Na busca incessante por vida alienígena, pesquisadores insistem no potencial de Marte como um mundo capaz de suportá-la, mesmo que em formas provavelmente desconhecidas. Isso porque o planeta já deu vários indícios de que, se não agora, pelo menos no passado pode ter abrigado micróbios que teriam deixado marcas por lá.
Em janeiro deste ano, por exemplo, um anúncio animou a comunidade científica nesse sentido: o rover Curiosity, da NASA, identificou uma mistura de isótopos de carbono em rochas na cratera Gale que, aqui na Terra, indicaria um sinal de vida.
Há 10 anos em atividade no Planeta Vermelho, o motorcraft também já encontrou picos aleatórios e sazonais de metano, um gás produzido por aqui predominantemente por atividade biológica.
A cerca de 3,7 mil km de distância da área de estudo do Curiosity, o rover Perseverance, também projetado e gerenciado pela agência espacial norte-americana, identificou misteriosas camadas em tons de roxo nas rochas no fundo da cratera Jezero, seu local de pouso. Na Terra, o verniz do deserto, produzido por microrganismos, se apresenta de forma bastante semelhante.
No entanto, nada disso é suficiente para os cientistas determinarem se Marte já foi habitado em algum momento. Afinal, quase todos os possíveis sinais de atividade biológica também podem ser explicados por algum processo geológico ou químico ainda desconhecido existente no nosso vizinho.
Isso quer dizer que fenômenos não biológicos podem ser “pegadinhas”, que “tapeiam” os cientistas de duas formas: confundindo os pesquisadores ou mesmo mascarando verdadeiros sinais da vida.
“É um planeta diferente do nosso e talvez existam mecanismos nem sequer cogitados por nós”, disse Abigail Fraeman, cientista adjunta do projeto Curiosity, do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA.
O próximo passo é trazer amostras de Marte para serem examinadas em laboratórios na Terra, por instrumentos sofisticados capazes de encontrar respostas para uma das perguntas mais antigas da humanidade: existe vida fora do nosso mundo?
O primeiro conjunto de amostras coletado pelo rover Perseverance será enviado para cá por meio da missão Mars Sample Return, uma parceria entre a NASA e a Agência Espacial Europeia (ESA).
Esse material pode conter evidências de que microrganismos viveram na cratera Jezero há bilhões de anos – ou não (o que nós só vamos saber depois de 2033, que é quando as agências estimam conseguir trazer as amostras).
Qualquer que seja a conclusão, os cientistas acreditam que algo profundo sobre as origens da vida em nosso próprio planeta pode ser revelado. “Há muito em comum na história antiga de ambos os planetas, e é bastante intrigante que, durante suas evoluções planetárias, tenham se afastado tanto”, declarou à National Geographic a astrobióloga Amy Williams, da Universidade da Flórida. “Se não houver vida em Marte, quais são as razões disso? O que houve de diferente na Terra? O que será que aconteceu? Por que não surgiu vida em Marte? E se surgiu, o que houve com ela?”.
São muitas perguntas, e todos anseiam pelas respostas. Agora, fica um outro questionamento: estamos preparados para descobrir que, sim, já houve vida em Marte? Mais do que isso: e se o planeta ainda for habitado? A transferência dessas amostras para a Terra pode trazer consequências?
NASA está preocupada que amostras de Marte possam infectar a Terra
Conforme abordado pelo Olhar Digital há alguns dias, essa é uma profunda preocupação da NASA – não por haver grandes chances de desencadear uma terrível praga marciana na Terra, mas porque, mesmo que isso seja extremamente improvável, vale a pena tomar medidas cautelares sérias.
Muitos laboratórios foram visitados pela agência ao redor do mundo, mas a questão central é que alguns são projetados para proteger o que está dentro deles da contaminação externa, enquanto outros são construídos para o contrário: proteger as coisas do lado de fora daquilo que estiver em seu interior.
O problema é que a NASA precisará de ambos – tanto para garantir que as amostras de Marte não contaminem a Terra quanto para ter certeza de que nada daqui vai afetar o material interplanetário.
Em outras palavras, a agência precisará adaptar as capacidades atuais de um laboratório ou construir algo totalmente novo, que pode ser um laboratório modular em um prédio já existente. Qualquer que seja a decisão, o foco está na necessidade de proteger os quase 8 bilhões de habitantes da Terra de uma, quem sabe, “pandemia marciana”.
Fonte: Olhar Digital
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