono, ou ainda considerar os efeitos das mudanças climáticas no comportamento e na fisiologia da população. 

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