Especialista analisou o impacto do ex-líder soviético na reestruturação do Leste Europeu e como ele se opõe ideologicamente ao atual comandante russo
A morte do ex-líder soviético Mikhail Gorbachev, aos 91 anos, repercutiu no mundo inteiro e para analisar a importância desta figura histórica para o fim da União Soviética e reorganização do Leste Europeu, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o analista de geopolítica do Instituto Civitas, coronel Gerson Gomes. O especialista traçou paralelos entre o ex-chefe de estado e o Vladimir Putin e declarou que o presidente russo seria uma espécie de ‘antítese’ de Gorbachev: “Para Putin, toda a política externa que ele desenvolve há alguns anos de alguma forma é uma antítese, ou uma tentativa de apagar o legado de Gorbachev. Temos no mundo várias homenagens a Gorbachev acontecendo, mas é importante entendermos que quando Putin era tenente-coronel da KGB, ele estava em Berlim no momento em que o muro cai. A frustração que ele leva daquele primeiro momento, e toda a experiência política depois dele nos primeiros anos do Gorbachev o marcaram indelevelmente. Isso teve reflexos em toda a sua vida política e, de certa forma, quando olhamos o contexto e a conjuntura internacional, percebemos que há uma tensão entre o legado de Gorbachev e as políticas externas de Putin”.
O analista geopolítico também detalhou o processo de abertura da URSS ao mundo. Na época, as economias tanto dos Estados Unidos quanto da Europa viviam um momento de expansão. Para não ficar para trás, Gorbachev iniciou uma política de aproximação externa, ao mesmo tempo realizava reformas internas. Entre elas a Perestroika e Glasnot, que significam reestruturação e transparência, respectivamente: O Gorbachev, para o Ocidente e para o restante do mundo, foi um vencedor, ganhador do prêmio Nobel, teve toda uma atividade, mesmo depois que deixa o comando da União Soviética, de muitos anos na política internacional. No entanto, é importante lembrarmos que quando ele toma a iniciativa junto com o governo Norte-Americano, que foi uma ruptura com uma ordem mundial que era bipolar e a gente sai da Guerra Fria, isso é feito com um acordo e por mediação do presidente mais importante nesse processo, que é o Ronald Reagan. O Reagan estava no segundo mandato quando ele articula e faz o famoso discurso no muro de Berlim em que ele convoca Gorbachev a derrubar o muro. No final de 87, o vice dele, o George Bush pai, assume”.
“Quando observamos o muro de Berlim caindo em 89, já havia toda uma política interna sendo conduzida pelo Gorbachev em direção à Glasnost, que é uma forma de distensionar o ambiente político interno, a própria censura muito forte. E também uma reestruturação do país no campo econômico”, conta Gomes. Entre as principais medidas tomadas para renovar a URSS estavam a anistia aos presos políticos; acabar com os Gulags (onde os detentos eram punidos com trabalhos forçados, torturas físicas e psicológicas); fim da censura aos jornais e a artistas; fim do sistema de partido único; e criação de um sistema eleitoral onde os cidadãos votavam. No entanto, em 1991, Gorbachev renuncia ao cargo de secretário-geral da URSS para evitar uma guerra civil.
A morte do mundo bipolar frente à vitória simbólica do Ocidente no fim da Guerra Fria, de acordo com o analista geopolítico, viria a originar o ressentimento russo, representado na figura de Vladimir Putin: “Gorbachev, na realidade, deixa o comando da União Soviética com um tratado e assina o processo de independência da Bielorrússia e da Ucrânia. Essa é a conexão com o momento atual. Porque quando ele toma essa decisão, na realidade ele está assinando o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. E nesse momento ascende Boris Iéltsin, que se antepõe a um golpe militar que tentava resistir a essa desestruturação. E logo depois vamos observar a ascensão de Putin. De Putin até os nossos dias, o que nós observamos é uma Rússia cada vez mais ressentida do avanço da OTAN e Putin hoje tem uma política externa de contraponto e discussão interna sobre esse legado do Gorbachev. Existe essa dicotomia, da nossa perspectiva ocidental com a perspectiva russa, do que foi esse processo de desmantelamento da União Soviética”.
Fonte: Jovem Pan News
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